quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Mexam-se!

Querem andar bem da vida, mente e corpo fresquinhos ao mesmo tempo que poupam dinheiro e chatices? Epá façam desporto. Deixem-se de merdas. Fora lesões normais para quem, mais ou menos a sério, sempre jogou à bola, nunca tive problemas. Ria-me de quem dizia que doía aqui, doía ali. “Mexe-te!”, respondia.
Dá-se o caso de que fiz um torcicolo a jogar à bola na manhã de 17 de Novembro, coisa normal, ainda assim mais agressivo do que esperava. Fiquei cerca de um mês sem praticar desporto e voltei a mexer as pernas na véspera de Natal, uma corridinha tranquila até à praia antes de encher a boca de fritos. Voltei à praia de manhã, para reparar estragos, desta vez com tio e primo. Fizemos duas séries de meia hora a correr num ritmo palerma para quem, como eu, não mexia os ossos há um mês – quer dizer, seria sempre palerma. Comecei a sentir dores no joelho direito durante a segunda série, após um banho de mar, e cheguei a casa já a arrastar-me. Mal conseguia andar nos dias seguintes e fui ao hospital. A lesão não era grave, mas requer fisioterapia, que ainda não comecei porque estou mais preocupado com as dores nas costas que me afectam há algumas semanas e que automaticamente me expulsam da cama cinco ou seis horas depois de me deitar. Tenho um problema de coluna desde os 18 anos, devido a uma trapalhada com uma mota, mas a prática física constante fortalecia-me a zona e o problema não se manifestava. Até parar. Regressei ao hospital a pensar que seria dos rins – já tive duas crises -, mas não: deve ser coluna. Teria de ver um especialista para confirmar. Acontece que também não fui ver o especialista porque devido a este despertador natural ando a dormir poucas horas, o que poderá muito bem ter contribuído para as dores pulsantes que passei a sentir na fonte esquerda e que me têm ocupado o espírito - enxaquecas, possivelmente.

De modo que aceitem o conselho de quem vos escreve com humor de cão: MEXAM-SE!

(p.s: Mãe, Pai, se me estão a ler, tudo tranquilo!)

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Amour

 
A cena mesmo é ver o Amour ao sábado à noite no King com o tecto do cinema a estremecer durante duas horas devido a um bar que funciona ali no edifício e passa techno de feira.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Petróleo em Alvalade

Categórico. Normal. A melhor formação do mundo a ser a melhor formação do mundo. Ver consecutivamente os leõezinhos a fazer travessura destas e depois tentar perceber o que tem acontecido a este Clube no que toca à gestão da equipa profissional deve ser tão fácil como infiltrar-me na Mossad, rezar cinco vezes por dia virado para Meca e ninguém estranhar.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O cão que mordeu a dona (e outras coisas)

Vê-se todo o tipo de coisas a acontecer num hospital, e, se calha receberes a pulseira verde, há uma coisa que não te vai falar: tempo para as testemunhares. Bastante, no meu caso - contei 24 pessoas à minha frente. Com mais, ou menos queixas, ninguém parecia tão necessitado de cuidados médicos como a miúda entre os 20 e os 30 que estava à entrada do São José. Tinha a cara marcada por feridas, sobretudo no nariz, mais exposto. Dois rapazes falavam com ela. Faziam perguntas, aliás. Apurei o ouvido. Percebi que tentavam ajudá-la, perceber o que se passava. Um deles parecia esperar pelo momento certo para fazer a pergunta óbvia. "Foi um cão?". Ela, incomodada, não respondeu à primeira, mas lá acabou por assumir que sim. O rapaz não desarmou e perguntou se tinha sido o dela. Hesitando, ela respondeu: "Sim". "Um pitbull?" "Sim, mas é problema meu".

Não demorou um fôlego até o rapaz das perguntas notar como os cães dessa raça são perigosos, como "é preciso ter cuidado" com eles, mas a rapariga, cada vez mais desconfortável na pele de vítima do próprio cão, despachou-os em menos de nada até conseguir ficar a sós com as feridas. Desconfiei que não tivesse cartão de utente e falei dela à funcionária da recepção, a qual, em cima de uns saltos épicos, media 1,65 metros a caminho da minha altura.

A sala de espera do São José tem cadeiras em madeira, folhetos informativos sobre logística interna e sobre farmácias de serviço, um, dois extintores, um telefone, uma máquina de refrigerantes e doces, uma casa de banho e uma planta. Não se faz porra nenhuma na sala de espera do São José. Entre tanta cabeça pensante, não houve uma só que se tivesse lembrado de conferir àquele espaço uma imagem mais colorida, leve, que agradasse à vista, servisse de conforto, a ninguém pareceu interessante fazer passar uma música que distraísse os pacientes, Velvet Underground, algo assim, de embalar. Nada. Os sons que ali se ouvem são de bocejos, lamúrias e de uma outra conversa de circunstância sobre os problemas de cada um, mas nada irrita tanto como o barulho das luzes de presença, só comparável na medida da tortura aos cânticos da claque feminina do Nacional da Madeira.

