domingo, 31 de julho de 2011

Depois da vertigem

Mulheres há que mereciam mais respeito da minha parte. És culpado se sentes culpa, escusas de tentar dar a volta. Tira um curso de serenidade, bebe água a noite inteira, faz qualquer coisa. Problema: (ainda) acredito que o momento é tudo e tenho dúvidas sobre amanhã. Já outras não merecem metade do respeito que de mim têm, ainda que se tentem enganar a si próprias, convencendo-se do contrário. Os The National dão sempre música a este tipo de reflexões. Gostava de os ouvir menos vezes. De uma forma ou de outra acho que isso acabará por acontecer: ou aprendes ou deixas de querer saber.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

para o Beating the Pearls, com amor




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ZIP) [63 MB]

tema: na pista de dança

autor: rui coelho

descrição: será que a miúda do lado gosta de mim?

tracklist:
01. Nicolas Jaar - Encore
02. Washed Out - Eyes Be Closed
03 The Rapture - How Deep is Your Love?
04. Peaches - Loose You
05. The Undertones - Teenage Kicks
06. New Order - Temptation
07. The KDMS - Tonight
08. M83 - Midnight City
09. Fuck Buttons - Surf Solar
10. Sebastien Tellier - La Ritournelle

Aqui ou ali.

sábado, 23 de julho de 2011

aos 27, óbvio. shit

(1983-2011)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Entranho-te Meco

14


Os mapas do (da?) Google não enganam: Carnaxide-Meco faz-se em pouco mais de 40 km, em cerca de 40 minutos, e não em quatro horas. Esfreguei os olhos – “agora sem mãos!” – quando por volta das 18:00 vi a caravana começar a formar-se logo na primeira rampa à saída da ponte 25 de Abril e só uma hora depois consegui chegar à primeira estação de serviço, onde me esperava o meu amigo P. No recinto encontraria 14 274 pessoas do meu enevoado círculo de conhecimentos, mas o P. foi ‘o’ companheiro de festival. Não se pode dizer que aquela confusão seja exactamente a praia dele, ou o pó, mas o P. portou-se bem. Todo o respeito. Dá-se então o caso de que já ia a bufar e antecipando que falharia os Walkmen tomei providências na estação de modo a tornar a viagem suportável: “Boa tarde, são estas bolachas Maria e duas dessas garrafinhas de Grant’s aí escondidas que eu bem vejo."

Procurando energias positivas, lembrei-me que era para este tipo de coisas que a Antena 3 estava a cobrir o festival e por isso estive atento ao que se passava. Ouvi o concerto de Sean Riley and the Slow Riders, a entrevista aos Walkmen e três temas deles, New Year incluída. Ao pôr-do-sol entrei na estrada do Meco, um pequeno paraíso verdejante que tem virado inferno três dias por ano. Por falar em virar, achei por bem fazer isso mesmo a um terço de uma garrafinha de Grant’s e morder umas Maria’s. Só para abrir o apetite. Tame Impala esperavam por nós. A vida voltava a ficar mais bela. Campos de morangos para sempre.

Estacionámos os carros num parque escondido na última curva antes do recinto, a cerca de um quilómetro de distância. Evitávamos o abundante pó dos parques principais e a confusão de partidas e chegadas. Joinha. Na subida para o recinto juntámo-nos ao Huguinho e à Sílvia, que acabavam de chegar. Vinham amarelos, coitados, tinham passado pelo mesmo, um ou dois quilómetros lá para trás. Teríamos ficado com eles mas a meio caminho a Silvia esqueceu-se de algo no carro e praticamente já não os voltei a ver, excepção a um brinde-relâmpago feito na zona de restauração. O Huguinho e a Sílvia casam ainda este ano (L).

Pulseira colocada e seguimos para Tame Impala, banda que viaja pelas coloridas estradas do psicadelismo rockeiro e cuja voz do líder é demasiado parecida à do John Lennon. Ou assim parece em estúdio – eu cá não dei por nada ouvindo o bicho ali ao pé.

Depois de me encontrar com a Filipa e a Pat na sala de imprensa, na qual jantei filetes de pescada e um hamburguer em miniatura e mais filetes de pescada, corri para o primeiro grande momento do festival. Pelo menos um dos mais aguardados. Beirut.

