terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Confúcio: "Aquele que diz que pode e aquele que diz que não pode... têm ambos razão."



Este foi o ano em que me tornei menos egoísta. Em que respeitei mais os outros. Em que passei mais vezes a perna às minhas ignorantes certezas. Em que passei mais tempo com a família. Com os meus.

Este foi o ano em que mais vezes joguei a mão ao pescoço dos meus medos. É incrível o que consegues quando te propões a fazer algo e dás o que tens. Este foi o ano em que percebi que a vontade de ser melhor para mim me torna mais apto a ser melhor para os outros. É contagiante, e convém: ninguém pediu para nascer, mas estamos todos metidos nisto.

Este foi o ano em que percebi que não sou uma ilha por viver num só corpo. Que não sou especial por ter os olhos verdes. Que o Mundo não me deve nada, nem está contra mim. Que de nada me serve meter cara de peido e queixar-me da má sorte. Que nada vai mudar, zero, se eu não fizer por isso.

Este foi o ano em que compreendi que só temos uma certeza - um pouco chata, diga-se. De resto, se excluirmos o que não podemos controlar, percebi que grande parte do que nos acontece é escolha nossa. É sempre bom imaginar isto como uma viagem no tempo, a revienga que o Jesse deu à Celine para a convencer a passear com ele por Viena no Before Sunrise. Uma viagem no tempo, portanto: é imaginar que daqui a 20 anos surge a hipótese de recuarmos no tempo e mudarmos o que nos tornou naquilo que não gostamos. E aconteceu: aqui estamos, 20 anos antes. Temos mais uma hipótese. Agora é connosco.

Entrem no ano novo com os dois pés, a única maneira de entrar. Vemo-nos amanhã no Macdonald's.

domingo, 29 de dezembro de 2013

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Prendinhas pelo intercomunicador


O jantar teve em mim um impacto tal que acordei de noite para ir à casa de banho e quando de lá saí já era de dia. À falta de gente, lá fora a luz fraca do primeiro sol descobria as ruas, as casas e os carros, caso do meu, cujo pára-choques tinha ganho uma camada extra de mosquitos mortos - lembranças da viagem da véspera. Olhei à minha volta. A mesa tinha sido levantada mas a toalha continuava posta, agora à espera do pequeno almoço, e transmitia uma mensagem desligada do cenário que integrava: a sala parecia ter sido visitada por um ladrão apressado, que procura uma coisa em específico e não a encontra. Roupa pelo chão, almofadas atiradas para trás do sofá... tudo com um aspecto remexido e fora do sítio. Aos meus pés, no meio do caminho, encontrei os nossos sapatos, aninhados.

Preparava-me para voltar à cama quando reparei que o telefone de porta estava tombado, suspenso pelo fio. De maneira que estivemos juntos, não tenho é a certeza se sós.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Três segundos ou o tempo que o Mota demora a ter a certeza de não ter vergonha na cara


Ontem dominava a revolta. Se já nem a história do Natal pegava, se o Sporting continuava a ganhar, e bem, era preciso sujar as mãos. E o momento foi o ideal, aproveitando a visita a Alvalade de uma boa equipa, que resistiu mais de uma hora e até podia ter marcado antes. Vi agora o resumo e, se pensava que já tinha visto tudo no futebol, estava bem enganado. Falo do momento em que o Mota apita. É preciso muita confusão naquela cabeça para anular um golo três segundos depois de a bola entrar. "Ora bem, não aconteceu nada, mas é preciso fazer o serviço... apito, não apito... porra, é hoje, tenho de apitar". Três segundos para pensar no que fazer, tal a convicção. De ontem não passava. E não passou. Dois pontos a voar para o sapatinho de quem fez a encomenda. Serviço cumprido. Nota máxima. Subsídio de Natal chorudo. Festas felizes.

Hoje domina o orgulho. Das sobras de um grupinho de solteiros e casados nasceu a equipa que vai virar o ano na frente do campeonato, que pratica o melhor futebol, que marca mais golos, que tem o melhor jogador, que tem o melhor marcador, que tem o melhor treinador, que mais adeptos arrasta do Algarve ao Minho. Um exemplo para todos nós, a prova de que com pouco dinheiro e muito trabalho se pode fazer tão bem ou melhor do que aqueles que compram o sucesso fácil. Vão ter de se esforçar muito para nos fazerem cair.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O Nalitzis é um gringo


O que têm em comum o Nalitzis, esse mesmo, o manco que chegou ao Sporting para colmatar a lesão do Niculae, em 2001/2002, na época da dobradinha - em seis meses meteu um golo -, e a forma como na América Latina se trata os anglo-saxónicos, sobretudo a malta dos Estados Unidos? 

Não digo. Quer dizer, já lá vou.

Sempre tive alguns problemas com quem não tem noção das coisas. Com os Estados Unidos, por exemplo. Sim, meteram o Homem na lua, mas o que é aquilo de se auto-intitularem "América"? "God Bless America", como? Do Alaska à Argentina? Não me lixem. 

E há pior. Nos últimos dois anos os Miami Heat foram campeões da NBA para todos os povos que o saibam, mas na "América" são considerados "World Champions". Campeões do mundo, como? Da Califórnia à Papua-Nova Guiné? Não me lixem.

Isto para falar no termo "gringo". Já todos o ouvimos por aí, na televisão, no cinema ou pela boca de algum nativo americano - parece que aquilo é um continente a dar para o grandito e já lá havia uma boa dose de índios antes de os ingleses cruzarem o Atlântico e inventarem os EUA, já depois de a Espanha se ter posto à vontade mais a sul. Pesquisei vários textos sobre a origem do termo e encontrei a explicação mais razoável num site chamado Wikipédia, o qual reza que a culpa é do Shakespeare. Ou melhor, do que diziam os monges latinos na Idade Média, quando era para copiar manuscritos gregos - "Graecum est; non legitur" (em português: "É grego; não percebo uma piroca"). Segundo o tal Wikipédia, que compreendi ser uma fonte de saber sem igual, o Shakespeare aproveitou esta tirada em Júlio César quando escreveu, "(...) Aqueles que o compreenderam trocaram olhares e abanaram a cabeça; mas para mim aquilo era grego". 

É a origem do ditado, "isso para mim é grego", relativo a algo que não se percebe e que ganhou a variação "isso para mim é chinês" em países como a Grécia, onde se percebe o grego perfeitamente.

Outros textos com fontes e datas, certamente inspirados no texto do Wikipédia, concordam na tese de que gringos é a variação fonética de griegos, gregos em espanhol, e aparece pela primeira vez em 1787, no El Diccionario Castellano. Escreve um tal Esteban de Terreros que "gringos era o que se chamava em Málaga aos estrangeiros, os que têm uma certa espécie de sotaque que os priva de uma locução castelhana fácil e natural; e o mesmo em Madrid, e pela mesma causa ou particularidade a respeito dos irlandeses."

Só quase 100 anos depois, em 1849, é que o uso da palavra gringo em inglês seria gravado, ali mesmo a seguir à Guerra dos Estados Unidos com o México (1846-1848), aquela em que os gringos invadiram, ou, segundo os manuais ortodoxos, instalaram-se no Texas.

"We were hooted and shouted at as we passed through Cerro Gordo, Veracruz, and called Gringoes", escreveu John Woodhouse Audubon, um pintor da terra dos livres.

De maneira que, mesmo sem quererem, os Estados Unidos estão a dar um passo maior que a perna e até levam o Nalitzis, que por ser grego também é gringo, pelo menos aos olhos dos povos del Sur. Nova Iorque ou Atenas, dá no mesmo: tudo gringo. Não me lixem...