terça-feira, 30 de outubro de 2007

The Note

Sugestão de acompanhamento musical:
Second, minute or hour - Jack Peñate

“Out the door step
Down the stairs
`Round the corner”

You’re enjoying a celestial moment: “Wouldn’t it be great that all people should misbehave? That’d probably leave art critics pretty jobless, right?” As i agree with you, a chinese rubber - stole from the chinese store near the chinese neighborhood that’s crowded with Brazilians – picks my hand and harmlessly hit you in the nose.

That’s in Lisbon –

You fancy a walk down a Bairro Alto`s street, after a few smoking knock-outs at your electric-heated bedroom, and get dazzled in small wonders. To have someone who can get you a couple of laughs with pointless fairytales. “Buy them, if necessary – come on!”
All the things you want are exceedingly simple to predict, but in order to get them – that’s where the rob lies. Women seem to find talent very sexy. And you want it bad – as normal things make you scared. A few things do.
I`ll tell you that three clouds are starring at your sea sized lips, pushing each other for the better view of it. Your easy going, yet suspicious and mean two-headed personality will obviously believe it. “Where, where??”

We move to a smokey aired bar. My first time here, and probably your last since you’re moving abroad. The pub’s quiet, but we`re not alone. (Oh, you`ve just hit the glass entrance badly as the push and pull concepts mean nothing to you whatsoever!)
There’s a guy sitting in the dark corner of the bar, just near the toilets. He’s got long dark hair, seems to have a broken nose and wears a yellow t-shirt saying dirty little rock star. He didn’t see the hitting glass thing, but you’re not aware of it. Simultaneously, the thought of marrying him crosses your mind out loud as you’re dead scared of even talk to him. I`ll say “Honey, you taste really sweet - look at him”.
He got up and approaches us. You’re face turns orange, so effortlessly orange that you can’t even simulate a sudden toilet needed run with the argument of having a terrible nightmare last night, where you saw Morrisey chasing a turkey with a bloody fork.

You’re forehead hit’s the table and you wake up. Not only you’re bipolar, but now you also fall asleep dreaming dreams as if. You can’t believe it – “you`re mean, are you joking with me?”
- Hey`a, give us two pints mate! Let’s have a toast to the pointless - i say –
- Hummm if Amy Whinehouse was here right now, i’d tell her that you had Bonjovi in
your mp3 for quite some time. That’d be amazing, wouldn’t it? –

- If those kids who play in that amazingly talented band named Kook`s were here, i would lock them with you in this very pub’s bathroom for two weeks so you could all celebrate their useless little ways of being rock n` roll teddy bears –

You feel like dancing so two shots of vodka land in our table. Then two more of absinth and you feel ready to sing, instead of dancing. We move into a Karaoke bar named “In the Mood for Candies” and none of us notice that it`s a gay pub. There`s a guy with a pink bald head on the piano, playing the blues. You tell him to stop, “`cause these are my five minutes of fame (apart from the fact that i`m going to be an acclaimed music journalist – shhhhhttttt!)”
You first start with Sloppy Joe’s “Six Little Monsters” and in the middle of the core a sudden deadly mood flies throughout the pub, as your throat yell’s Roy Robinson’s “Crying”.
What’s wrong with you!?
Ohh, i see…
In the meantime, all people head to the stage and start crying over you and i had to do my daily good action by screaming at them: “Hey, you know what? She`s bipolar! -
So give us two shots of vodka and get the fuck out of here!”
You start laughing as a maniac, not only because of this, as a damned big moustache was making out with a policeman that you know. Oh, there’s another reason: the piano man is waving at me.
You`re mean. We leave.

Our next stop, a buisy café full of brilliant carachters where we, starved people, order four cheese toasties that i actually ate them all - as you got yourself locked up in the toilettes doing what you know you did. Next thing we know, we woke up in a garden’s bench full of pigeons and lovely old couples around us, doing their morning walk. The sun`d work his way on us so badly, that we laughed for our lives looking at each other’s half red faces.
“Hey, what’s that?” – I ask you
A Jack Daniel`s full bottle was just next to us, stuck on that garden bench by a long string. It also had a small piece of paper in the bottom.

“I never thought you could beat me in a pint shot, Sophie.
P.S – we`ll beat the bad guys!
George Walker B. (a man of honour)”

R.C

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Sobre vinagre e sua ditadura

Sugestão de acompanhamento musical:
Anthropolgy – Bud Powell Trio


Hoje foi um dia tremendo.

