"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars." J. Kerouac
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Arctic Monkeys: os rapazes da net estão crescidos
Enquanto músico, já o sabemos, Alex Turner tem mais para dizer do que tempo de canções para o conseguir. A maior virtude que lhe descobrimos ferve precisamente aí: consegue mesmo esse equilíbrio de virtudes, já que o Alex cantor raramente diminui o raio de acção do compositor – aplica-se a lógica contrária. Melodia e letra fluem par a par. A corda da métrica nunca rompe. É, por isso, simultaneamente um observador nato, um compositor dotado de um talento transbordante - imagina-se uma biblioteca engraçada lá em casa -, e um vocalista convincente. Tudo isto, e pelo peso de que o jovem de 24 anos goza na banda, confere a esta um estado de graça que não garante espectáculos de público ganho ao primeiro acorde, mas ajuda. Ontem foi assim: ou porque a base de fãs dos Monkeys conhece efectivamente o trabalho destes - nem sempre isso acontece, não é Sigmund? -, ou porque, no limite, a malta fez o trabalho de casa. Tudo isto na certeza de que as explosões diabólicas de som dos ingleses, um rock de energia punk com reflexões profundas sobre trivialidades, nem sempre foram distribuídas da melhor forma pelos cantos do Campo Pequeno. A acústica não é mesmo o forte daquela (agora só por vezes) praça de touros e de estupidez, olé.
Ao final da segunda música do alinhamento, 'Brianstorm', já Alex Turner acenava à multidão de expressão e gestos vagarosos, como uma diva de passagem pela província que é escoltada por batedores da polícia. Ou então de quem andava ali a reboque de outras substâncias mais, digamos, exóticas. “Thank you, you are too kind”. Aquele humor britânico. De lata de cerveja na mão, três discos e quatro anos depois dos Arctic Monkeys rebentarem no Myspace, Alex Turner surge confortabílissimo em palco na sua versão ‘entertainer’ ‘goofy’, de rainha a pavonear-se para gáudio dos seus súbditos, loucos por lhe descobrir um piscar de olhos que seja, e lá por dentro, ele, Alex, a Rainha, com inteiro desdém por todos eles. Claro que ninguém o leva a sério – começando pelo próprio.
Além do aspecto mais leve dos seus espectáculos ao vivo, os Arctic Monkeys também já se preocupam em apanhar a malta desprevenida com explosões de confettis. Houston, we have a band. O resto, ao contrário do que diz o outro, não são peanuts: é música, muita e boa. Na terceira passagem dos Monkeys por Lisboa, um dia depois de actuarem no Porto, o terceiro disco (Humbug, 2009) foi tantas vezes tocado como o segundo (Favourite Worst Nightmare, 2007)) e o esmagador primeiro (Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, 2006), e a notícia está na (óptima) receptividade que isso mereceu de um Campo Pequeno à pinha. Os rapazes estão a deixar esse frenezim adolescente que é o punk em detrimento de um rock com menos velocidades, mais denso, negro – Josh Homme na produção, por supuesto -, e a coisa resulta, ainda que ao vivo as diferenças se diluam. Resumindo: poucos actos falhados, muita canção entoada a cinco mil vozes – ‘I Bet You Look Good On The Dance Flor’ e ‘When the Sun Goes Down’ à cabeça, mas também os singles de Humbug ‘Crying Lightning’ e essa delícia pachorrenta chamada ‘Cornerstone’ -, enfim, tempo ganho, sem deslumbramento mas ganho.
p.s: menção honrosa ao talentoso baterista Matt Helders, a quem farei a vontade e passarei a tratar por ágil besta, nome que vinha impresso no bombo que espancou sem piedade durante hora e meia.
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2 comentários:
Só por um grande motivo volto àquela sala. Estragou-me o concerto. Receio não ter tanto para dizer como tu, apenas porque, para além do baterista e de alguns pormenores do Alex, tudo ficou aquém. E tenho noção que a culpa não foi da banda.
Abraço
ningém se deslumbrou pa
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