terça-feira, 9 de outubro de 2012

Outubro

Um privilégio, isto de vir a casa por estes dias. Faço praia. Da boa - banhistas demorados, areia-veludo, mar a 21 graus, cá fora 26.  

Acompanho a minha mãe em viagens pelo imenso areal da nossa costa, cinco quilómetros do farol à praia do alemão, ir e vir - dez, portanto, segundo as contas da Maria Barroso, outrora cúmplice de "olá, bom dia!" da minha avó Vivi, tal como o marido Soares. Oiço a minha mãe explicar como deu nas vistas até que o meu pai a puxasse para dançar nas farras do Lobito, às quais ele, furriel do Exército, chegava sempre mais tarde - isto porque fazia o melhor uso de um salvo-conduto que todas as noites o habilitava a frequentar as sessões de cinema das 22:00 à meia noite.

Ontem à noite levaram três mangas da nossa mangueira, de modo que hoje, quando acordei, a primeira coisa que fiz foi recolher da árvore as duas que já estavam maduras. Levei-as para a mesa e, frente a frente com a minha mãe, comemo-las como macacos, mãos e dentes até ao caroço, ocupando os intervalos dos dentes de teimosos fios de fruto e os cantos da boca de sumo natural.

A manga era o despertador do meu pai em África. Pum, pum, pum, caía uma atrás da outra no jardim diante do quarto da casa dele, no Lobito. Estava a manga para o meu pai como a gaivota para mim ou o galo para a Vivi. 

Melhor do que vítimas de carros em segunda fila. (Deveria haver reuniões de terapia para terceiros anónimos).

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