terça-feira, 22 de novembro de 2011

James Blake

Ao saber que o segundo disco dos MGMT foi o meu preferido em 2010, um amigo chamou-me hipster. Bem, de onde a minha família vem isto resolvia-se com uma caçadeira, mas como eu até conheço a dele preferi chamar-lhe maluco – o Congratulations é honesto, subversivo, rico, rock com o melhor da sensibilidade pop, sei lá, é a melhor coisa que aconteceu à música em 2010. Conto pelos dedos de uma mão aqueles que entre os meus também pensaram assim, então e agora. Na verdade, mais de um ano após o lançamento, ainda não ouvi uma única música do álbum por aí, na noite que interessa. Sim, é menos dançável que o primeiro, mas nem uma?

Isto para falar do James Blake. Os meus amigos adoram-no; eu, epá, não gosto. Há quem ache que ele faz “minimal pós dubstep”. Outros dizem que ele é o grande artesão da electrónica silenciosa. Eu só o acho chato. Insisto em não levar muito a sério um músico cujo trabalho mais aplaudido chegou através de covers de temas da Feist (‘There’s a Limit To Your Love’) e da Joni Mitchell (‘Case Of You’). São covers bonitas? São, muito. E parecidas com as originais. Em ambos os casos. Não chega. Mas dá para fazer crescer água na boca. (Metáfora errada). Após vê-lo, ou suportá-lo, no Alive deste ano, a tendência era de que as posições se extremassem. Porém, algo mudou nos últimos dias - não muito, mas algo, depois de um amigo, um dos poucos que também ama o segundo disco dos MGMT, ter aclamado o arranque do EP “Enough Thunder”, que saiu no mês passado. Fui à procura e ouvi-o em streaming. Três vezes.

Goste-se ou não, há que reconhecer que a música do James Blake é, no limite, ambiciosa: quer a aceitação a partir do aborrecimento - partindo do princípio que se quer sempre uma aceitação favorável de algo que se cria. É estranho, mas implica ousadia. Por outro lado, sendo um cantor de emoções à flor da pele, parece ter vergonha de soar polido. Refugiando-se nos truques do dub, obriga-nos a trepar o muro para ver a beleza. É preciso ter muita paciência para entrar neste jogo do gato e do rato. Nem todos a têm. Eu, por exemplo, sou carneiro. Ascendência em touro.

O tema de abertura, ‘Once We all agree’, é cavernosamente chato, sendo simpático, e uma seca do caralho, sendo preciso. Não creio que aponte em direcção alguma – ou por outra, apontando, é para baixo. O meu amigo P.R.R. discordará. Mas partilhando a essência das restantes cinco músicas - a ideia de que é coisa para se ouvir a sós com os nossos botões - nada tem a ver com a qualidade que adiante descobri.

‘Fall Creek Boys Choir’, em parceria com Bon Iver, seria brilhante não fosse o caso de o James Blake se ter lembrado de encarcerar o falsete do Justin Vernon, frontman dos Bon Iver, numa roupagem auto-tune. Não havia necessidade. De resto é um tema r&b simples, eficaz e bonito, cheio das artimanhas digitais do costume, mas, neste caso, acrescentando algo à canção ao invés de simplesmente lhe segurar os cavalos. O tema-título é das melhores coisas que se pode fazer na inatacável combinação de voz e piano. Sem aditivos. The good old way. Há ainda a referida ‘Case Of You’, uma vitória anunciada. Posto isto: sim, todo o valor a quem desbrava novos terrenos, a quem ergue essa tocha – só assim a música avança. Foi assim que o James Blake ganhou um clube de fãs gigante. Mas, epá, o que ele faz, da forma que faz, aquilo que o difere da restante oferta, não tem sido para mim.

Isto, é. Fácil se torna de perceber que, aos 22 anos, o melhor dele ainda está para vir.

6 comentários:

peter disse...

Impressão minha ou está com a voz demasiado parecida com o Antony, dos Antony and the Johnsons?

Ana disse...

http://www.guardian.co.uk/lifeandstyle/2010/oct/14/hate-hipsters-blogs?INTCMP=SRCH

concordo em relação ao james blake. não me entusiasma muito, principalmente depois do alive.

Rui Coelho disse...

é muito parecida joe, muito mesmo!, com uma característica pior: não percebo o que ele canta, ou capto poucas coisas!

Ana: esse alive provou algumas coisas. Não entendo a histeria, foi bem fraquinho. Já espreito esse artigo ;)

Em todo o caso sempre que ele ataca o piano só com a voz ou sem atropelar demasiado o ritmo, o resultado é muito bom, como nesta música. Mesmo nesse registo tradicional a composição é muito dele.

peter disse...

Só mais uma coisa. Como eu sei que ficaste triste com o fim da Saga tenho a dizer-te que continuo aqui http://boutiquelx.blogspot.com/

Publicidade não paga e abusiva no teu espaço, eheh.

Abraço.

Anónimo disse...

tb nao gosto, tb n entendo, tb acho super mega over hyped...alias ja falamos sobre isso ;) bjinhos pat

Rui Coelho disse...

vamos dar outra oportunidade ao moço numa avenida perto de si, shall we? :D