sábado, 12 de novembro de 2011

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Não tenho motivos para voltar aqui, disse-lhe, crua, nua, enquanto se dobrava para apanhar do chão o que horas antes foi deixando pelo caminho, com ajuda, não tenho motivos para trocar um amor que sufoca, maior que a vida, impossível, por outro de conveniência, dentro do contexto, correcto, não tenho motivos para achar que isto é melhor do que aquilo, não tenho motivos para voltar aqui, repetiu para si própria, pé ante pé do quarto para o corredor, escadas, rua e metro, incapaz de devolver o sorriso a uma idosa que se sentava ali em frente de mão protegida pela do marido – imaginou 50 anos de amor -, não tenho motivos para achar que isto é melhor, sussurrou ao espelho, assustando-se com a maquilhagem, não tenho motivos para não gostar de mim, mas não gosto, aceitou, não tenho motivos para não gostar de mim e não tenho motivos para não gostar dos outros – não podes gostar dos outros se não gostas de ti -, não tenho motivos para ser como sou, reflectiu na almofada, não tenho motivos para reduzir a conveniência e correcção o que é meu, real, sonhou, não tenho motivos para querer como prioridade quem me vê como alternativa, apercebeu-se, de manhã, à janela, mordendo meio lábio, tenho motivos para voltar, disse.

4 comentários:

Unknown disse...

tshhhhh

Mars disse...

Não é preciso motivo para aquilo que tem que ser...
Gostei;)

Rui Coelho disse...

c'est ça - o que tem de ser tem muita força, toda.

Mars disse...

Sem duvida...