Uma coisa é o nosso clube de infância, aquele que nos ensinaram a gostar sem travões, pelo qual tudo dizemos e fazemos na medida do descontrolo e que tem a capacidade de estragar ou tornar perfeito o que, de contrário, poderia muito bem vir a tornar-se no mais comum dos dias. Só a vitória interessa-me nos jogos desse clube, no meu caso o Sporting – também o Portimonense -, ainda que a equipa maltrate a bola: há uma ligação irracional e no fim do dia só os resultados valem. Resumindo: só perco o sono se não ganhar. Mas se calhar tenho pesadelos. Feios.
Adepto de um futebol criativo – no sentido da criação, oposto ao destrutivo - que tenha a baliza adversária como prioridade, praticado por uma equipa com identidade, solidária, em que os interesses do colectivo se sobrepõem aos individuais, tendo a não dar tanto valor aos resultados no que às demais equipas diz respeito. Amo a modalidade acima dos números. Depois há o Barcelona, que nos últimos tempos a tem tornado irresistível ao conjugar as duas coisas em completa sintonia. Conquistou-me, claro.
Assim regressamos ao jogo de quarta feira: apesar da expulsão patética do Motta, arrancada pelo mau actor Busquets, que deixou os rapazes treinados pelo Zé Mourinho em inferioridade numérica com uma hora de jogo pela frente, a passagem do Inter à final da Liga dos Campeões apenas empobreceu o futebol. Os adeptos do clube e os fãs incondicionais do Mourinho decerto discordarão, mas tenho para mim que uma equipa desinteressada da baliza contrária, que entra e sai de campo só para estacionar à frente da própria baliza - 30 minutos com 11 jogadores, 60 minutos com dez - e impedir a outra de jogar, bem, essa pratica qualquer coisa que decerto terá um nome, mas futebol não é de certeza. Os resultados não podem ser tudo. Digo eu. Aquilo envergonha o futebol. Torna-o mais feio. Descolorido. Castrador. (A decisão catalã de ligar o sistema de rega para evitar a festa italiana em campo após o apito final também entra neste esquema).
72 horas depois, o Barcelona respondeu ao ferrolho épico e lamentavelmente eficaz do Inter com uma
goleada por 4-1 ao Villareal. O título espanhol está mais perto. Mas a notícia mais importante é esta: voltou a dar gozo ver futebol. Observar o rosto do amarelinho Santi Cazorla, ali do lado esquerdo da imagem em cima publicada, enquanto o genial Xavi corre pelo relvado a festejar o golo de livre que acabara de marcar – na altura o 2-0 -, é a prova acabada disso mesmo.
p.s: há quase três anos conheci um miúdo italiano num comboio nocturno entre nice e florença. Era louco por futebol, nomeadamente pelo Cristiano Ronaldo, coisa que vim a estranhar depois de ter ouvido isto: “Eu e os meus amigos estamos sempre a jogar à bola lá na rua. Todos queremos ser defesas”.