0 mal do bem que isto faz é fazer bem demais. Eventualmente chegará o último acorde, e com ele o pesado silêncio, a certeza dos limites, primos de tudo o que é finito.
"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars." J. Kerouac
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sábado, 22 de setembro de 2012
terça-feira, 17 de julho de 2012
Radiohead: tudo no seu devido lugar
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©Laura Haanpää |
Sendo estética e musicalmente brilhantes, os Radiohead nunca escolheram o caminho mais fácil desde que se tornaram numa banda à escala mundial. Quando conquistaram o mundo, tricotando a pop até à perfeição em "The Bends" (1995) e "Ok Computer" (1997), não demoraram a evaporar-se tal como então se davam a conhecer, partindo à descoberta de novas formas de expressão, sobretudo electrónicas. Tão à frente dos acontecimentos e, percebe-se hoje, com as coisas sob controlo, talvez os Radiohead o tenham então feito pela necessidade de sobreviverem enquanto banda criativa a essa grande e fedorenta bocarra com lábios de silicone que aparece encaixada no focinho da fama.
Quando deram à luz o gélido Kid A (2000), meio mundo exigiu autos de fé. Para quem tinha adoptado os dois anteriores trabalhos como álbuns de uma vida, e dando de barato que as angústias teenager do Thom Yorke no disco de estreia Pablo Honey (1993) não mudaram o mundo, o choque foi tremendo. Kid A praticamente não tinha guitarras, riffs ou refrões 'singalong'; era, antes, fértil em experimentalismos electrónicos de uma desolação mo-nu-men-tal, a banda sonora do fim de tudo à qual as rádios populares fecharam os microfones à primeira audição. No ano seguinte apareceu o irmão disforme, "Amnesiac", ainda assim mais melódico. Há quem diga - ainda ontem mo disseram - que nunca mais ouviu Radiohead pós-1997.
Mas para a banda deve ter sido um alívio poder deixar para trás o que lá atrás pertencia, deparando-se com um cenário win-win: ao mesmo que lançava o mito sobre The Bends e Ok Computer, literalmente irrepetíveis, libertava-se da pressão de ter de estar à altura do pedestal ao qual tinham subido. O virar do milénio implicaria um verdadeiro recomeço. Hoje, tanto tempo depois, dá para perceber que as respostas às nossas perguntas sobre a radical mudança de direcção do quinteto sempre estiveram ali mesmo, à nossa frente, a acenar-nos com a sua longa e bizarra cauda, tanto no título do último disco amigo da memória - Ok Computador... venceste... - como, por exemplo, no primeiro tema de Kid A, onde se avisava que tudo tinha o seu tempo e lugar devidos ("Everything in it's right place"). É mesmo assim. O passado foi lá atrás. Acompanhe-nos quem quiser.
É por isso que quem deles gosta, ama. É um combinado de admiração pelo talento e imenso respeito pela filosofia de trabalho. A cada álbum os Radiohead tentam inventar uma nova obra de culto, coisa que à descarada já conseguiram com "In Rainbows" (2007), monumental pacote de rock electrónico cujo sucessor "The King of Limbs" (2011) é ainda mais dançável, com especial incidência na percussão galopante do Phil Selway, embora talvez menos sofisticado. Isqueiros no bolso, pá.
Ontem, no primeiro concerto que assisto ao vivo da minha banda viva favorita, o alinhamento privilegiou o repertório destes dois últimos discos e os singles que recentemente foram lançados. O mesmo é dizer: foi uma festa dos diabos ao som de faixas electrizantes (ex: 'Morning Mr. Magpie' ou 'Staircase'), contrabalançadas por coisas a baloiçar entre slow e danceteria (ex: 'Reckoner)' e, claro, mimos de contemplação para-lá-de-religiosa de tempos que, em disco e na grande fatia dos concertos, já não voltam (ex: 'Exit Music - For a Film'', cujo vídeo pode ser visto em baixo). Fechar com a 'Street Spirit' foi um momento sublime, mas outros houve - todos, na verdade, desde o irrepreensível jogo de luzes e vídeo oferecido pelo quinteto inglês à figura enigmática do Thom Yorke, que, ao microfone, entre músicas, limitou-se durante mais de duas horas a balbuciar coisas imperceptíveis num estilo 'I really don't give a fuck' que cada vez me agrada mais, por oposição à tanga de nos repetirem que somos o melhor público do mundo a cada bruaá. Sejamos honestos nas coisas. E sim, o falsete do Thom é mesmo límpido, de criança, bonito que quase irrita. E sim, o estilo de dança autista do bichinho de rabo de cavalo é bestial. E sim, o alinhamento foi tremendo, mas podia facilmente ser outro, que tremendo seria. E sim, aqui à volta, onde estou, é só nuvens. Foi uma vida à espera disto.
