Tive a infeliz ideia de perder o meu tempo a debruçar-me sobre este tema, mas deves acabar o que começas. Parece que o eusébio concedeu uma entrevista à Única, revista do Expresso. Dizem-me que ofende o Sporting de forma gratuita. Estranho a notícia, pois nunca o vi como um incendiário dessa laia, e faço uma pesquisa na net (tempos modernos). Entro num site que refere o teor da entrevista. Leio umas coisas. Mais de cinquenta anos depois lembrou-se de negar a ideia de ter sido raptado no aeroporto de Lisboa pela agremiação sediada em frente ao colombo, e para lá ter seguido em vez de deixar as malas em Alvalade, como previsto. O eusébio não gostava nem gosta do Sporting, leio. Bem, se for só isto não se passa nada, penso. Continuo a fitar o ecrã. Leio mais. E sim, confirmo o que me tinham avisado.
Que não, que o eusébio nunca iria para o Sporting, que isso seria um disparate porque, diz o próprio, ou neste caso escreve o jornalista juntando em puzzle um qualquer punhado de interjeições cuspidas pelo pantera negra, tratava-se de “um clube da polícia, que não gostava das pessoas de cor, racista”. Leio isto com espanto, confesso. Não esperava que se descesse tão baixo. Percebi depois que estas acusações vinham estampadas na chamada de capa da Única e já circulavam de forma viral na net, dois dias depois de o Sporting participar em Luanda na Taça de Independência de Angola, onde homenageou o angolano Dinis, glória verde e branca dos anos 70.
Ora bem numa reacção imediata ocorre-me condenar o que leio, um insulto miserável vindo de alguém que foi recebido de braços abertos no Sporting de Lourenço Marques, uma filial do Sporting Clube de Portugal (SCP), depois de ter sido rejeitado duas vezes pela filial do clube que o notabilizaria como profissional. Gostava de o ver dizer estas coisas à frente do Hilário, amigo de infância com quem o eusébio jogou no Sporting de Lourenço Marques e que depois veio para o SCP. É feio cuspir no prato onde se come. Por outro lado se eu fosse o Pacheco Pereira diria que “a grande questão” se prende com as horas a que a entrevista foi concedida. Mas, honestamente, não tenho a certeza se o eusébio estaria para lá de grosso, o que é bem possível na medida em que conota o Sporting com o Estado Novo ao mesmo tempo que chama de “Padrinho” ao Salazar, aquele porreiraço de quem muita gente tem saudades, que perseguia, prendia e mandava matar opositores e aliás impediu o pantera negra de sair do país para jogar em Itália, no Inter. É.
Mas como eu até penso pela minha cabeça, e vejo mais do que o retrato oferece, diria que o departamento de comunicação da agremiação sediada em frente ao colombo lançou uma ofensiva mediática para encobrir as acusações de racismo que recaem sobre um médio espanhol que por lá têm, o jogador mais desleal que vi em Portugal desde que o Bruno Alves voou para a Rússia. Como? Através de entrevistas metralhadas por toda a imprensa, desportiva e generalista, falando do tempo e outras trivialidades e, numa delas, desviando o foco dessas acusações de racismo na direcção do Sporting, que nada tem a ver com o assunto mas é o próximo adversário no campeonato. (E também, talvez sobretudo, porque sim).
Uma encomenda de quem lhe paga a pinga. Um ataquezinho baixo, degradante, desferido por um antigo grande futebolista lamentavelmente transformado em moço de recados – isto na semana em que se soube que dia 26 será estreada uma rede com cobertura lateral e frontal no último piso da banheira vermelha para onde serão atirados os adeptos do Sporting.
No fim de contas, concluo não haver motivos para me sentir surpreendido: na agremiação sediada em frente ao colombo é patológico isso de se confundir grandeza com tacanhez, salvo algumas honrosas excepções – curiosamente todos meus amigos. E sim, a referida agremiação é o que dela reclamam os respectivos adeptos, de estar mais próxima da religião do que desporto – é que no desporto sempre existiu respeito pelo adversário, isso é cultural, incontornável. Pode haver excepções, mas no fim do dia as instituições têm de dar o exemplo por quem as dirige. E é aí que a agremiação sediada em frente ao colombo mostra o que é na eterna demanda de tudo fazer para que ninguém a suporte, só para depois vergar meio mundo sob o rótulo de “anti”, que é bem mais confortável do que espreitar o que reflecte o espelho. Nunca serão verdadeiramente Grandes, porque não são Inteiros. Dificilmente poderão ser respeitados. Assim foi, assim será.
4 comentários:
Se eu já gostava de te ler... agora fiquei fã!
Eusébio: "Disse que o Javi Garcia lhe chamou preto. E o que é que ele é? Se lhe tivessem chamado branco é que poderia ficar ofendido. Quantas vezes me chamaram isso e muitas mais coisas. Se eu fosse reagir, estava tramado, não acabava nenhum jogo. O Alan foi estúpido ao trazer isso a público. O que ele fez não faz sentido", disse Eusébio à agência Lusa.
Este atrasadinho moçambicano com passaporte português, na semana passada veio dizer na Única que não gostava do Sporting porque "no bairro onde morava era o clube da polícia e dos racistas".
Então, em que é que ficamos?!
Diz que o Alan é um queixinhas e na semana passada tinha dito que sofreu algo do género e que o fazia não gostar do Sporting?!
O eusébio está a ficar senil, só pode, mas sei que este discurso anima a generalidade das hoste da agremiação sediada no Colombo e o Sporting sofre de um certo "naivismo" nestas questões às quais deveria começar a responder à letra, a fim de deixar de ser considerado de uma vez por todas "os mansos de Lisboa".
Não é por acaso que o FC Porto há umas décadas para cá começou a ter uma posição mais musculada nestas questões e começou a jogar com as cartas que a agremiação do Colombo sempre usou, e com sucesso. Era necessário.
Falam de uma jogada menos clara passada na época 2002/2003 quando o caso deste moçambicano com passaporte português é o mais famoso caso de promiscuidade entre o futebol e a politica alguma vez visto em portugal, ao ter-lhe sido recusado ingressar no Inter "porque era importante para a nação", mas muitos têm memória curta e desligam o clube á ditadura.
Falando nisso vou entrar no galinheiro hoje para ver o Portugal x Bósnia, até porque já me vou identificando mais com esta seleção.
cat: temos leoa? :)
martini: foi uma grande vitória da nossa selecção, como deve ser. O resto é demasiado degradante para ser alimentado, até porque o objectivo de quem encomendou esta entrevista é precisamente esse - fazer com que a malta perca as estribeiras e dê razão a quem atirou essa carta suja para a mesa.
ah temos pois! ;)
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