Vou tentar não me alongar muito em explicar o quanto aquilo me desiludiu. Onde estava o ambiente de festa cigana na tenda do Sudoeste há um ano, na estreia em Portugal? Porque raio não se ouvia os instrumentos e mal dava para decifrar o que o sonolento Zach dizia? Qual a piada de desacelerar os temas num festival cujo mote é o rock (e este pelo menos tem-no, ao invés do “... In Rio”, como diz a doce Ana R.)? Que espécie de festivaleiros eram aqueles, incapazes de fechar a puta da matraca – grupos de espanhóis... – ao invés de se envolverem com o que do palco se fazia? Foi terrível, tão fraquinho que me lembro com mais detalhe de ter conhecido a sósia da Lúcia Moniz, menina do Porto que aterrara no planeta Meco numa nave espacial disfarçada de auto-caravana, do que propriamente do concerto. Ali perto a Pat bem se chegava à frente, esboçando sorrisos na direcção de todos para se auto-convencer de que estava a ser feliz, como na Zambujeira do Mar. Não foi. Não fomos. Adiante.

Seria de bom tom ter visto o Nicholas Jaar, esse prodígio da música electrónica para a cabeça, mas encontros imediatos com a Marta Tarré e amigas, minutos perdidos nas filas para a cerveja e idas à casa de banho acabaram por me fazer esquecer do rapaz. A tenda electrónica foi dele, soube depois. Mas eu próprio ainda seria feliz ali mesmo, naquela madrugada.


No palco principal era tempo de os Arctic Mmmmonsters demonstrarem até que ponto são uma banda fodida. Classe. Menos nível tive eu na Brianstorm - algures para trás de mim fiz voar quase meio litro de cerveja mais ou menos quando a música arranca, isto para revolta do povo ao meu lado: tudo molhado que nem pintos sem se aperceberem de quem lhes tinha aberto a torneira amarela em cima. “Quem foi o gajo foda-se?!, quem foi?!”, ouvi questionar o pinto do meu lado, encolhendo os meus ombros enquanto cantava “Bryan, top marks for not tryin...’”. O concerto foi a preceito, com o Alex Turner a assumir-se cada vez mais como um verdadeiro líder de uma banda rock, o Alex da voz imaculada e daquela atitude como-se-nada-fosse enquanto 30 mil fervilhavam com I bet you look good on the dance floor e suas primas punk-rock velocistas ou taciturnas ou ambas. Dont’ sit down ‘cause I’ve moved your chair, do novo disco, é o resumo disso mesmo. Badass. E o público adora e devolve as letras com devoção. Os macacos já são uma banda de massas.

Com James Murphy vês a luz

Dali seguimos para a tenda electrónica na companhia dos gémeos Delgado, da Círia, que namora um deles (André), da sorridente amiga da Círia e dos restantes amigos. E que nos esperava às quatro da matina? Sir James Murphy, versão a solo. Não sei que raio deu na cabeça do homem para aceitar passar som àquela hora mas furámos a enchente até perto da grade e pim! pim! pim!, foi divinal e foi até a manhã aparecer atrás dos pinheiros. Tenda à pinha antes das quatro, tenda à pinha depois das seis. La folie.

Caminhar no regresso aos carros – sim, não cometi o erro do ano passado, não volto a acampar na faixa de gaza - foi uma delícia. Em contra-mão com os festivaleiros, passámos do histerismo para a mais absoluta serenidade. A manhã espreguiçava-se, fresca, insolente. Passámos pelas brasas no carro até eu chatear o meu amigo à primeira gota de suor que me escorreu testa abaixo, como nos tempos de miúdo impaciente em que a minha única preocupação era levantar-me cedo para ver desenhos animados. “Praiaaaa!!”