Abri os olhos cedo, precocemente frustrado por quase me ter lembrado dos sonhos que construira até então e plenamente convencido que era cedo. O relógio indicava 16h00 - “merda, faltei ao curso com o que engano tudo e todos sob o signo de fazer algo da minha vida até Janeiro”.
Como de costume Chiado e as minhas pernas arrastaram-me para a FNAC, onde assisti a uma conferência sobre escrita humorística; convidados brasileiros e esse génio da parvoíce chamado Nuno Markl: aprendi finalmente, (tinha os sentidos ávidos de educação) que a língua brasileira tem muito mais piada que a nossa. Ainda assim, o Markl é que sabe.

Foi grávido de fome que, ao 3º dia, terminei de consumir “Os “Subterrâneos” – mas com dois de intervalo, o que me chumba - e perdi aproximadamente 87 minutos para escolher algo onde gastar dinheiro. O voto caíu no “Legendary Town Hall Concert” de Charlie Parker e Dizzy Gillespie – Kerouac fará “tum tum tum tum tum” nas estrelas – e em “O Poço e o Pêndulo”, título taciturno-medonho de Edgar Allan Poe. Com um aspecto escanzelado e olhar de vagabundo anémico, cheguei a casa e devorei enlatados com muito vinagre e alguma (pouca) salada.

Ultimamente ando a consumir vinagre em quantidades psiquiátricas.

Entretanto o pessoal cá de casa celebrava a vida a jogar ténis virtual, ao que me fechei no quarto com bebop e um digestivo.
Lufada de ar fesco neste azedume claustrofóbico.
No final do concerto, durante o qual não fiz rigorosamente nada senão beber e tum tum tum com o pé esquerdo, atirei o “Barbeiro de Sevilha” para dentro do leitor de CD`s com a ingenuidade de tentar perceber o fascínio e estiquei-me na minha cama range-tudo a ler Poe; assim que a ópera adormeceu, virei para a “Mensagem”.
Deus, o mar (Deus), o céu (Deus), D. Sebastião (Deus), os Descobrimentos (com D grande), o Mostrengo (humm...), a pátria (D. Sebastião, Deus), o mar (Deus). Acabei de ser Pessoa há 10 minutos.
Eu disse tentar perceber.

Rui Coelho

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O Uivo do Trovador

Sim. Que desperdício é começar os textos por não, sim.

Sim, era um jogo decisivo para o Sporting. Como de costume, cavalgava-se rumo ao apito final a um ritmo frenético e o resultado estava dividido. Na nossa sala de estar, em Portimão, eu e o meu pai num sofrimento idiota. Partilhamos esta doença, aparentemente sem cura, de sofrer por um clube de futebol como se algum acto de bruxaria levasse as sardinhas do Algarve, em pleno verão.
Puxando pelas pistas, e tendo em conta o enquadramento actual da patologia, ela poderia muito bem, entre outras coisas, estar relacionada com a obesidade que o Pedro Barbosa leva no rabo. É que o “Panhonha”, (como carinhosamente lhe chamamos lá em casa) era o único jogador presente em campo (fora o Sá Pinto) e, a espaços, o único a criar algum lance passível de golo – sendo que nesses lances acabava sempre por se despistar, rogando pragas ao rabo-chaimite.
O desespero.
Estávamos já nos descontos e não havia forma de chegar à vitória. Foi aí que o milagre anti-gordura aconteceu: o “Panhonha” sai a jogar da grande área da equipa adversária, envergando o equipamento desta e o seu rabo-Pavilhão Atlântico, pelo que o Sá Pinto, sem demonstrar incómodo algum pela repentina mudança de cores do companheiro e apelando ao coração de leão que lhe bate do lado esquerdo, foi ao chão roubar-lhe a bola e chutou para a baliza orfã de guarda-redes. Gooooloooo !!!!

Buumm !!!! A explosão, a histeria, a loucura, os gritos, a rouquidão, o coração do meu pai, o Sá... o meu Pai!
Corri para ele, o meu pai, e perguntei-lhe o que se passava mas não recebia resposta sonora - A comunicação era feita por gesto e gemido, o meu pai por esta altura de tez albina, apontando nervosamente para o lado esquerdo enquanto respirava em golfadas de violino desafinado - pedi-lhe para se tentar acalmar, o meu pai enquanto tentava que o meu coração não fugisse do peito – também me sentia indisposto pelo meu pai e fui parar a um descampado onde encontrei um antigo colega de futebol no Portimonense: O Jorge, que era guarda-redes.
Cumprimentámo-nos e ele convidou-me a entrar na tenda onde morava. Tinha como certo deparar-me com uma espelunca desarrumada e sebosa, habitada por répteis a emanar essência de erva – mas nada disso aconteceu. Pelo contrário, dei comigo numa tenda arrumada, na qual jaziam sacos-cama harmoniosamente colocados de modo paralelo-num-espaço-de-não-mais-que-distância-nenhuma-entre-si, as paredes desnecessária e admiravelmente borrifadas com Ajax e o Bimbo a ressonar que nem um menino.
Bimbo, outro colega dos meus tempos de futebolista. 1,92 metros (2,14 m) a desfazer de tudo e todos, espírito burlesco que varria as posições do lado esquerdo e ataque da nossa equipa – tanto ele como o Jorge eram dois míudos que dominaram, desde cedo, o ofício do malandro. Pois hoje eles partilhavam uma tenda positivamente escuteira, como manda a respectiva ortodoxia.