É por isso que quem deles gosta, ama. É um combinado de admiração pelo talento e imenso respeito pela filosofia de trabalho. A cada álbum os Radiohead tentam inventar uma nova obra de culto, coisa que à descarada já conseguiram com "In Rainbows" (2007), monumental pacote de rock electrónico cujo sucessor "The King of Limbs" (2011) é ainda mais dançável, com especial incidência na percussão galopante do Phil Selway, embora talvez menos sofisticado. Isqueiros no bolso, pá.
Ontem, no primeiro concerto que assisto ao vivo da minha banda viva favorita, o alinhamento privilegiou o repertório destes dois últimos discos e os singles que recentemente foram lançados. O mesmo é dizer: foi uma festa dos diabos ao som de faixas electrizantes (ex: 'Morning Mr. Magpie' ou 'Staircase'), contrabalançadas por coisas a baloiçar entre slow e danceteria (ex: 'Reckoner)' e, claro, mimos de contemplação para-lá-de-religiosa de tempos que, em disco e na grande fatia dos concertos, já não voltam (ex: 'Exit Music - For a Film'', cujo vídeo pode ser visto em baixo). Fechar com a 'Street Spirit' foi um momento sublime, mas outros houve - todos, na verdade, desde o irrepreensível jogo de luzes e vídeo oferecido pelo quinteto inglês à figura enigmática do Thom Yorke, que, ao microfone, entre músicas, limitou-se durante mais de duas horas a balbuciar coisas imperceptíveis num estilo 'I really don't give a fuck' que cada vez me agrada mais, por oposição à tanga de nos repetirem que somos o melhor público do mundo a cada bruaá. Sejamos honestos nas coisas. E sim, o falsete do Thom é mesmo límpido, de criança, bonito que quase irrita. E sim, o estilo de dança autista do bichinho de rabo de cavalo é bestial. E sim, o alinhamento foi tremendo, mas podia facilmente ser outro, que tremendo seria. E sim, aqui à volta, onde estou, é só nuvens. Foi uma vida à espera disto.
domingo, 10 de julho de 2011
A ressaca tem óculos escuros
Há um estranho gozo quando deixas de te abrigar das nuvens e aceitas a tempestade. Atinges um outro grau de realização, uma outra coisa. Eterno será o dia em que eu estiver num concerto dos Radiohead.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
A minha canção favorita dos Radiohead é...
A New Musical Express foi para a rua e convidou vários músicos de bandas britânicas a cuspir a respectiva música favorita dos Radiohead. Por maioria de consenso ganhou a ‘Everything in it’s Right Place’. Fã herege que sou, discordo; reconheço que gosto mais hoje do Kid A do que ontem, e provavelmente mais amanhã do que hoje, mas estou longe de achar que foi a melhor coisa que eles deitaram ao mundo, tal como esse tema desse álbum. Em baixo estampo a reduzida lista das minhas favoritas - uma decente deveria levar 30 ou 40, e não 10, mas amanhã é dia de trabalho -, depois de um fim de semana inteiro a ouvir a discografia (vá, uns 80%) do quinteto, e o mesmo é dizer que neste momento precisava assim de uns 15 dias regados a rum numa praia caribenha para recuperar de tanta tristeza cantada.
10. Stop Whispering, Pablo Honey (1993)
O jovem Thom quer fazer-se ouvir, quer que o deixem ser, está a começar a sentir-se incomodado com a chatice na qual uma vida de adulto se pode tornar. Aparentemente simples, esta canção do álbum de estreia tem muito menos eco do que merece: não só pela irónica descrição da fragilidade emocional que empurra jovens como ele, o que nos dá uma pista segura de que como virá a tornar-se num compositor do caneco,
Dear Sir, I have a complaint
Can't remember what it is
It doesn't matter anyway
It doesn't matter anyway
como pela deriva instrumental que encerra o tema, mais experimental, mais noise, mais próxima do que viria a ser a interminável descoberta dos Radiohead pela novidade em tudo o que lhes soe a música, aquilo que nestas quase duas décadas os demarcou do grande rebanho do rock, pop, electrónica e ferrinhos - instrumento que termina o disco de onde vem a música aí em baixo.
9. Let Down, Ok Computer (1997)
Linda, dé! Adoro a sensação de fim ali a meio e ah! afinal ainda há mais.