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O Sº., incondicional fã do Slash, não estava sozinho quando me apareceu à frente. Fazia-se acompanhar da namorada e do Falâncio. O P., que à noite não enxerga porra nenhuma, cumprimentou duas vezes o irmão de luta do Neto. Foi ele próprio quem me disse isto e eu parti-me a rir quando ele acrescentou que, estando no enfiamento de uma torre de iluminação, não tinha percebido quem o bicho era. A dada altura o Sº. aproximou-se e ofereceu-me a “droga do amor”. Não tenho por hábito meter aquilo para dentro, até porque na maior parte das vezes não sabemos de onde vem aquele comprimido branco e pensei que, se o fizesse, naquela fase pós-concerto dos Arcade Fire, iria claramente a correr até Lisboa só para ver o Cristo-Rei imitar aqueles 30 mil no gigante refrão da Wake Up e voltaria ao Meco, repetindo o circuito ininterruptamente até Agosto. “Hum... melhor não, já maluco estás tu que chegue com um concerto bíblico mais o Grant’s que te esqueceste de engarrafar em plástico na noite anterior e hoje viraste-o todo”, concluí, de mim para mim. Os Arcade Fire lembram-nos que o amor é a resposta. É um completo exagero. Mais alto do que eu só deve ter cantado o P. Que prazer... Nada que eu conheça na música é tão poderoso como viver um concerto de Arcade Fire. O video em cima, com milhares em comunhão a cantar a Wake Up, não é aconselhável a cardíacos. É como a Patrícia ver a Ana Vieira subir ao palco pelo braço do Rodrigo Leão. Too much.


Pat loves Ana Vieira

Antes, a minha primeira vez com os Portishead. Não sei de onde vem aquilo com que a Beth Gibbons canta, mas é impressionante. Arrepia. O público respeitou. O som estava irrepreensível, ao contrário de grande parte dos concertos no palco principal – e o vento não pode servir de desculpa, era o que faltava, então não há vento nos outros festivais? Foi incrível ouvir a Roads ou a Glory Box com 30 mil e uma pessoas a sussurrar, em penúria, pelo golpe de misericórdia. Que presença..

Vou-me lembrando das coisas e do que assim de repente recordo é de cerveja na mão ter depois corrido até Chromeo para encontrar o Abreu e sua crew, pois o plano era irmos todos para a casa dele na Venda do Alcaide. Nisto aparece-me a R., com quem andei enrolado há um ano após The National, e logo de seguida dou de caras com o rapaz que supostamente a andava a comer na altura e que nos viu aos melos, optando por disfarçar e desaparecer em vez de me esmurrar com vontade, embora eu não tivesse grande culpa no cartório - não tenho dons de adivinho.

Situaçãozinha, hein? Rodeado por eles, sorri e cumprimentei ambos como um verdadeiro profissional e continuei na minha até abençoar a chegada da malta com quem passaria as próximas 24 horas. Ali estava o Ruben, namorado da Joana sem a companhia da Joana, o Abreu e a namorada Susana, a Filipa e a Mariana, amiga da Filipa que ninguém conhecia e cresceu nos States e rapidamente vi ter o que é necessário para ser feliz no meio de gente como nós. Pelo meio ainda encontrei a Fada do Miradouro, que tem olhos de água e será a minha parceira de guitarradas numa viagem pelo Portugal profundo, mais para o fim de Agosto – somos miseráveis a tocar e queremos mais.

Na tenda electrónica pulámos até depois das cinco a ouvir não sei bem o quê, tal a moca, e bazámos em dois carros. Fui no do Abreu, que tem mãos mas conduz de forma demasiado agressiva, no limiar do parvo. A dada altura vi o prego demasiado fundo, com o Ruben a fazer macacadas mesmo ao nosso lado, ao volante do outro carro que levava a malta, e dei um arranque ao Abreu, que amuou. Resultado: fomos a passo de caracol até à vivenda, onde passei o tempo sentado num alpendre a desafinar numa guitarra para canhotos enquanto acusava o Ruben, que desafinava menos, de dizer cerveja com 'S'. Temos pena do passo de caracol e também da M., a quem por gentileza e muito boa vontade consegui arranjar pulseiras relativas aos três dias, isto sem ela sequer pedir – vi lamentos dela no Facebook e meti mãos ao trabalho -, e só soube notícias dela lá fora quando saí do recinto ao entardecer para lhe dar o bem bom. Tinha de ficar ali à espera de alguém, mas ficou de me dizer alguma coisa para estarmos juntos lá dentro. Até hoje. Muita pancada leva um certo tipo de pessoas. Uns aprendem, outros não. Espero fazer parte da primeira equipa.

