quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Comédia italiana: víuva, mas alegre


Il Vedovo, de Dino Risi (1959)

Foi com o coração nas mãos que João Bénard da Costa, director da Cinemateca, introduziu ao pouco público que ganhou a noite de terça-feira para assentar na sala Félix Ribeiro, pelas 21h30, o primeiro de sete filmes incluídos num ciclo não integral de homenagem ao realizador italiano Dino Risi.

Largas vezes esquecido quando mencionados os nomes que construiram a idade de ouro do cinema transalpino – anos 40 a 70 -, Risi apresenta-se ao público português tão tarde quanto o título póstumo pode significar em si mesmo. Deixou o Grande Circo em Junho deste ano, mas regressa a nós já nos primeiros passos de Setembro, na rentrée da Cinemateca após o habitual retiro de Agosto. Fá-lo com "Il Vedovo" (O Víuvo Alegre, 1959), comédia negra exibida numa cópia não legendada, mas de qualidade superior a toda a linha.

Há um nó a enlaçar a trama logo na cena inicial: travelling lateral acompanhando o diálogo andante de Alberto Sordi, que aqui faz de Alberto Nardi - figurinha do pós-Guerra miserabilista, optimista de meias esburacadas, projectos dantescos e conduzido, chaffeur incluído, num mini adorável, a quem a vida, bingo, não está fácil -, com o seu "braço direito", o “Marquês”, protótipo do italiano desenrascado que luta pelos cacos do desenvolvimento económico numa sociedade pós-deprimida; por eles, à semelhança de uma certa fauna que integra, tudo suportará.

Teor da conversa: Nardi conta em que medida se viu, num sonho, a ficar víuvo por vontade própria. Falta-lhe dinheiro e uma assinatura da mulher, aval necessário à formalização de um projecto que lhe renderia muitos zeros de liras, à direita. Ela, crendo-o megalómano e cretino, nega fazê-lo. Solução: matá-la, e ficar com os zeros.

Raras vezes surpreende, raras vezes aborrece: esta divertida comédia (o que nem sempre, coiso, não é?) que vive à base de esquemas montados para disfarçar uma narrativa cedo desmascarada, já valeria a pena só por - agora víuvos de Risi - nos carimbar um sorriso tonto no rosto, a caminho do metro.

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