Do arquivo murder songs, disponível a quem respire, escolho a Miss Otis Regrets do Cole Porter, escrita quando a Vivi tinha sete anos. Podia ser a Hey Joe dos The Leaves, que correu mundo pela guitarra do Hendrix, mas essa toda a gente conhece. Acho. Espero.
Miss Otis Regrets conta a história de uma mulher que teve um fim triste depois de conhecer um homem. Toda a gente tem o seu fim depois de fazer qualquer coisa, como um dia aprendi no jornalismo, pode é ser menos cruel que este. Acontece que Miss Otis, menina com os modos mais recomendáveis, estava na dela quando foi seduzida, e já se via na dele quando foi abandonada. Não se faz. Vai daí, perseguiu-o e toma lá chumbo.
Presa pelo homicídio, foi levada da cadeia por uma multidão que faria justiça pelas próprias mãos. Antes de morrer, Miss Otis ergueu a cabeça e, a chorar, lamentou, na terceira pessoa - registo popularizado várias gerações depois pelo Miguel Veloso, agora só Miguel: "Miss Otis Regrets, she's unable to lunch today". A história é contada por um criado a uma senhora de modos tão recomendáveis como os da pobre Miss Otis, Deus a tenha.
Nos comentários às várias versões desta música sobressai a dimensão doce e triste do que se relata, e de como se relata, mas o meu preferido, que aparece nesta, a que tem a tripa a nu e o som de batata a fritar do vinil, é de uma utilizadora com a foto de perfil de uma ruiva a olhar de lado: "This song always makes me laugh".
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