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Saí durante a Someday e a quase um quilómetro ainda ouvi morrer a You Only Live Once. Ao entrar no carro liguei a rádio na 3 e ouvi o locutor despedir-se do festival. Mais tarde confirmaria: além de o Casablancas estar perdido de bêbado, os Strokes tocaram uma hora no encerramento do palco principal do SBSR e foram-se embora sem encore. Um conselho àquela navegação rockeira: pá, acabem de uma vez e não manchem o que de bom fizeram, que aquilo no Meco foi deprimente.

Era o último dia do festival e eu já funcionava a meio-gás, até porque queria sair durante o concerto dos Strokes e evitar o caos da saída para chegar ao aeroporto a tempo de estar com a S., que mora na Dinamarca e estava em Portugal durante 36 horas para ver uma amiga e despedir-se do namorado dela. Cancro. Pouco tempo. Ela veio de Copenhaga. Eles do Rio de Janeiro. Isto é amor.

Passámos o dia num registo festivo, mas pouco festivaleiro: piscina, sol, cerveja, patuscada carnívora e vegetariana na linda casa do Abreu.

Perdemos todos os concertos à luz do dia mas cheguei a ouvir Slash no seu registo a solo, que não me diz nada, um rock que já não existe cantado por um tipo de olhos claros, voz engraçada e a atitude rockeira do dono do tasco onde costumo jantar. Ouvi a Sweet Child of Mine. Menos mau.


No palco alternativo os Vaccines fizeram as vezes dos Temper Trap em 2010 enquanto banda que levou do público o Óscar de melhor banda de rock independente. Não me entusiasmam por aí além. Tudo o que têm mais a pender para o la-di-da enfrenta o dilema melodia (gira) - letra (inexplicável). Mas sempre que as guitarras aceleram dá para perceber o encanto. Foi um bom momento. E o vocalista é o irmão gémeo tímido do Colin Farrell. E estes flashes aqui em cima resultam muito bem para empolgar a malta numa faixa com um refrão terrivelmente catchy a saltitar numa canção que de outro modo seria fraca.

Mas emocionante foi ver a S., directamente do Meco para o aeroporto. Todo eu pó estacionei onde não podia e vi-a aparecer na companhia de um casal amigo - não o que vinha do Brasil, outro. Fomos beber cerveja para o bar. Depois de trocarmos trivialidades a quatro os amigos dela deixaram-nos a dois sob pretexto de terem de acordar cedo. Simpáticos. Tinha saudades da S. e daquele beijo nunca inteiramente entregue, que nunca deixo de estranhar. Gosto de beijar, permite que se faça pause quando fechamos os olhos e se saboreia, diz a S. e bem. Há vários tipos de beijos e o dela, defensivo, não tem pressa. Nunca teve. Em nós concentrámos os olhares dos viajantes e das câmaras de vigilância. Estava na hora. Abracei-a apertado e soltei-a para o check in e o regresso à Dinamarca. Momentos difíceis, estes, que a S. atravessa, ela que também sofre com o sofrimento de quem gosta e faz os sacrifícos necessários para que tudo o que resta na vida do companheiro da amiga corra menos mal do que poderia. Gosto da S.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Uma ou duas coisas sobre elas e eles


Certas coisas delimitam claramente a fronteira das naturezas feminina e masculina. Sabemos que elas, as mulheres, ficam a arder ali antes da menstruação e andam por aí especialmente rabugentas e carentes e precisam de um parceiro, e que depois chegam as cólicas e sofrem muito sem abrir a boca sobre os motivos. Cabe a nós, homens, adivinhar do que se trata sem fazer grandes perguntas sobre um assunto incómodo e abraçá-las em conchinha e dizer que faremos o jantar, mesmo que seja bife com batatas fritas (se forem congeladas estamos a pôr-nos a jeito) ou que elas ouvindo o que no fundo querem nem nos deixem aproximar do fogão com receio de alguma calamidade. Mas é bom dizer.