Tinha feito a minha inscrição à meia noite e, mal saí da triagem, fui ouvindo relatos de pacientes que ali se diziam há seis, sete horas, sem ainda terem sido atendidos. Preparei-me mentalmente para chegar a casa já a desviar os olhos do sol e concentrei-me no amigo que tinha levado, o Notícias de Coura. Em breve, nada da actualidade de Paredes de Coura esconder-me-ia quaisquer segredos, o que tanto era benção como maldição - ficava, de novo, sem ter o que fazer. Levantei-me, pedi um papel e uma caneta, voltei ao meu lugar e fui escrevendo isto que para aqui vai. Fazia pausas. Levantava-me, fingia-me interessado na estrutura dos extintores, das paredes, das LUZES DE PRESENÇA, ia lá fora espreitar  se o castelo de São Jorge continuava no mesmo sítio, voltava, escrevia mais um tanto. O tempo, esse, teimoso, não passava. Duas horas e meia de espera e sabia o Universo quantas mais teria pela frente até ouvir o meu nome. Ao mesmo tempo ia actualizando o meu irmão sobre os acontecimentos. O que eu não sabia era que ele estava a beber um copo em Portimão com o pai de uma estagiária precisamente do São José, não percebi se enfermeira ou médica, de modo que se fizeram telefonemas a solicitar pedidos e obtiveram-se respostas com resultados. "Rui Coelho, gabinete dois. Rui Coelho, gabinete dois."

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Noir Destin

Cheguei a casa cheio de mimo, depois de jantar no restaurante com a melhor relação qualidade/preço que conheço. Aterrei no sofá e liguei a televisão. Comando. Passei pela 2: exibiam o filme "Terra Ferma" - a propósito, Relvas, se me lês, vendes a 2 e deixo-te a boiar no Tejo. Descia pelo ecrã a cascata de créditos finais ao som de uma canção incrível e encetei uma perseguição em busca dela. Com sucesso. Percebi que se tratava de uma versão de um tema de 2001, original de uma banda francesa, Noir Désir. A versão que me hipnotizara era de uma cantora suiça, Sophie Hunger. 


Investiguei mais um pouquinho e compreendi que conhecia a banda original, aliás, tinha um disco deles, o que é diferente. Tive sorte: não é que encontrei nesse mesmo disco ("des visages des Figures") a música original? Pu-la a tocar. Era pop, como a outra, mas tinha um ritmo mais animado - percebi depois que com guitarra do Manu Chao, em estúdio. Ainda assim mantinha uma energia e mensagem de certa forma estranhas, perturbadoras. Le Vent Nous Portera/O vento irá levar-nos.


Não sei que raio de pesquisa fiz para, dias depois, dar com um artigo que me informou que o vocalista (Bertrand Cantat) destes Noir Désir espancou a namorada até à morte em 2003. Isso mesmo, um assassino. Em tribunal confessou ter batido quatro vezes na cabeça da namorada, a actriz francesa Marie Trintignant, devido a um SMS que esta recebera do ex-marido, mas insistiu que a matou por acidente. A autópsia revelou 19 golpes na cabeça da Marie, que sucumbiria três dias depois. Um edema cerebral.  Condenado a oito anos de prisão por homicídio involuntário, o músico cumpriu quatro. Bom comportamento e em 2007 estava cá fora. 

Fiquei confuso. Demasiada informação em muitas direcções e pouco tempo. Será possível respeitar o artista e ao mesmo tempo desprezar o homem? Será justo fazê-lo, tendo já ele pago (?) pelo que fez, ainda por cima tendo de viver todos os dias com a culpa de ter morto a namorada? O Universo achou que não e, em 2010, a ex-mulher dele, a quem o Bertrand deixara para ficar com a Marie Trintignant, achou por bem enforcar-se com ele a dormir lá em casa. O cadáver foi descoberto por um dos dois filhos que tinham. Coisa horrível.

Descubro um artigo do Guardian. A jornalista que o escreveu está revoltada: em 2012, Amadou & Mariam, a dupla pop invisual mais conhecida do Mali, convidou-o a participar num disco. No vídeo de um tema chamado 'Oh Amadou' recebem de braços abertos um Bertrand a sair de um comboio, de mochila às costas, como quem chega de uma longa viagem, como quem visa um recomeço. A jornalista do Guardian não aceita: "Nenhuma música bonita do Mali vai apagar a morte de Marie Trintignant", lê-se no título.


Se confuso estava, mais fiquei. Demasiada informação em muitas direcções e pouco tempo. Será possível respeitar o artista e ao mesmo tempo desprezar o homem? Deito-me sem respostas.