sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

no rules, grrrreat band

o sr. kapranos não se cansou de dizer que amava lisboa, o que tem a sua graça: lisboa sente precisamente o mesmo mas só na quarta-feira é que arranjaram um encontro a dois, e a foto é da Rita Carmo, pois claro

Passavam 15 minutos da hora marcada quando se ouviram os primeiros assobios, logo silenciados por um coro de aplausos dionisíacos. Será que isto é uma espécie de estádio de Alvalade?, pensei, ou que os Franz Ferdinand vão fazer de Paulo Bento quando subirem ao palco, logo na primeira vez que tocam por aqui em nome próprio, que também é a primeira em que os vejo ao vivo? Outros 15 minutos em cima dos primeiros e a coisa repete-se. Pontualidade britânica só no cinema.

Evidência: não mereço o blogue que tenho, ou o título daquele, que vai dar ao mesmo. Perdoa-me, Escócia.

Ah!, ei-los!, para cima de meia hora depois.

Arranca o concerto.

No you Girls logo na entrada fez-me comichão. Não dava para esperar um pouco mais, deixar a temperatura subir até, digamos, ao insuportável? Eh!, expressei, quando de seguida entraram os primeiros acordes da Dark of the Matinée. Em vão passei as horas anteriores ao concerto a tentar imaginar uma forma de saltar para a plateia, uma vez que o meu bilhete era de bancada, e, agora, ali, no meio dos sentados, no meio dos bem vestidos e comportados, dos bonitinhos e penteados, parecia a Elaine do Seinfeld quando dançou no jantar da empresa, perante o horror de quem assistia.

Mais uma e depois a pergunta-chave: Well Do Ya, Do Ya Do Ya Wanna? – claro que quero, quero muito, quero tanto, quero tudo. Mas havia arame farpado a dividir plateia e bancada. (Se não for farpado é só arame, e se não for arame é qualquer coisa que, a par dos seguranças a arfar com as órbitas muito abertas, atentos como felinos antes de atacarem as suas presas na calada da noite, fez-me pensar duas vezes antes de saltar para a confusão, e todos sabemos o mal que faz isso de pensar, quanto mais duas vezes).

A companhia também recuperava de uma fuga recente aos bichos A. Fiquemos então pelo plano B, de bancada, que não é mau de todo – podiamos sempre estar em casa a escrever sobre aquilo que os outros fazem, ao invés de sermos nós a fazê-lo, para depois o escrever.

Twilight Omens, This Fire. Numa prova de que o mundo é redondo e perfeito, um senhor com óculos de ciclista e mosca pediu-me, de perna traçada e um humor de cão sem dono, para me sentar, por favor, gostaria de assistir ao espectáculo. Isto porque, imagine-se, ousei manter-me em pé e esticar os ossos de forma nervosa, como me é habitual quando a música os agrada. Virei-me e saquei da minha retórica mais chocada: quer que eu me sente na This Fire?!? Eh!, pensei, fuzilando-o com os, portanto, olhos, enquanto sacudia ainda mais os ossos feito demente. Com cara de poucos amigos ficou o senhor com mosca e óculos de ciclista, ou o ciclista com óculos de mosca, ou os óculos com mosca de ciclista, ou a mosca com um ciclista de óculos. O pagode seguiu rumo com mais dois bolinhos de côco até que a Take me Out recebeu o que a This Fire, abordada num estilo muito cru, muito rock n’ roll, muito aquilo que o vibrante quarteto de Glasgow é ao vivo, muito mais do que em estúdio, merecia: uma tocha que incendiasse o Campo Pequeno. O rapaz em questão estava a pedi-las – Take me Out – e o segurança fez-lhe a vontade mais cedo do que tarde. Já falam de ti na blogosfera moço, e esse momento de fama terá sempre mais de 15 minutos. É já depois da Ulysses que oito mãos desatam à pancada com pratos e tambores. Outsiders como a banda sonora de um rito medieval: a malta curte à brava e ninguém arde ao meio, tudo boas notícias.

O encore traz a bonitinha Walk Away em registo balada, Michael e, antes da pedra que é e foi Lucid Dreams, um momento importante da noite. Eh lá, isto soa a LCD Soundystem, desabafei comigo mesmo. Pois, soa porque é, respondi-me. All My Friends, era no Campo Pequeno que os queria na chuvosa noite de quarta-feira.

E entre nuvens de substâncias para rir e afins se esfumou um concerto de quase duas horas, guitarra, baixo, sintetizador, vozes, tudo junto, petebum petebum petebum bateria, oberigadou Lisboa!

outsiders.



walk Away.

4 comentários:

O residente disse...

Os Franz Ferdinand são uma das melhores bandas dos últimos cinco anos e a explicação para a existência deles está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=xhDwuNIAh2o&feature=related

Permitam-me dizer que estes, eram ainda melhores!

M. disse...

não os repeti mas saltei do corpo em paredes este ano. não se pode ter tudo que o super bock chegou.

Rui Coelho disse...

O residente: os arquiduques são filhos dos gang of four, yes indeed

M.: ouvi esse concerto na antena 3, soou mágico; e viva o ziguezague anual da av. da liberdade - lá estarei

Hugo Ferreira disse...

"...o senhor com mosca e óculos de ciclista, ou o ciclista com óculos de mosca, ou os óculos com mosca de ciclista, ou a mosca com um ciclista de óculos..."
Depois desta frase, quero ler o que tens para escrever sobre a av. da liberdade