segunda-feira, 23 de agosto de 2010

se aos 17 anos percebesse alguma coisa de música teria ouvido...

breves reflexões sobre o jesus...

"Canhece 3 ésleys no brasil, digo-lhe mais, canhece todes os jegadores do brasil e da venazuela e do peru, canhece todes, todes, mas..."


... o postiga

Certa tarde de domingo, a passear num parque com a mulher e o filho, o senhor postiga avista um campo de futebol de um clube das redondezas. Amante da modalidade, pega o bebé Hélder ao colo, entra com ele no relvado e aproxima-se de uma das grandes áreas. "Vês esta baliza pequerruxo? Habitua-te às dimensões dela: daquis a uns anos serás ponta de seta e é ali para dentro que tens de chutar as bolas, percebeste pequerruxo?".


e estacionamento.


("pshhé, postiga, tira a mão, postiga!")

sábado, 14 de agosto de 2010

Não há manhãs no Sudoeste


I

Andanças à parte, Pº regressou aos festivais de música uma década depois de ter visto os pagantes (e afins) do sudoeste alentejano despedirem os Oasis à pedrada. 15 minutos de concerto na Zambujeira do Mar. Ele próprio arrisca que terá arremessado o seu calhau. O que certamente o jovem advogado de 29 anos não contava era que, logo após chegar à praia da Nossa Senhora, onde se reuniu com amigos horas antes do arranque do último dia do 14.º Sudoeste com o desejo explícito de ver Beirut e outro mais escondido de colorar um pouco o seu tom de pele translúcido, um pedregulho repousasse escondido na areia bem a jeito de se deixar pontapear por um dedo do seu despreocupado pé, alegadamente o direito. De vermelho, aquele passou a inchado e depois balofo e roxo. Pº mancou toda a noite e regressou à mui catita casa de férias de Pª depois de suportar as dores arrastando-se estoicamente entre palcos, barracas de cerveja e desafogadores de bexiga. Aliás, as dores eram tais que, pela primeira vez desde que a memória o regista, perfeitamente fora de si, terá conseguido não falar do Benfica mais do que o estritamente conveniente. Houve quem agradecesse.

Sempre pronto a disparar o seu português afiado, ao abrir da pestana no meio dia seguinte, de tesoura em punho, N. lembrou a Pº o valor de uma mutilação bem executada. Assumia-se, inclusive, disposto a agir em consonância. Um exagero, como mais tarde se comprovou. Namorada de N., Pª empresta chão e simpatia mas não deixa ordens por boca alheia. É ela que corrije o álcool quando este sugere o continuar da noite para lá do convencional. Quem a rodeia ainda estrebucha, mas acaba por obedecer e seguir em fila-indiana rumo a casa. E shtttt!, nada de balir por causa dos vizinhos. Um rebanho afinal fofo.

Famoso pela sua distraída passagem ao longo da esfera terrestre, antes de chegar à Zambujeira do Mar, R. conseguiu deixar pendurada uma amiga a quem, numa noite de capirinhas em Alvor, prometera dar boleia até ao Alentejo. Na véspera até se portou bem e chegou a casa antes dos amigos. Obrigara-se a acordar cedo, fresco para seguir viagem. Mas não foram tais entendimentos que o impediram de, no dia combinado, acordar às 14h00, uma, duas, três, quatro horas para lá do toque do despertador, arrastando a amiga no interminável eixo Tunes-Portimão-Tunes-Zambujeira do Mar à boleia suada de automóveis nervosos e comboios acaracolados. 50 chamadas não atendidas e dormia ferrado. Na imaginação da amiga chegou a desenhar-se uma catástrofe e por isso ligou a amigos mútuos. Estes, por sua vez, também não conseguiam entrar em contacto com R. No fim, para alívio de todos - menos, aceitar-se-ia com alguma condescendência, da amiga -, tudo não passou de um mal entendido entre a realidade e o teimoso sono de R.

