No início a malta até achou piada ao puto: era um dos nossos e segundo reza a lenda tinha recebido coca-colas do Boloni a troco de golos num treino. A história tinha piada e fez eco de tal forma que o Paulo Bento apostou nele para a equipa principal. Era um avançado móvel, com uma velocidade fora do comum, sobretudo nos primeiros metros. Naquela altura despontavam no Sporting outros jogadores com a mesma idade mas outro tipo de categoria, casos do anão, do Veloso e, sobretudo, do Nani. Os putos tinham crescido juntos e, junto dos graúdos, continuavam a divertir-se, fazendo caretas em grupo enquanto o Liedson marcava golos. Foi um ano de algumas conquistas (taça de portugal e supertaça), ao qual falhou apenas o título de campeão nacional – escapou-se-nos na última jornada. A época seguinte foi idêntica no desempenho desportivo mas começou a ficar óbvio que a bola atrapalhava um bocado o tal do Yannick. Ficou óbvio para nós, adeptos do Manto Sagrado, que ainda assim dávamos o desconto por ele ser puto e dos nossos, mas também, e daí vinha o perigo, ficou óbvio para os adversários. Os treinadores de pestana mais aberta perceberam que anular o Yannick era questão de manter um defesa perto dele ou, consoante a estratégia de jogo, não lhe dar espaço. Assim foi e aí começa o trajecto aflitivo do Yannick, um promissor talento que afinal não sabia o que fazer à bola caso não tivesse o Alentejo inteiro pela frente de modo a que pudesse fazer a única coisa que sabe melhor do que os outros: correr. Os anos passaram e o puto deixou de ser puto. Começou a fazer exibições medíocres e só era notícia pelo desfile semanal de penteados novos ou pela cor dos cortinados lá para casa escolhida pela respectiva Lucy. Deixou também de festejar golos, o que até podia fazer sentido caso tamanha vaidade ligasse com um nível superior de futebol apresentado - Cristiano Ronaldo, por exemplo -, mas qual quê. Cheguei a ouvi-lo dizer que queria jogar no Barcelona, na altura possivelmente para tirar o lugar ao Eto'o. A característica de dar caneladas involuntárias na bola cada vez que a devia receber redonda, no pé, fez com que, naturalmente, tenha perdido a titularidade no Sporting - isto numa fase em que já transitara de avançado para extremo. Talvez o problema fosse do lugar no campo. Mas não. De dez em dez jogos fazia dois bons, e raramente em Alvalade, onde actuava quase sempre de forma exasperante perante equipas acampadas diante da própria baliza. Os adeptos não lhe perdoavam a falta de rendimento e por isso começou a ser associado a muito do que de mau aconteceu ao clube nos últimos anos. Algumas vezes de forma injusta, reconheço, uma vez que o contexto é importante e o rapaz até tem algum valor, sobretudo como avançado. No Verão passado o Barcelona deixou-se enganar pelo poderoso Nice e lá foi o Yannick para o sul de França. Mas um atraso na inscrição deixou a transferência sem efeito e o Sporting, safa!, livrou-se dele logo que pôde. Esta história continua muito tal explicada, uma vez que ficámos sem um activo e ainda não recebemos dinheiro por isso, mas certo é que depois de seis meses com o jogador no desemprego o clube de Carnide ganhou a corrida a ninguém e assegurou o concurso do rapaz. E para que raio foram eles resgatar o Yannick, pergunta qualquer adepto de futebol? Para serem iguais a si próprios, respondo eu. Por gula, só para chatear, contratam um jogador que desempenha funções a cargo do Cardozo, Rodrigo, Saviola, Nelson Oliveira (avançados), Nolito, Bruno César, Gaitán, Enzo Pérez (alas) e Aimar (médio ofensivo), qualquer um deles melhor jogador do que o Yannick. Na cegueira de meter a pua ao Sporting distraíram-se e perderam a hipótese de, por exemplo, contratar um terceiro central de qualidade inegável, que possa pôr a cobro uma eventual lesão prolongada de um dos dois titulares indiscutíveis - isto além de terem entregue ao Braga um jogador polivalente de bom rendimento assegurado (Ruben Amorim). Ressalva: renovaram com ele. Espertos. Sobre o Djalol: é um exagero falar-se que chegou ao estádio da Lucy a custo zero. O preço dessa Lyoncificação será contabilizado em tempo oportuno.
3 comentários:
Manto sagrado? Ah ah ah ah ah ah... a originalidade...
quase tanto como comentários em anonimato. abraço
Atenção! Comentário altamente produtivo e relevante do ponto de vista futebolístico:
Hum... Chamarem a filha de Victoria nunca me enganou!
Eheheheh... E a expressão adeptos do Manto Sagrado é genial! E está dito :)*
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