Resolvi sair da tenda com uma necessidade absoluta de respirar aquele pó fresco do descampado, disfarçado do seu impacto estético pelo anoitecer. Não estava, confesso, de modo algum preparado para observar um cenário daqueles e, num assomo de filosofia corporal, olhei as estrelas. Vejo várias luzes brancas, intermentes, a cair. Desciam em voo picado, numa velocidade incompreensível e portanto vegetei até ouvir a explosão apocalíptica.
O acidente tinha ocorrido talvez a uns 400 metros dalí, pelo que corri para dentro da tenda de forma a proteger-me dos esperados estilhaços. O Bimbo ainda dormia. Num ápice, os destroços do avião caíam ao redor da tenda, e não deveria faltar muito para que atingissem algo que mexesse.
Sugeri que fossemos embora, que o argumento da limpeza não servia muito bem o contexto actual mas, surpreendentemente... não, ninguém queria sair dalí. Nesse momento já éramos cerca de 10 pessoas e tinha para mim que mais ninguém haveria entrado lá dentro pelo que as dúvidas, essas, teriam de esperar pela atenção do descomplicador numa outra ocasião.
Acordámos o Bimbo que, tranquilo, perguntou ao Jorge pela sua mãe.
Este devolveu que não era altura para brincadeiras e aproveitei a seriedade do momento para insistir em sairmos dali para fora que nem cangurus entusiasmados.
O eco continuou negativo e, frustrado pela pouca razoabilidade daquelas pessoas, dirigi-me em passos suicidas para a rua, com o solene intuito de correr pela vida. E então caíu-me tudo.
Se, naquele momento, me encontrasse contente diante da Rachel Weisz, é ponto assente que a lei da gravidade actuaria em mim com a ciência que o nosso amigo Isaac reclamou.
Gêlo, tortura nos testículos.
Uma interminável nave espacial descia sobre o descampado onde o Jorge e o Bimbo moravam, numa tenda arrumadinha. Aterrara a menos de 50 metros de mim e o fogo, que crescia a uma força imparável, parecia servir de cenário a uma celebração alienígena de tomada de posse - golpe de humanidade, substituição dos actores terrestres.
Receei pelo pior, quando a porta desabrochou no descampado e, acto contínuo, várias criaturas saíram da nave em passo acelerado. Seriam certamente monstros gigantescos, com sete olhos e muitos poderes malévolos que vinham com o objectivo horrendo de, pelo menos, nos levar a Marta da OK Teleseguro, acusar o Scolari de esmurrar jogadores (quando ele só protege os atletas) e proibir o Rui Reininho de beber.

Só que eram patos.
E gansos. E vacas com chifres no nariz, de perto seguidas por cães desdentados e bois rockeiros.
Diante dos nossos olhos, tão somente animais a correr pelo descampado, joganda à macaca e cantando a machadinha num dialecto tonto.
O trovador, se pessimista, uiva em vão pois tudo corria pelo melhor.
Diante dos nossos olhos de cordeiro aliviado - tão somente animais a celebrar a vida, imersos no vapor de um avião em chamas.

Rui Coelho

Sugestão de acompanhamento musical:

The End – The Doors

Prefácio

Sou uma pessoa de tarde, duas de noite e três ou quatro de madrugada – de manhã estou a dormir. Quando as pálpebras cedem começo a ver fábulas, tingidas a raciocínio pendurado e sem juízo. Ou seja, uma pessoa perfeitamente normal como qualquer um de nós, com a diferença de me dar ao trabalho de escrever sobre isto.
Neste transe desconcertante, claro, reina a lei do mais idiota e ninguém percebe muito bem o que se passa. Mas está tudo bem, porque aqui as dúvidas aceitam qualquer justificação.
Uma palavra em especial para a minha antiga equipa na blogosfera.
Depois do projecto idealista enquanto banda, o crescimento que leva aos projectos a solo. Não a desintegração, mas o crescimento necessariamente individual que terá sempre por base uma plataforma de onde tudo nasceu.
O reencontro está marcado.
Um pontapé com algum desvio para vocês.

Rui Coelho