Sabemos que nós, homens, carregamos a bandeira (o fardo?) do pragmatismo e não gostamos de dissecar tudo o que mexe e que por vezes (vá, muitas) uma cerveja na mão ou uma bola a saltar à nossa frente ou na televisão é o suficiente para estarmos bem.

Mas interessa-me muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa, Rui Veloso, e acho que até somos mais parecidos do que à partida parece - fora o óbvio, o físico, o que salta à vista.

Mulheres ou homens, comprometidos ou não, precisamos de um qualquer flirt regular para nos entreter, algo que mantenha constante a sensação de sermos desejados. Muitas vezes até fazemos publicidade sem querer vender, mas passamos aquela mensagem de que o negócio até seria possível. E um dia será.

Ver ex-namorada(o)s felizes com terceira(o)s é, não me lixem, faca a desbravar entranhas. A posse nunca se esvai totalmente. “Não guardo rancor, só quero que sejas feliz” o tanas pá!, que a nossa vontade é de a(o)s ver miseráveis a rastejar aos nossos pés, implorando o “tentar outra vez”.

E quando gostamos, gostamos mesmo. Vale tudo. Regressamos ao instinto-guia, de animais que somos. Trair ou forjar traição? Claro, se necessário. Somos juizes em causa própria. O bom senso, a fidelidade, isso fica para os outros. Nada detém um peito a cavalgar de paixão. O gesto ou palavra certos da pessoa proibida e fica-nos logo a apetecer, é um desgoverno. E o amor é mesmo cego.

domingo, 10 de julho de 2011

A ressaca tem óculos escuros



Há um estranho gozo quando deixas de te abrigar das nuvens e aceitas a tempestade. Atinges um outro grau de realização, uma outra coisa. Eterno será o dia em que eu estiver num concerto dos Radiohead.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Haters gonna hate. Not me


Não fazendo parte daquela equipa que adora odiar os mui correctos Coldplay, os U2 e todas essas grandes bandas, só porque sim, porque são isso mesmo, grandes (“irritam-me!”), importa dizer que nem por isso sou especial fã deles, mas entre outras coisas que já fizeram sempre gostei muito da Fix You. Em 2006 ou ano que o valha tornou-se de certa forma a música que mais me liga ao Marcos, de quem gosto como um irmão e de quem tenho dois dias de diferença (sou mais novo! ihihi) e com cuja mãe a minha andou na ginástica pré-parto.

Da Fix You, uma de tantas músicas singalong dos Coldplay, falámos pela primeira vez numa das várias visitas que fizemos à Queima da Inbicta, na qual duas amáveis portuenses nos levaram o pequeno almoço à cama e fizemos a viagem de regresso com o sol a bater de frente na tromba e o Marcos a parar em todas as estações de serviço para molhar a cara e não adormecer ao volante, o que de contrário seria chato. Ou terá sido noutro ano? Hum... mas tanto falámos dela, da Fix You, que, claro, não a chegámos a ouvir. Nem aí nem qualquer outra vez – juntos, pelo menos, até anteontem, achamos que nunca!


A partir dessa viagem ao Porto, sempre ou quase sempre que a ouvissemos na rádio ou num canal de música, mensagem: “’tá a dar Fix You!’. Cinco anos depois ou coisa assim vale a pena estar a dever 50 moquinhas pelo bilhete com o qual entrei no Alive!, isto quando numa primeira fase decidi que este ano não iria ao festival e depois achei que tinha "Gastão" por novo apelido quando um golden ticket para o dia 6 me caiu no colo, (julgava eu que) de livre e expontânea vontade. O trabalho impediu-me de espreitar os Naked and Famous mas tive tempo para me desiludir assim um bocadinho com o James Blake, uma vez que também já não esperava muito do rapaz – não percebo o encanto colectivo quando a melhor música que toca nem dele é, certo Feist? -, mas houve tempo para ouvir o grande vozeirão da cena pop-rock feminina actual (Anna Calvi, que olhos minha mãe!) e o maior paneleiro à face da terra (Patrick Wolf) dar um espectáculo do caralho, desculpem lá o meu francês. Não chegámos a aturar os Example, que no meu trabalho de casa decobri não serem exemplo para ninguém. Mas valeu sobretudo pelos Coldplay e por estas fatias do concerto que vão encontrar aqui em baixo, especialmente a última. Foi a noite toda nisto.