Fª faz os possíveis para não ser abraçável aos olhos de quem a rodeia. Com alguma razão de ser, o mais comum dos mortais poderá achar que o seu talento é, nesse sentido, transbordante. Terminado o festival, já no sonolento regresso à casa de Pª, achou por bem lembrar a Pº que, preparando-se ambos para adormecer em camas diferentes, não estavam estas suficientemente longe uma da outra para se notar que não estavam perto. Num arrepio colérico, sentiu vestígios de cumplicidade. E avisou-o: "Pº. estás muito perto". Com o seu estilo diplomata, Pº disfarçou a vontade de a atirar pela janela e afastou o seu colchão sete centímetros do sofá-cama onde Fª deitar-se-ia. Atento, R. quase se engasgou numa altura em que se esforçava por beber tanto água quanto aquela que pudesse. Recomposto, perguntou a Pª o que poderia ser feito para ocupar a manhã que se avizinhava, mal acordassem. Que o sol entraria com força pela casa dentro, abrindo pestanas. Adorável, Pª, cabelo cor de cerveja, desejou-lhe as boas noites depois de, como quem ensina, ripostar: "Não há manhãs no Sudoeste."

II

Canta-se melhor Beirut quando se está apaixonado ou bêbado, o que, vai daí, dá no mesmo. As palavras saem com mais verdade, os braços esticam-se e os corpos mais próximos abraçam-se para celebrar a vida. Quem, no Sudoeste, os viu sem conhecer, precisou de apenas três ou quatro músicas para entender que a música inventada pelo Zach Condon é de se adorar. Que a mesma tenha provocado algum tipo de reacção à morangolândia que se divertia no parque de diversões da Zambujeira é um feito de não pouco mérito.

eu, tu


procurar onde despejámos tudo o que não foi dito.

a minha melhor mentira, todas as vezes, para ti.

levar a sério o nosso parque de diversões.

nunca ser tarde, nunca ser tarde demais.

o meu melhor sorriso do melhor ângulo.

querer que me leias até nos apanhares.

ser eu menos vezes (um preço barato).

saberes-te beijada quando te olho.

passeares cá dentro, descalça.

tudo o que te disse sem dizer.

o peito a cavalgar sem rédeas.

levar em cheio com a tua luz.

adorar que adores a tua vida.

a tua gigantesca liberdade.

desesperar por te entreter.

perto mas longe mas perto.

demorar-me no teu retrato.

fazer-te poucas perguntas.

preferir que fosses outra.

completar as tuas frases.

o meu melhor número.

chamar-te pelo nome.

rir até poder chorar.

ver tudo mais claro.

sangrar isto tudo.

poder ser foleiro.

dizer-te que sim.

esta avalancha.

fodass.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

'I'd like to say thank you on behalf of the group and ourselves and I hope we passed the audition'


Até há um par de anos tinha um beatle favorito: o McCartney. Foi ele a compor a Blackbird e isso bastava-me. Do Harrison e do Ringo pouco sabia. Pareciam-me peças decorativas, injecções de normalidade na melhor banda que já existiu, comuns mortais como tu e eu. Menorizei-lhes o talento. Reduzi-os ao grande rebanho. Mereço arder no inferno.

Do Lennon alimentei a ideia de ter sido o génio criativo da banda, mas nunca lhe perdoei o facto de ter permitido que uma japonesa de olhar sinistro lhe tivesse desfeito todos os laços. Primeiro os afectivos (fim do casamento com Cynthia, a primeira mulher), depois os profissionais (fim dos Beatles). Esta última rotura é que me lixa. Qualquer coisa como aquilo que um amigo meu prevê que irá acontecer com a nossa amizade. “Vamos chatear-nos por causa de uma mulher”, repete-me.

Hoje, analisando por exemplo o Abbey Road, tenho para mim que as canções do Lennon são as mais afiadas



as do McCartney as mais dramáticas, as que aspiram a ser gloriosas



as do Harrison as mais belas



e as poucas do Ringo as mais descontraídas, deixam-te de bem com a vida



E deixei de ter um beatle favorito. Agora são todos.