quase metade das vezes que te vi nos últimos três anos foram no aeroporto de lisboa, de manhã, tu de partida com o coração na boca e eu a querer absorver tudo de ti uma última vez, de novo uma última vez, calado, atento a cada detalhe teu. (noto que já não tens as narinas nervosas de fera imediatamente antes de atacar a sua presa),
depois viramos costas: tu choras entre malas e corredores largos e frios rumo ao teu voo e eu, pesado, arrasto-me de volta à rotina e sinto-lhe a dentada forte - não sei para onde vou mas percebo que tenho de demorar a chegar,
já no alto continuas a tentar perceber o que te leva a cruzar oceanos e recordas
o monte de adoráveis disparates que nos alimenta desde que tentaste acabar com um namoro meu porque me querias ‘salvar’,
o relógio que me roubaste para que, enfim, deixasse de ter pressa,
o dom quixote que três anos depois me devolveste por segundos e logo regressou à tua mala, e dela talvez para o teu jambé, de novo à tua guarda as aventuras do cavaleiro da triste figura que de espada em riste desafiava moínhos de vento, montado no seu fiel rocinante, de novo tu, guardiã da minha sanidade,
sei que vais continuar a florir, neste ou noutro jardim.
1 comentário:
era essa a musica que imaginava a ler isto.
bonito. os aeroportos são abismos. odeio-os cadadia mais. as merdas das partidas as taquicardias das chegadas
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