Legenda: "yeaaaaahhhhhhhhhh!!"


Legenda: se não podes vencer este coro, junta-te a ele: "óoohhh óoooooooo óoohhh óoooooooooo"


Legenda: lindo, porra!

Contra-review

É sempre bom ir a um concerto do público português, essa superbanda. Diz que os Coldplay foram vê-los na quarta-feira.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Levem-me a sério, vá lá/Dogtown

Levem-me a sério, vá lá

Sou um adulto muito responsável e quem disser o oposto é imaturo e baba-se a dormir. Vem ao caso que reunimos na Rocha uma parte importante do grupo marroquino, o que não acontecia há mais que muito. Era sexta-feira e para retocar a tradição fomos ao Outro Bar pedir uma garrafa de Red Label, logo a seguir a entornar umas minis em frente à Taberna do Sul, (um dos muitos) canto(s) de charme na Rocha. Copos, gelo, whisky e a música especialmente má do espaço, requinte de mosca. Guião ideal: boys would be boys.


Cercámos uma mesa alta com a garrafa ao meio e não demorou mais do que cinco minutos até sermos abordados por duas mocinhas. Uma, a Paloma, a que se nos dirigiu, potencial destruidora de lares, era um escândalo; a outra também deveria responder por algum nome mas não recordo bem qual, na certeza porém de que saíra à rua vestida para matar ainda a algumas boas piscinas de se tornar mulher. Fizemos umas contas por alto e compreendemos que teriam menos de 20 anos. Eram espanholas, do sul, e queriam beber da nossa garrafa. “Querem beber?”, perguntei-lhes, fazendo de conta que não ouvira a Paloma, de caras a menos miúda, e assim pude ganhar umas fracções de segundo e analisar o cenário jurídico. (Tive 11 a Introdução ao Direito, respeito). Depois olhei para um amigo meu que estava junto ao bar e tem apelido de antiga capital de país africano, encolhi os ombros e pedi-lhe para trazer mais dois copos. Não sou cá pai de ninguém – querem beber, bebem. Talvez estivessem ali a ter as primeiras férias sozinhas no Algarve acolhedor. Metiam conversa com rapazes portugueses uns dez anos mais velhos que elas. Ainda por cima estavam cheias de sorte - somos boa gente. Que bebessem.

A dada altura percebeu-se que a Paloma se queria organizar com o meu amigo que mais merece ser feliz, até pelo que aturou nos últimos tempos; todos nós o percebemos e ela também percebeu que nós percebemos e como tal tocou-me no ombro e com os indicadores e polegares fez-me o sinal de um coração, indicando-me a amiga dela, que não dizia uma palavra e chupava a bebida dela pela palhinha a olhar para o tecto como quem pede, “tirem-me daqui!”. Na verdade até tentei meter conversa só para não parecer mal, mas como não tenho grande perfil de educador de infância depressa saí de cena, sendo substituído por alguns amigos, à vez. Por essa altura já a segunda garrafa tinha aterrado na mesa, o meu amigo com apelido de antiga capital de país africano metia-me gelo dentro das calças e depois levava com ele nas trombas e depois roçava-o na cara de uma amiga nossa que achava tudo muito lindo e o Alex arrotava responsabilizando a natureza humana e o Elástico reflectia sobre todas as coisas - por essa altura isto tudo acontecia e a moça continuava sem dar sinal de vida. Acredito que tivesse uns 16 anos.


Já a Paloma, soube mais tarde, tinha 19 a caminho dos 47. A moça pingava confiança. Da mesma forma que pediu/ordenou beber connosco ela em menos de nada engatou o meu amigo que mais merece ser feliz, até pelo que aturou nos últimos tempos, arrastou-o para fora do bar, uma, duas vezes, a segunda das quais rumo à praia, para o mar, fizeram tudo o que é importante e acrescentaram algumas curiosidades no sempre difícil contexto arenoso, tiraram registos com mais pudor do que outros e cada qual foi à sua vida feliz e contente. Paloma, 19 anos: ali está alguém que sabe o que quer.

