quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Um Castelo na Escócia Song Awards 2010

Claro que amanhã ou mesmo hoje agora esta lista poderia ficar virada do avesso. Aos anti-listas: é só uma lista; aos pró-listas: o mesmo. E dedos cruzados contra os desamores. E mão direita é penálti.

20. Swim, Surfer Blood



19. Stylo, Gorillaz



18. Bowls, Caribou



17. Tree by the River, Iron and Wine



16. Simple Things, Shit Robot



15. Acts of Man, Midlake



14. Silver Soul, Beach House



13. Bloodbuzz Ohio, The National



12. Memory Boy, Deerhunter



11. Angela Surf City, The Walkmen



10. Monster, Kanye West



9. Sprawl II (Mountains Beyond Mountains), Arcade Fire



8.  Getting Nowhere, Magnetic Man feat. John Legend



7. Walk in the Park, Beach House



6. I Found a Whistle, MGMT



5. Love Cry, Four Tet



4. Losing my Patience, Shit Robot



3. England, The National



2. Zebra, Beach House



1. Siberian Breaks, MGMT

 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

As velas ardem até ao fim

Ela observava-nos. Duas vezes a nossa idade, vida artificial em redor dos olhos amargurados, borracha das trincheiras de pele, fazia-se acompanhar de uma ausência de homem, alguém que não estava bem ali, um projecto de qualquer coisa por acontecer. Observava-nos e sorria o sorriso malvado de quem conhece todos os recados que os corpos transmitem. Dos olhos senti-lhe uma atenção de voyeur de bem com a sua condição, de pulso tranquilo. Uma serenidade que perturba e fascina. Mais do que nos ler, senti que nos via. Que entrava em nós e confirmava os planos em sintonia. Que disso retirava um gozo descontrolado. Doentio. Bom. Fiz por manter o entretenimento. A todos agradava. Terá visto em mim quem nela viu em tempos o suficiente para a seduzir. Lembrou-se de se sentir desejada. Ao meu lado via-se num espelho com metade do tempo. Por vezes tropeçava num detalhe do seu mundo próximo, o telemóvel, o copo de vinho, a saia rebelde, mas logo a nós regressava, a nós que era o nada fitado com um propósito maior. Levantámo-nos. Percorreu o corpo dela num jeito de urgência e esticou as fontes de espanto. Denunciou as trincheiras em redor dos olhos. A amargura que nenhuma vida artificial pode esconder. Sorri-lhe até sairmos de cena.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Das cavernas

Para mim homem é de mulher. Devo ser um tanto antiquado. Ou hipócrita. Todo tagarela pelas liberdades individuais e saio com esta. Talvez porque até ver via tudo à distância. Ou porque a malta era discreta. Um certo círculo de segurança. Mas ontem fui ao frágil. Pela primeira vez num espaço que se define por virar as convenções sexuais do avesso. Totalmente do avesso. "Anda lá pá, aquilo é fixe e tu sabes de ti". Homens, demasiados, quase todos organizados em grupos a atirarem-se contra as paredes aos pares, triângulos e quadrados numa estranha luta de cães. Não gosto de entrar em bares ou discotecas cujo ambiente não é definido pela música que lá passa. Não gosto de entrar em festas para as quais não sou convidado. Onde me sinto intruso. A mais. Desculpem lá a falta de modernismo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Lisboa sob escuta


Mulher entre 50 e 60 anos marcha rápido pelo interior da estação de metro da Alameda. Encaixa o telemóvel no ouvido e faz por ter a certeza de que não passará despercebida.

“Olá! É a Celeste da televisão!, vou para o João Baião! Ontem foi o Marco Paulo! Conheces o Marco Paulo?!”

Duas amigas passeiam-se pela Morais Soares. De olhos na montra de uma loja de roupa, uma delas rompe o silêncio.
“Ele fica acelerado quando me cai na garganta.”

Agora que acabou, ela explica à amiga como foi no início.
"Éramos muito apaixonados. Se é que me entendes."

Acaba o filme. Créditos finais. Ele quer saber.
"Gostaste?"
"Não é assim nada de especial."
"Mas come-se.."
(beijo).

domingo, 5 de dezembro de 2010

Aceitam-se sugestões para substituir as reticências ali em baixo


Ela: sou uma puta.

Ele: o quê?

Ela: uma puta.

Ele: que disparate, porque dizes isso?

Ela: acabei com o meu namorado há um mês, mas reatámos na semana passada e estou aqui contigo. Bebi muito. Sou uma puta.

Ele: (…)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Interrogo-me se a juliette binoche será próxima da mulher do kiarostami


"Acaba!, acaba!, acaba!", pedi de mim para mim durante aquela que viria a ser efectivamente a última cena do Cópia Certificada. Falhei no Munique e no Gran Torino. Desta vez fui inteiramente feliz. E a Binoche é uma actriz do caneco. E um mulherão. E recomendo isto vivamente.