8. Lucky, Ok Computer (1997)
Há sempre uma mensagem a retirar das letras dos Radiohead. Mais ou menos acessível, mais ou menos codificada, ela está lá, mas raramente nos puxa pela manga da camisa, suplicando a mesma atenção que a melodia. Não. Como outros temas, Lucky observa-nos de longe, quieta. Misturada na multidão, limita-se a abanar o rabo. Só depende de nós ir atrás para ver no que dá. Neste caso, ambicioso riff do Johnny Greenwood ali no refrão à parte, parece-me haver por aqui uma ode à possibilidade de o homem afinal triunfar sobre a máquina, de que nem tudo está perdido. Num dia bom, acreditará que a sua vontade vai prevalecer. Num dia bom há uma saída. Mas como em grande parte das canções dos Radiohead, no fim recebemos um aviso - 'despachem-se, é mais tarde do que pensamos', ou, neste caso, "we are standing on the edge.."
7. The Tourist, Ok Computer (1997)
A velocidade que nos impõem. Casa, metro, trabalho, noitada para esquecer, ressaca para lembrar, casa, metro, trabalho, reforma, cama, sepultura. Já foi, já passou. Parece que é só isto. Mas enquanto por cá andarmos haverá sempre a música que encerra o Ok Computer como resposta. Nesta versão quem vemos chorar é o intenso Thom, mas, se estivermos atentos à forma como atacou o solo final, o Johnny Greenwood não deve estar melhor por dentro - afinal de contas foi ele quem escreveu isto.
6. How to Disappear Completely, Kid A (2000)
O Thom Yorke a agonizar com um microfone pela frente, em negação, a tentar convencer-se de que consegue despistar os demónios que o perseguem, que consegue estar e está noutro lado, em paz, melhor, não ali, não assim: é a isto que soa o pânico em câmara lenta, assim grita um génio entristecido. Tenho para mim que é uma das canções mais representativas do que é ser Thom Yorke, e ele também - já pediu para um dia ser lembrado por esta música, se por uma tiver de o ser.
5. Black Star, The Bends (1995)
Gosto de melodias. O jazz, por exemplo: sou fã, sobretudo daquele vertiginoso que dispensa a voz, mas não vou à bola com tudo. Preciso de alguma harmonia; alguma melodia, mesmo que pouca. Na Black Star, mesmo que a história dos amantes que se separam devido à má fortuna, nunca devido a erros pessoais - isso nunca, isso não existe, isso não existe, isso não existe - já me tivesse apanhado, a melodia é tão conseguida, tão fácil de se gostar, que, enfim, é isso, gosta-se. Muito.
4. The Bends, The Bends (1995)
A canção inteira à espera de uma explosão que ameaça mas não aparece, e quando ela chega, aqui num ataque a três guitarras e um baixo, trata-se de um dos momentos mais gloriosos que conheci dos Radiohead quando o Thom enche o peito e anuncia ao mundo "I wanna live/ breathe/ I wanna be a part of the human race!". Se instrumentalmente é intocável, a canção alterna entre o seminal e o razoável ao nível da escrita, e assim explico o motivo pelo qual é possível encontrar músicas aqui por baixo desta - no sentido de que portanto estão acima, bem entendido.
3. Street Spirit (Fade Out), The Bends (1995)
À medida que esta lista avança, torna-se cada vez mais difícil explicar porque motivo trocaria este tema por aquele, ou não. Humm.. ou não. Street Spirit (Fade Out) embaraça-me, faz-me sentir vergonha por não passar de um mero humano, movido a necessidade básicas, ao contrário deste colectivo munido de poderes mágicos. Aqui se faz o elogio de uma voz fabulosa como aquela que o Thom Yorke tem, um falsete tão perfeito que ao próprio irrita. Só o Jeff Buckley lamenta igual. (Vai daí talvez melhor). Numa canção que se for sobre o que parece é sobre morte, em pleno Glastonbury, o Thom Yorke, infeliz oráculo de boas intenções, aconselha-nos "Immerse your soul in love!" e despede-se da forma mais acriançadamente feliz que algum dia pude testemunhar. Eu, que nunca o vi nem ouvi. This fake plastic fan.
2. National Anthem, Kid A (2000)
Radiohead, o mais diabólico dos baixos, a mais nervosa das baterias, free-jazz? Este é o meu hino nacional.
1. Fake Plastic Trees, The Bends (1995)
Tudo o que os Radiohead têm de bom, comprimido numa balada quiet-loud sobre este mundo de faz de conta em que se assume a impossibilidade de o compreender e, braços em baixo perante a pessoa por quem largaríamos tudo, se diz coisas como "If I could be who you wanted, all the time, all the time".
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Parte favorita do ok computer: 0:00 – 53:27
Por um conjunto de razões que não cabe num tirinho pensado, este disco teria sempre de ser aquilo que é: maior do que a vida. Um dia destes ganha asas.
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