Foi já quando o dia nasceu que me encontrei com o meu amigo que mais merece ser feliz, até pelo que aturou nos últimos tempos. Deu-me boleia até casa e estávamos radiantes: eu por ele e ele por si próprio, embora tivesse as calças encharcadas da ida a banhos com a potencial destruidora de lares. Da minha parte, que tinha saído do antro Katedral sem aparente motivo e dei por mim numa roulotte de cachorros quentes a fazer o que se faz quando se vai a uma roulotte de cachorros quentes, não havia grande assunto: não via quase nada à frente depois de duas garrafas e de horas a dançar e só me ria e empurrava o meu amigo a dizer que ele era aquele que mais merecia ser feliz, até pelo que aturara nos últimos tempos. Desnecessário era que o meu amigo com apelido de antiga capital de país africano tivesse aparecido à porta de minha casa a apalpar a buzina do carro do avô como se a quisesse esgotar ali mesmo, acordando o bairro inteiro, meus pais incluídos. Há coisas mais agradáveis do que ir de fim-de-semana a casa e dar os bons dias ao teu pai às sete da manhã sem teres ido à cama depois de uma noite de vadiagem.

Dogtown

Jantar de rapazes foi o mote da noite seguinte, mas tinha para mim que não podia abusar. De manhã cedo agarrar-me-ia ao volante para regressar a Lisboa, ainda por cima a ouvir o próprio eco. E trabalhava – sim, eu começo a semana ao domingo praticamente desde que saí da Faculdade, em 1789. Mas se o jantar de rapazes foi o mote, correr foi o modo. E nós corremos a noite inteira. Primeiro para o restaurante Cletonina, ao qual interessava chegar cedo. Quando lá estacionámos já o P.º, o Paulinho e o Elástico bebiam sangria, ainda por cima branca, o que o Alex de pronto frisou ser bebida de putas. Gozámos muito com eles, eu, o Alex e o Nelas, e pedimos o nosso tinto Marquês de Borba “porque o casal na mesa ao lado” também estava a beber disso, mas o bem bom demorou a chegar - "desculpe, o vinho ainda está a ser feito?" - e mandámos vir mais três copos para também recebermos o líquido do putedo.

Ao lado, atrás, em frente, por todo o lado, o rasto a creche de sábado à noite. Uma miúda em especial chamou a nossa atenção porque protegida pelos pais quando por nós passou a espreitar, a espreitar, e soubemos que ela, bem gira, ia gostar da atenção de rapazes mais velhos, ia gostar disso em vez de aturar os palermas da idade dela, aqueles que um dia nós fomos (esses mesmo), e soubemos também que ela se iria virar para nos fitar uma última vez antes de descer as escadas para a rua, coisa que fez, virou-se mesmo e aplaudimo-la em apoteose e ela partiu-se a rir e o pai rosnou feio.

Tudo preparado para uma noite à antiga e eu de manhã cedo já agarrado ao volante. U-la-la. Tinha de me portar bem.

O respasto foi belíssimo e quando nos levantámos para pagar reparámos que uma das raparigas na fila tinha uma tatuagem temporária no peito. “I am no dyke”. Bom saber. Obviamente que a raptámos e tirámos fotos enquanto ela tentava fugir, em vão, vermelhíssima e orgulhosa.



Demos umas voltas e parámos no Cheers. Excepcionalmente estava a passar música jeitosinha (Michael Jackson) e decidimos comprar ali mesmo uma garrafa de Red Label antes de irmos para Ferragudo à festa da NAU, à qual tentaríamos chegar através da única forma que a nós, comuns mortais a caminho da embriaguez, era possível: o barco-táxi - até àquela noite apenas reduzido à dimensão de mito. Mal entrámos no Cheers centrámos atenções numa mesa, onde, rodeada de amigos e familiares, uma loira de terras dinamarquesas, já morena pelo rei sol, olho azulão fato-macaco, vinte e poucos, sorria como uma cobra venenosa, fsssssssstttttttttt, arrasando. O P.º fez-lhe a corte e em poucos minutos já lhe dava uma lição de como dançar agarradinho, com - tudo mudou rapidamente - a pior das músicas possíveis. A tensão entre eles era grande mas os ventos anelares não sopravam a favor. Um desperdício.

