sexta-feira, 26 de junho de 2009

Não haverá outro

Michael Jackson (1958-2009)

O ‘meu’ Michael Jackson nunca poderia ser o do Thriller. Ainda não tinha nascido em 1982. A canção, o disco, o vídeo, e o que isso representou para os fãs, indústria musical, MTV – tudo -, só me chegou bem depois. E o sorriso e voz angelicais. Sem descanso. Límpidos. Perfeitos. Nos Jackson 5. Na Motown. O prodígio de ‘ABC’ e ‘I Want You Back’ . E o pai de cinto na mão nos ensaios. Era, portanto, o Jackson branco, já, embora não ainda albino, quem primeiro conheci. Havia lá por casa a k7 do Bad (1987), que o meu irmão tinha comprado. Ouvi-a já no virar da década. Talvez depois do Dangerous (1991). No primeiro ano do ciclo. Ou no segundo.

Quantas vezes a tentar imitar aqueles passos de dança colossais, nunca antes vistos, em frente ao espelho? Quantas vezes a rodar o corpo 360 graus sobre o pé direito e finalizar com um guincho solto de mão direita no ventre e a esquerda semi-aberta em concha, junto ao ouvido? Quantas vezes a tentar deslizar de costas em frente ao espelho, sem sair do sitio? O mundo pergunta: que raio se passou entre o Thriller e o Bad? Negro na capa do primeiro, branco na do segundo. Aqui luminoso, ali inexpressivo. A mudar de cor. E a pele a ressentir-se. Jackson anunciou na época ter contraido vitiligo – doença que provoca a perda da pigmentação da pele. Terá sido mesmo assim? Estarei a ser injusto quando me interrogo se, como mais tarde cantaria, It don't matter if you’re black or white, mesmo, ou, afinal, carregava ele próprio o mais visível preconceito racial alguma vez visto?

Que raio se passou entre o Thriller e o Bad?, cinco anos e uma estrela no passeio da fama de Hollywood depois. Como se desenhou aquele sorriso triste? A expressão magoada? O cadáver translúcido? Bizarro? E o filho - um filho, que de duas mulheres teve três - agitado à janela demasiado alta de um hotel? Quase a cair? Os olhos esbugalhados? O nariz desfeito e refeito e desfeito e para sempre assim, por muito que o refizesse? Pedófilo? Absolvido. Nada se provou. Luvas brancas. Máscara. Chapéu. De chuva. Óculos de sol. Sem sol. Morreu aos 50 anos, com quase 50 anos de carreira, o menino que nunca teve tempo de o ser. Que nunca foi ao supermercado sem ser perseguido. Que nunca assentou o pé na terra. Que viveu sempre na (e da) fantasia. Na Terra do Nunca. Peter Pan por cumprir. Morre um dos heróis da minha geração. Já não sobram muitos. Capítulo fechado: excentricidades à parte, recuperemos o seu legado artístico, que não tem igual neste tempo.


(primeiro moonwalk na festa dos 25 anos da Motown)

1 comentário:

Pão-de-ló disse...

Muito bem Rui ... Muito bem :)