segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Natural

Todas as mulheres são únicas - umas mais que outras. No caso, é a graça que a distingue. Disse-lhe: “Tens um ar aluado, um certo charme, leve, diferente, que não se vê por aí. Apetece estar perto”. Devolveu: “Sou natural”. Sorri, encurralei-a – gosto de a deixar sem alternativa - num beijo sem saída e assenti. “É isso.”

sábado, 7 de janeiro de 2012

Um amor grave

O amor deles não é um standard de jazz, sorrir e estalar os dedos, yeah, um certo bem-estar, não, nunca, é antes uma catástrofe interior, a banda sonora para quem o tempo perdeu a gravidade, o enterro do que um dia foram quando não se tinham, o coro do tudo ou nada dirigido por um maestro alucinado, o requiem do verdi.

Ela virou-lhe a vida do avesso. O Woody Allen faria o Woody Allen dizer que aquelas hormonas deviam ser usadas pelo Pentágono como arma química. Ele é o que ela precisa e nunca teve: um domador de cavalos sem voz. Há um preço: mais do que a voz, ele perdeu o controlo de si próprio. Ela é tudo. Prazer? Urgência. Sensível como só as mulheres, ela leu o des(equilíbrio) e recomeçou a partir daí. Ela diz, ele reage. Bem. É a única lei – ao primeiro desvio ela rasga as vestes. A bem de ambos. Do (des)equilíbrio. Num mundo perfeito ter-se-iam conhecido no elevador para a reunião dos alcoólicos anónimos, bêbados, rumo ao andar errado. Vão resistir.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O pugilista


Os futebolistas que ganham bem, ganham demasiado. É ponto assente. Mas a carreira deles é curta e perigosa. É um desporto bonito de se ver, mas violento de se jogar. Há lesões graves. O Marat sabe do que estou a falar. Apesar do talento que todos lhe reconhecem, o joelho direito não lhe tem permitido jogar futebol durante aqueles que deveriam ser os melhores anos da carreira (25-30). Lembro-me da estreia oficial dele, no Verão de 2007: estava em casa de um amigo, em Vila Viçosa, na véspera de começar o meu segundo interrail, quando o vi dar-nos uma Supertaça com uma direita do meio da rua que deitou ao tapete o maior mercado abastecedor de fruta do país. “Mas que golo!”, gritou o Hélder Conduto na RTP. Rapidamente ganhou em mim um fã com a finta curta que o caracteriza, sempre com a baliza no horizonte. Cruza bem. Remata melhor. O colectivo, para ele, está sempre primeiro. É o meu jogador e profissional preferido do Sporting. Hoje, em Vila do Conde, aos 29 anos, volta a calçar as luvas depois de o joelho direito, sempre o joelho direito, ter voltado a deixá-lo grogue durante quatro meses. Mas ‘knock out’ é um termo que não assiste ao Marat. Os da fruta que se cuidem. Como ele gosta deles...