sábado, 15 de novembro de 2014

rio Arade 1-0 rio Tejo

Virámos costas a Lisboa a meio da tarde e fomos para a chuva de Alcochete. A primeira paragem foi num café que tinha o dono e amigos à porta. Pedimos dois moscatéis com gelo, que bebemos sem pressa. O dono e os amigos entraram para fazer ambiente. Um passarinho cantava o tempo inteiro numa gaiola ao pé da casa de banho dos homens. 

Achei piada ao passarinho; já a Fátima achou que tinha ganho uma dor de cabeça. Saímos sem pagar, por insistência do dono, que não tinha troco de dez euros.

Fome era coisa que não nos faltava, e uma boa dose de chuva grossa empurrou-nos para a "Taverna". Tivemos sorte. Comemos ali o melhor pica-pau das nossas vidas. "O segredo está na confecção", atirou a cozinheira, conservando o segredo como tal. Melhor do que aquele petisco só mesmo a notícia do nascimento do Gonçalinho, o novo primo da Fátima, o novo Felício. Entrámos na igreja Matriz e a Fátima piscou o olho a quem de direito.

Com o apetite já aberto ainda passámos por um bar, o "Riskbar", seis da tarde como se fosse meia noite, e de seguida fomos jantar. Queríamos peixe, e na vila incentivaram-nos a experimentar o "Alcochetano". Assim fizemos. Mal passámos a porta demos com um rapaz mais ou menos da nossa idade: tinha a cabeça rapada, dois ferros redondos cravados nas orelhas, a barba do Edward Norton no América Proibida e uma t-shirt preta com um cão nervoso açaimado. Pareceu-me ser o filho do dono.

Perguntei-lhe se iam passar o Portugal vs. Arménia na televisão. Disse que podia ser, mas lamentou a coisa: estava a ver o Braveheart e, de qualquer forma, não ligava nada a futebol, muito menos à Selecção.

Perguntou-me se gostava do Braveheart; disse-lhe que sim. Depois perguntou-me se gostava de filmes épicos; disse-lhe que mais ou menos. Por fim perguntou-me se éramos do Benfica; respondi-lhe que a Fátima sim, mas eu não, era do Sporting, o que levou o sósia do Edward Norton no América Proibida a questionar se eu teria sofrido algum trauma de infância.

Devolvi-lhe a simpatia com o mesmo tipo de francês, mas depois fitei a t-shirt preta do cão nervoso açaimado e fiz o pedido com a minha melhor cara: linguado para a Fátima; salmonetes para mim; branco da casa.

Dei a provar à Fátima os meus salmonetes. Ela disse que lhe sabiam a camarão e afirmou, que "belos salmonetes, Rui!". Corei. 

Entretanto o rapaz da t-shirt preta do cão nervoso açaimado lá se lembrou de mudar de canal aos dez minutos de jogo, curiosamente logo a seguir a ter perdido uma mesa de gente que preferia ver a bola a gramar escoceses a mostrar o rabo a ingleses. Esteve algum tempo a fazer-nos companhia, o sósia do Edward Norton no América Proibida. Antes de terminarmos rosnou qualquer coisa sobre os Nome Name Boys que não percebi; indignado, também se queixou de um polícia que uma vez o tratou como um criminoso só porque circulava em excesso de velocidade. Pedimos a conta, desta vez pagámos, cumprimentámos toda a gente que lá trabalhava, especialmente o rapaz que não gostava de futebol, muito menos da Selecção, e voltávamos à selva. 

Seis horas antes, ao estacionarmos em Alcochete mesmo junto ao estuário, fiz ver à Fátima que aquela vista sobre o Tejo era a vista perfeita, com Lisboa lá longe; não a convenci e levei com uma resposta à moda de Santana de Cambas.

"O rio Arade é mais bonito. Quando estou na Mexilhoeira da Carregação e olho para Portimão, é mais bonito."

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Farsas

La Dolce Vita, Fellini

A doce vida do Marcello, cheia de álcool, mulheres, mentiras, luxo, nada. Como um vintém é um vintém, uma boa farsa é uma boa farsa. Contem comigo para essas. As outras não.