sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Um Castelo na Escócia Music Awards 2011 - Canções preferidas


Vai quase tudo dar ao pop e rock anglo-saxónicos. Domina o amor. A lista é uma boa lista - o Castelo é muito pretensioso quanto a isso. Tanto que fala na terceira pessoa. Se sobrevivermos ao reveillon prometo que no arranque de 2012 chegará a lista escocesa dos discos preferidos. Beijos e abraços, tenham um ano inspirado entre paredes e fora delas, que sejam aumentados e haja assim pelo menos um par de festas verde e brancas no Marquês. Vemo-nos do outro lado.

(21/1)

21. Um Peito em Forma de Bala, Lacraus



20. Cruel nature, PJ Harvey



19. How deep is your love, The Rapture



18. I don't want love, The Antlers



17. Hearts of love, Crocodiles



16. Under Cover of Darkness, The Strokes



15. Bizness, tUnE yArDs



14. What you need, The Weeknd


13. Cruel, St. Vincent



12. My mistakes, Eleanor Friedberger



11. Helplessness Blues, Fleet Foxes



10. The Look, Metronomy



9. Piledriver Waltz, Alex Turner



8. Holocene, Bon Iver



7. Endless blue, The Horrors



6. Vomit, Girls



5. 212, Azealia Banks




4. The Rip Tide, Beirut



3. The Bay, Metronomy



2. Smash them all (Night visitors), The Dø



(rufar de tambores...)

1. Satellite, The Kills

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Na boca só o namorado

Tem uma noção muito pragmática, talvez desencantada, do sexo. Se gosta e é recíproco, come, mesmo que seja comprometida - é. Homem ou mulher, a dois, a três, não interessa, desde que haja sintonia. Entrega-se ao deboche com vontade. Beijar na boca é que não.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Natalices

(passámos rapidamente da Periquita para o vizinho Escatelar, expressão máxima do bom gosto)
 
Lá em casa todos fazemos alguma coisa no Natal.
 
O meu primo mais novo controla a televisão e ri-se dos erros gramaticais; o meu tio faz barulho e vai correr para a praia comigo na manhã de 25; a minha tia chama parvo ao meu tio e tempera o borrego; o meu primo mais velho frita camarões com whisky e também entra nas correrias natalícias; o meu irmão faz os fritos e realça o que vem para a mesa em promoção; eu vou buscar lenha e controlo a música; a minha avó resmunga, bebe, ri-se, queixa-se, censura o que desconhece, lembra o passado, chora, brinda sem beber, confunde-se, esquece-se de se lembrar e assiste a minha mãe, que faz tudo de todas as coisas, antes durante e depois; a namorada do meu irmão chega do trabalho a tempo de se rir e falar da casa dos segredos, sem porém a ver; que eu não deixo; o meu pai ajeita os óculos e supervisiona a qualidade do produto acabado.
 
Gosto de me deixar ficar pela sala de jantar na noite de 25, fazendo companhia às sobras já depois de todos recolherem aos quartos. Desta vez não houve Sozinho em Casa na televisão. Acho. Que para o ano haja mais neste Verão com sininhos e, mais importante, com a malta rija que nem um pêro.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Alegria

