Gostava de poder dizer que fui eu a tirar esta foto mas obviamente que isso não aconteceu e aliás não encontro as minhas |
A minha vontade era hoje estar em Bruges. É uma cidade com uma beleza antiga, mas sem estar coçada ou cheirar a mofo. Para um sulista simplório como eu, habituado a conviver nas ruas com a mais versátil porcaria e discussões espectaculares que terminam com raptos, tiros ou beijos, pode irritar de tão limpa, serena e organizada que é. Como tem pouca agitação nocturna, como o povo é contido, como não há exagero que envolva pulsação, pode ser vista como um postal, beleza morta. Pode. Não é o meu caso: férias são férias.
Aqueles que moram no encanto que é Bruges, considerada a Veneza do Norte por ser penetrada por muitos canais, gostam que a cidade seja aquilo que parece: um delicioso monumento flamengo, um gigante bairro medieval pontuado por arquitectura gótica, uma homenagem ao bom gosto, uma puta fina para a qual olhas sem poder tocar, e aprendi isso mesmo num passeio de bicicleta à chuva.
Por lá ficámos acomodados duas ou três noites num hostel encavalitado num dos bares mais movimentados da cidade. E com duas barmaid que até perturbariam as hormonas (?) do Papa. Na primeira manhã saímos do hostel, à chuva, procurámos uma casa de binas, à chuva, alugámo-las enquanto chovia e à chuva pedalámos o dia todo, frequentemente atrás de um cavalo [ver foto ao canto superior direito do blogue] que puxava um coche turístico e borrifava a atmosfera com um colossal cheiro a mmmerda.
A dada altura já tínhamos pedalado tanto numa determinada direcção que achámos por bem inverter o sentido. Estávamos num parque bonito. Tínhamos chegado até ali respeitando uma das várias ciclovias que cortam a cidade, e, no ponto em que decidimos o retorno, começava ali ao lado (ou acabava, consoante a perspectiva) uma outra via – esta para peões, ou pessoas. Claro que dei a volta por ali, desviando-me a abrir entre a malta, pessoas como pinos. O que não esperava era que, acto contínuo, um revoltadíssimo pai de família de 3,40 metros de altura saísse disparado na minha direcção com vontade de me distinguir com valentes pontapés honorários no cu pelo mérito de não respeitar a mão do trânsito sem motor. Apesar de ir montado nele próprio, o bicho ganhava terreno de forma preocupante enquanto vociferava em neerlandês coisas que adivinhei serem contra a minha mãe, e portanto injustas, que ela não tem culpa dos meus disparates. Lá me consegui afastar, contra-argumentando, “moooce, tás maluco dé!”. Daí que gostava de deixar aqui um conselho, já tardio para a Di: se forem a Bruges, evitem a contramão; a bem do vosso respeitável traseiro.
5 comentários:
Adoro a fotografia e o conselho já tardio! Talvez no próximo ano me lembre disso porque Bruges é um local que não se deve visitar só uma vez. :)
PS. esse conselho também é válido para Roterdão!Acredita em mim...
Um beijo e muitas viagens *
Ahahaah... Adorei :)
Da Bélgica só conheci Bruxelas num dos raros lugares onde fiquei em hoteis 4 estrelas (dos meus tempos de política juvenil activa) mas é um país que não me deixou qualquer tipo de saudade, incluindo as mulheres, de longe as menos abonadas e saudaveis que vi um pouco por toda a Europa. Sad but true, mas lendo o que escreveste parece que não foi só a mim que a coisa não correu de feição :)
ahahahahahah
Bélgica não conheço, mas em termos de limpeza e cumprimento das regras a Áustria é "doentia" ;)***
(ps- não me pareces nada um sulista simplório)
Martini, a primeira impressão que tive de Bruxelas foi má. A Gare du Midi cheirava mal, havia porcalhice em todo o lado e não achei que a minha viagem fosse um sucesso. Depois, como em todos os países, existem os paraísos escondidos. :)
Di: confere, tive a mesma reacção assim que cheguei à estação de bruxelas, e apesar de um ou outro paraíso foi a cidade que menos me seduziu na Bélgica. Bruges e antuérpia levar-me-ão, sempre. E na holanda darei então uma segunda hipótese a Roterdão.
De Bruxelas guardo com ternura ter conhecido duas moças tugas à espera do comboio já no caminho de regresso, e elas vieram connosco e uma delas de madrugada vê-me a sacar o Por Quem os Sinos Dobram, aí a 50 páginas do fim, e diz-me: “ah que giro, já li isto, acaba assim patati patata.”
Nessa altura ainda deveríamos rolar pelo meio de Espanha, a umas dez horas de lisboa. E aguentar a viagem sem provocar estragos no pescocinho dela? Nunca lhe perdoei, obviamente.
Martini: discordo a 300% nisso das mulheres belgas, mas de facto é um país muito suis generis. A beleza interior não parece residir no coração das pessoas, mas na pedra fria. E esta foi a coisa mais lamechas que já escrevei neste blogue. Uma salva de palmas, por favor.
Cat: aqui o sulista simplório ainda não esteve na Áustria - disciplina, precisa-se! :D
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