Do Cheers acorremos aos trambolhões para a marina. Não se dizia coisa com coisa e antes de chegarmos ao pontão vimos aproximar-se o mítico barquinho que se dizia existir mas nenhum de nós tinha apanhado até então, um barquinho com capacidade para transportar aí uma dúzia de pessoas e com assentos almofadados, tão confortáveis quanto possível, e rádio no volante, um barquinho que se aproximava num ambiente sem luz, barulho ou pessoas - nada. (Uma óbvia embarcação clandestina que ali passaria para transportar refugiados ou malfeitores para Ferragudo, ou para uma ilha italiana, a uns cinco minutos ou cinco dias dali, conforme).


Temi que o comandante desse meia-volta e dali escapasse dado o estrilho bíblico que fizemos mas o homem estranhamente não ficou com receio de ver tanto macaco bêbado e levou-nos para el otro lado del rio Arade, noite dentro, na maior paz. “Tá-se bem em Miami”, dizia e insistia eu depois de saber a melhor - “quanto é, chefe?”; “Nada, o trajecto é gratuito”.


De alguma forma os astros se alinhavam para nos agradar naquela noite, o que pôde ser comprovado quando desembarcámos na festa da NAU a renovar a noção de estrilho bíblico e, surpresa, fomos recebidos pelos seguranças como reis. Não percebi nada daquilo. Alguém dali os deveria conhecer. Lá dentro a festa era fixe, com uma boa banda de covers e gente disponível para o pagode. As bebidas eram caras. Dos Rambóia, banda em causa com um líder e vocalista e baixista e entertainer nascido de uma improvável ménage a trois entre o Filipe Gaidão, a Lady Gaga e o José Castelo Branco - não me perguntem quem pariu - ouvi Muse, Kings of Leon, Rod Stewart, Xutos, Metallica, Abba e até System of a Down entre muito salto, muito copo e muito disparate, nomeadamente de um miudo com pinta de totó que ali ao pé fez um lamentável strip ao som do Joe Cocker e do êxito “Tira a roupa mas deixa o chapéu on”.

Na festa encontrámos mil e um conhecidos. Eu, por exemplo, apertei os calos ao David Moutinho, que não via há anos, e soube que há um ano o João esteve a um passo de assinar pelo Benfica, o que só de imaginar me provocou aquela sensação de enjoo em mar alto; encontrei também várias amigas, sendo uma delas ex-namorada, entretanto já mãe e famosa por sem ajuda suar da palma das mãos. Foi num pé dela que aterrei no meio de uma sessão de saltos para celebrar a vida com o Nelas. Houve gritos e pedidos de desculpa. Tenho cá um jeitinho, vou-te contar.


Divertimo-nos à brava mas tinhamos pouco tempo – o último barco chegava às 03:30. Na correria de volta para o barco depois de dezenas de tentativas frustradas de 'toca a reunir', o Nelas, que se queixava de ter sido usado por uma inglesa de 34 anos recém-feitos, ainda conseguiu comer uma boa dose de areia, e o Alex quase ficou em terra e quase foi expulso e quase caiu ao rio, mas conseguimos que entrasse no barco quem dele tinha saido duas horas e picos antes.

Pequena viagem. Festa. 

Mal chegámos ao pontão do lado da Rocha, o P.º lembrou-se de praticar marcha e fomos atrás. Não sei quem ganhou a corrida que fiz com o Paulinho mas sei que o Alex aproveitou e passou por nós a correr mesmo correndo e iniciou uma jornada épica de uns 1000 metros/barreiras por toda a avenida Tomás Cabreira até ao hotel Júpiter, seguido de perto por nós, que saltávamos de banco em banco e de muro em muro até o Alex adormecer na caixa aberta da carrinha do buffet da La Dolce Vita. Não sem antes haver uma pausa para homenagear a demência na subida para a fortaleza. Depois, eles para a discoteca e eu para casa e poucas horas volvidas, volante. E explicar a minha viagem de regresso a Lisboa ficará para os impossíveis do professor Bambo.