floresta desencantada
O D. fala com autoridade sobre os melhores trompetistas de Chicago, Paris ou Colo do Pito - povoado de Castro d’Aire -, a mesma com que o Gabriel Alves nos dava a conhecer o prato preferido de um futebolista antes de este cobrar um penálti. Dá a ideia de que sabe tudo o que há para saber sobre jazz. Está preparado. Por isso mesmo, e porque é bom moço, aceitei o convite dele para acorrer à reabertura do Hot Clube, ainda na praça da Alegria mas uns números abaixo do espaço anterior. Após estacionar a custo, dei por ele e outro amigo na cauda de uma fila que faria corar de orgulho qualquer funcionário que atenda num centro de emprego em Portugal. É que se perdia de vista. Dez, vinte, trinta minutos; cinco, dez, quinze metros. Entretanto já se percebia qualquer coisa a acontecer perto da entrada. Pareceu-me ver sair de lá o António Costa. Era o António Costa. Pareceu-me que estava acompanhado pelo Sá Fernandes advogado. Era o Sá Fernandes político. (A boina – faltava-a). A fila avançava a passo burocrático e exprimi impaciência através de um cordial “espero que haja uma torneira de cerveja logo à entrada, foda-se”, mas esse e outros argumentos eram de pronto rebatidos pelo D, cujas observações fantasiosas sobre as vantagens de estar lá dentro eram desarmantes. Demorámos quase uma hora a aparecer diante do porteiro. Já tinha ouvido desabafos em meu redor sobre o quanto aquilo estava congestionado, de modo que lhe pedi um conselho. Tive-o: deveria “empurrar as pessoas para ganhar espaço e encostar-me à parede do lado direito”, cito. Obedeci ao génio.

Para quem conhecia o primeiro Hot Clube as comparações são inevitáveis, até dolorosas. Não sei se aquilo é para ficar assim, mas, para já, “aquilo” é isto: uma sala interior possivelmente mais pequena que a prévia, já de si diminuta, com cortinados e paredes verde azeitona, praticamente desprovida de mobília – errr... nem um quadro? -, longe de fazer entender que é pelo jazz que ali estávamos. Como perdi muito tempo na fila para a entrada já só ouvi três ou quatro temas do Septeto do Hot Clube, que fechava os concertos. Clap, clap, clap. Fui depois lá fora, ver o que se passava. Fiquei surpreendido: deparei-me com uma espécie de jardim de Inverno, arborizado mas sem a força do verde. Árvores simples, nuas, tristes. Um espaço com potencial para receber coisas giras, mas, daquele modo, uma floresta desencantada, "careta", "árida", disse em voz alta, demasiado perto de um debate em círculo. Não sei se foi o “careta” ou o “árida” mas algum dos dois termos mexeu com a namorada italiana de um antigo colega de faculdade, que ouviu a descrição e depressa me informou que ali entre nós estava o arquitecto do espaço, que já agora também era o patrão dela. Pensei num bom plano para desaparecer de forma graciosa, mas não encontrei alçapões. Seja como for o D. mostrava-se embevecido com a noite: queria fazer parte daquele recomeço, dois anos depois de ter ardido um dos mais antigos clubes de jazz do mundo. Não lhe quis roubar o chocolate. Aguentei-me à bronca tácita, bem caladinho, que é como melhor estou. Uns minutos, vá.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Passarinheiro

Um dos truques para ter boas noites de sono é evitar passar os olhos pela casa da Fanny, Cátia e companhia. Aprendi isso ontem da pior forma, num serão em família. É que nem preguei olho depois de ver aquilo pela primeira vez. Quero ver quem me tira da cabeça que foi o heil bigode do pai da Fanny a deixar-me naquele desassossego. Não me venham dizer que foram os golos que o lobo falhou em Coimbra, tantos que dava para aviar todos os nossos adversários até Abril. Também não me convencem que a falta de sono se deveu ao excesso de copos da véspera, uma confusão que me levou a estilhaçar um prato no chão da cozinha tão tarde que já era cedo – (o teu sonho de criança é dar os bons dias ao teu pai enquanto recolhes cacos de loiça, balbuciando em vão). Tão pouco teve a ver com  a terapeuta de vidas passadas que conheci nessa noite, uma matulona que me chamou só com os olhos. Naa. Foi mesmo ouvir atentamente a Cátia, ficar fascinado com um novo mundo no qual um grupo de aves é um passarinheiro.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Não é vandalismo, é desespero

