segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Reflexão inspirada em muitas coisas, umas mais que outras


O mais alto responsável do Sindicato dos Amantes subiu ao púlpito, corrigiu a voz para um registo de imperador e declarou: "O amor voltará a ser exagerado. Pouco razoável. Ruidoso. Fará cenas em público. Será objecto de traição e vingança. Certamente de uma ou outra tragédia. O amor vai desmaiar de prazer antes de esboçar o mais pequeno raciocínio de auto-repressão. O amor será apanhado em flagrante no elevador, borrando cantos de boca e desfraldando camisas. O amor será apalpado na fila do supermercado. Será uma canção do Barry White. O amor será amado pelos amantes até se esvair em choro e ser trocado. Mandará o conforto à fava. O amor terá cabeças encostadas com olhos a raiar de vermelho-fúria revirando pelas órbitas numa sintonia doida-varrida. O amor fará elogios foleiros. O amor insinua-se por trás e beija no pescoço. Dispensa roupa. Palavras. O amor toma o piropo por elogio e devolve com um ziguezague de ancas. O amor responderá que sim mas fará exigências. É possessivo. O amor vai telefonar mais do que duas vezes – sete, setenta, as que forem necessárias até que o atendam fodass. O amor não faz fretes nem greve. Trabalhará por gosto até desaparecer. E uma vez terminado continuará ciumento. Egoísta. Soberbo."

6 comentários:

ana disse...

eu tenho uns vizinhos que esporadicamente dançam a valsa na fila do minimercado. ela é actriz e ele economista/gestor. teimo em acreditar que não era teatro, mas exemplo do que se descreve aqui.

i disse...

foste tu q escreveste? isto tá sublime rui!!

Gustavo Jaime disse...

Nota 20. Lembrou-me a crónica do MEC, "Elogio ao amor".

Rui Coelho disse...

ana: os opostos e a magia que os une

i: *

gustavo: tudo o que MEC escreve sobre nós e elas é benção.

M. disse...

oh pa que bom isto.
muitomuito bom.

Rui Coelho disse...

M: fazes falta. Acho que te vejo por aí, mas na verdade fico sem jeito porque estás com o teu mocinho. Na próxima digo algo, não estranhes*