domingo, 19 de fevereiro de 2012

Pop. Popular. Do povo. Nosso.

Toda a gente adora odiar os U2. Até eu, cuja relação com a música deles não pende para extremo algum, sou bem capaz de já ter soltado em público um “U2? Pff...”. Toda a gente quer dizer: toda a gente que gosta da noite de Lisboa e nunca foi ao BBC. A estratégia entre aqueles que adoram odiar os U2 é ser convincente na primeira reacção. Argumentos: pouca fala e muito desdém. A mensagem subliminar torna-se evidente: “nem vale a pena começares a falar sobre eles”. Este método, também conhecido por “fuga para a frente”, tem o mérito de desencorajar o fã de U2 e, assim, evitar perguntas incómodas que possam denunciar o que afinal se passa: o histérico” anti U2” percebe tanto de U2 como eu de informática. Na lista de conhecimentos desta espécie em vias de crescimento entra a ‘One’, a ‘With or Without You’ e mais três ou quatro músicas que entraram nas playlist diárias da RF(zzzz...)M e da VH1 desde que nos conhecemos. E é tudo. Não fazem ideia do que a banda fez.

O meu irmão pertence a outro grupo, 'ao' outro grupo, o do que que adoram adorar os U2. Sim, porque nesse campeonato não há gostos moderados: quem gosta de U2 tem nos U2 a sua banda favorita. (Ou então sou só eu a fazer generalizações gratuitas). Atrás do Sporting, claro, os U2 são das poucas coisas nesta vida que fazem o meu irmão mudar de sintonia. Se ele estiver num bar e passar uma música deles, suspende a conversa e entra em levitação. Só fica o corpo. É dado adquirido e coisa que pessoalmente me dá gosto perceber. Seja como for vem ao caso que regressei ao “Achtung Baby” (1991), um dos álbuns mais relevantes da carreira deles. Deixo aí em baixo a minha preferida do disco. Sempre que a oiço é-me aplicado um gancho que me leva ao tapete, knock-out. Cá dentro bate um desassossego imediato, por um motivo intangível – sei que existe, não em que consiste.

Talvez seja mesmo dos anos 90, os novos anos 80, cuja sombra já paira por aqui.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Kiwanuka

Assim de repente penso num Ben Harper com mais ideias. No Ryan Adams em dia de ressaca. No Otis, apaixonado. Penso em todos eles e não tenho dúvidas de que isto é música. A BBC aposta todas as fichas nele para 2012. Já gravou algumas coisas e edita o primeiro álbum em Março. Eu confio na BBC.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

-.-

Só vi a meia hora final nos Barreiros. A caminho do Bairro Alto, com uma amiga, passei por um taxista eufórico, a gesticular do lado quente do vidro em reacção a algo que, percebia-se, ouvira na rádio. Pensei: golo do Marítimo. Já sabia que estava 1x0 para eles e confirmei-o ao chegar a um bar. 2x0. Sentámo-nos. Pedi uma cerveja; ela, nada. Os minutos passavam. A ganhar por dois o Marítimo dava a iniciativa ao Sporting, que, como é costume, não sabia o que fazer à bola. A minha amiga queixava-se do namorado de uma amiga dela. Médico. Quezilento. Arrogante. Filho da puta. Nos Barreiros tudo na mesma. Bola em nossa posse da direita para o centro, do centro para a esquerda, da esquerda para o centro, do centro para a direita. Longe da baliza do Marítimo. Muito longe. Nenhuma jogada colectiva, nenhum risco individual, nenhum sinal de se querer agitar o marasmo. O médico continuava com as orelhas a arder. Entre outras coisas fiquei a saber que no regresso de uma viagem a terras montanhosas o bicho queixou-se em alta voz à namorada por ter de distribuir pelas respectivas capelinhas os viajantes que com ele viajavam – a minha amiga incluído; durante essa mesma viagem também não procurou a namorada em duas noites consecutivas. “Um merdas”. Já em período de descontos o Ribas tem a bola a jeito e, perto da baliza, quase não lhe acerta. Não chegou a ser um ‘remate’, mas também é exagerado falar-se de um ‘passe’ torto. Foi só 'nada', ou 'coisa nenhuma', salvo maior precisão. Fim do jogo. O Marítimo joga mais à bola e ganhou sem problemas. Andamos pelo quarto ou quinto lugar, já nem sei.