Foram anos a fio de protestos, cartazes, manifestações, petições, cartas, entrevistas, marchas lentas, médias e assim-assim, tudo em vão. Nem PS nem PSD quiseram saber. Qual era a parte do “não temos alternativa à Via do Infante” que não tinham percebido? A EN125 é uma rua grande que une Vila Real de Santo António a Sagres. Não são precisos estudos para se perceber porque razão sempre lhe chamaram "estrada da morte". A Via do Infante é a comunicação que nos resta para que o Algarve sobreviva à sua vincada sazonalidade e não é, na sua génese, uma SCUT - apenas o troço Lagoa-Lagos preenche esses requisitos técnicos. Quem anda a destruir os pórticos da Via do Infante, da forma que o tem feito, inutilizando o sistema electrónico de pagamento de portagens, sabe o que está a fazer. É sinal de que, esgotada a via diplomática, o povo continua a querer ser ouvido. Deixou, isso sim, de ser sereno. Ir ao sótão sacudir o pó da caçadeira está longe de ser a opção ideal - é, simplesmente, a última. Os governos que nos estão a empurrar de volta à estrada da morte não podem dizer que não foram avisados.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Vladimiro

Vladimiro, por Platon (Time)
Quando não está a aprovar a chacina do regime sírio ao próprio povo perante a comunidade internacional, ou a mandar prender e, como dizer, matar empresários e jornalistas, é bem provável que o vladimiro possa ser encontrado na sibéria a caçar baleias em vias de extinção ou a enfrentar ursos. Convenhamos: o homem mete respeitinho, que é bonito - o respeito -, e o autor desta fotografia bem o sabe. Trata-se do famoso Platon, que chorou baba e ranho para a poder tirar quando a Time fez do ex-espião do KGB "Homem do Ano” em 2007. A história, aqui (texto), ou ali (vídeo).

O pior da política são mesmo os políticos e a Rússia é um exemplo fiel disso mesmo. Ali tudo se resume a lealdades mafiosas, acordos de circunstância feitos por uma minoria de homens que controla o poder. Uma orgulhosa oligarquia de bandidos. Cada eleição é um espectáculo circense, e, tal como na Sibéria, em contacto com a vida selvagem, o próprio vladimiro já se sente intocável quando lhe pedem para comentar as milhares de denúncias de fraude registadas nas recentes legislativas, além do silenciamento das vozes incómodas através de incontáveis dentenções. “São clichés...”, diz o bicho, um homem que dobra frigideiras, como se quer.

O vladimiro já era primeiro-ministro e foi agora reeleito, mas também já tinha sido presidente por oito anos (2000-2008) e sê-lo-á talvez outros 12 – é candidato oficial desde terça-feira e, muito a propósito, o Medvedev, fantoche político com quem vai trocando de cadeira, alterou a duração dos mandatos presidenciais prevista na constituição de quatro para seis anos. Deste modo, o mais certo é que o vladimiro ocupe o cadeirão da presidência até 2024, governando durante um total de 20 anos. Mais, no Kremlin, só o Estaline (31).

À frente dos destinos da Rússia está um homem que sabe o que faz. Eu é que não percebo os russos. Como recentemente comentava o meu amigo PRR, que volta aqui a ser citado sem o saber, "não sei o que será preciso para compreender o ser-se russo".

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Doutor sem vaidade, na bola e na vida

Valeu, Doutor (1954-2011)
Devemos estar todos  um bocadinho de luto. Morreu o Sócrates, aquele magrinho barbudo que capitaneava a encantadora selecção do Brasil no Mundial'82, ídolo do Corinthians e de quem gosta do desporto-rei. Médico de formação, sempre se envolveu na política ao lado dos mais desfavorecidos. Foi o líder do movimento Democracia Corinthiana em plena época de ditadura militar no Brasil. Foi ele quem mostrou o caminho da igualdade. Gostava também de copos. Demasiado para um só fígado. Ontem morreu aos 57 anos, à terceira internação em quatro meses. Horas depois o Corinthians (Liedson!) era campeão brasileiro. Que violência. Fica o legado de uma referência, doutor sem vaidade na bola e na vida. De punho cerrado, com o sangue dos bons.