"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars." J. Kerouac
sábado, 25 de janeiro de 2014
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Sou um verme
À ameaça de um espirro escondi a cara nas mãos, e quando me recompus percebi que as tinha deixado num estado lastimável. Olhei em volta, desconfiado. “Ah, parece que ninguém reparou, fixe”. Fiquei ali a fingir que fazia qualquer coisa, como se nada fosse – muito era, acreditem -, e depois fugi para a casa de banho. Estava já a poucos metros da porta do boneco com calças, descansado por manter a dignidade intacta, quando saiu disparada uma colega de trabalho pela porta do boneco com saia. Entrei em pânico. Temi o pior. Depois acalmei-me: afinal, compreendi, este era um daqueles momentos que fazem de um homem aquilo que ele É. A primeira tentação foi meter cara feia e fitar o chão para evitar qualquer hipótese de contacto físico, que toda a gente tem um dia mau e até tem chovido e tudo isso, mas ela não me deu saída porque me mostrou logo os dentes e pediu um “áifáive”. Não tive alternativa: deixei-a de mão pendurada. De seguida foi vê-la afastar-se, acusando-me de ser um verme, à maneira dela - “que falta de chá!” -, ao mesmo tempo que as palavras se atropelaram na minha boca sem que tenha dito porra nenhuma.
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