Para não me estender demasiado, até porque a vontade é pouca, vou limitar a minha reflexão ao actual estado de coisas com a minha cara, que corresponde à do título deste post, quando em conversa com um amigo fiquei a saber há bocado que o pequeno Pereira tinha jogado de início – o pequeno e notável Pereira que não vestia a mais bela desde Dezembro e em quatro jogos a titular esta época para o campeonato saiu ao intervalo em três.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Inverno



Na intimidade não há dentes a bater. Só o calor é difícil de suportar.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Orelhas, génio

No início a malta até achou piada ao puto: era um dos nossos e segundo reza a lenda tinha recebido coca-colas do Boloni a troco de golos num treino. A história tinha piada e fez eco de tal forma que o Paulo Bento apostou nele para a equipa principal. Era um avançado móvel, com uma velocidade fora do comum, sobretudo nos primeiros metros. Naquela altura despontavam no Sporting outros jogadores com a mesma idade mas outro tipo de categoria, casos do anão, do Veloso e, sobretudo, do Nani. Os putos tinham crescido juntos e, junto dos graúdos, continuavam a divertir-se, fazendo caretas em grupo enquanto o Liedson marcava golos. Foi um ano de algumas conquistas (taça de portugal e supertaça), ao qual falhou apenas o título de campeão nacional – escapou-se-nos na última jornada. A época seguinte foi idêntica no desempenho desportivo mas começou a ficar óbvio que a bola atrapalhava um bocado o tal do Yannick. Ficou óbvio para nós, adeptos do Manto Sagrado, que ainda assim dávamos o desconto por ele ser puto e dos nossos, mas também, e daí vinha o perigo, ficou óbvio para os adversários. Os treinadores de pestana mais aberta perceberam que anular o Yannick era questão de manter um defesa perto dele ou, consoante a estratégia de jogo, não lhe dar espaço. Assim foi e aí começa o trajecto aflitivo do Yannick, um promissor talento que afinal não sabia o que fazer à bola caso não tivesse o Alentejo inteiro pela frente de modo a que pudesse fazer a única coisa que sabe melhor do que os outros: correr. Os anos passaram e o puto deixou de ser puto. Começou a fazer exibições medíocres e só era notícia pelo desfile semanal de penteados novos ou pela cor dos cortinados lá para casa escolhida pela respectiva Lucy. Deixou também de festejar golos, o que até podia fazer sentido caso tamanha vaidade ligasse com um nível superior de futebol apresentado - Cristiano Ronaldo, por exemplo -, mas qual quê. Cheguei a ouvi-lo dizer que queria jogar no Barcelona, na altura possivelmente para tirar o lugar ao Eto'o. A característica de dar caneladas involuntárias na bola cada vez que a devia receber redonda, no pé, fez com que, naturalmente, tenha perdido a titularidade no Sporting - isto numa fase em que já transitara de avançado para extremo. Talvez o problema fosse do lugar no campo. Mas não. De dez em dez jogos fazia dois bons, e raramente em Alvalade, onde actuava quase sempre de forma exasperante perante equipas acampadas diante da própria baliza. Os adeptos não lhe perdoavam a falta de rendimento e por isso começou a ser associado a muito do que de mau aconteceu ao clube nos últimos anos. Algumas vezes de forma injusta, reconheço, uma vez que o contexto é importante e o rapaz até tem algum valor, sobretudo como avançado. No Verão passado o Barcelona deixou-se enganar pelo poderoso Nice e lá foi o Yannick para o sul de França. Mas um atraso na inscrição deixou a transferência sem efeito e o Sporting, safa!, livrou-se dele logo que pôde. Esta história continua muito tal explicada, uma vez que ficámos sem um activo e ainda não recebemos dinheiro por isso, mas certo é que depois de seis meses com o jogador no desemprego o clube de Carnide ganhou a corrida a ninguém e assegurou o concurso do rapaz. E para que raio foram eles resgatar o Yannick, pergunta qualquer adepto de futebol? Para serem iguais a si próprios, respondo eu. Por gula, só para chatear, contratam um jogador que desempenha funções a cargo do Cardozo, Rodrigo, Saviola, Nelson Oliveira (avançados), Nolito, Bruno César, Gaitán, Enzo Pérez (alas) e Aimar (médio ofensivo), qualquer um deles melhor jogador do que o Yannick. Na cegueira de meter a pua ao Sporting distraíram-se e perderam a hipótese de, por exemplo, contratar um terceiro central de qualidade inegável, que possa pôr a cobro uma eventual lesão prolongada de um dos dois titulares indiscutíveis - isto além de terem entregue ao Braga um jogador polivalente de bom rendimento assegurado (Ruben Amorim). Ressalva: renovaram com ele. Espertos. Sobre o Djalol: é um exagero falar-se que chegou ao estádio da Lucy a custo zero. O preço dessa Lyoncificação será contabilizado em tempo oportuno.