Quando
nos aproximámos do Miradouro da Graça nem dei pelo Sebastíán. Debruçado sobre Lisboa, consolei brevemente os olhos, há mais de
meio ano que não visitava um dos miradouros da cidade grande, e
ainda passou 1 ou 2 minutos até me aperceber que atrás de mim
estava um rapaz de costas para uma parede, encolhido sobre a sua
guitarra, a tocar estilo homem-orquestra.
O
Sebastíán tinha o boné virado para trás, barba de uma semana, era magrinho
e a sua voz anunciava-o dono de uma sensibilidade que em nada condizia com a figura. Uma
espécie de Conan Osíris mais deste mundo. Cantava baixo, muito
baixinho, mas a voz era cristalina, percebia-se cada palavra e a
forma sentida como ele as pronunciava. Se fechássemos os olhos para
ouvir melhor, conseguiríamos discernir «I Could change the world»,
o Sebastián cantava Eric Clapton, a seguir passou para a
«Blackbird», uma versão mais dele do que dos Beatles, e antes de desatar a
correr ao lado do elétrico que iria apanhar mais à frente, terminou com um tema bonito que imaginei ser
mesmo dele, uma coisa assim de menos a mais, utilizando as pistas do equipamento de
gravação que ia levando para confecionar em camadas o seu bolinho
musical.
Quando
acabou de tocar, deixei cair umas moedas na caixa da guitarra dele e fiquei a saber-lhe o nome. O Sebastián era argentino e estava há dois meses em
Portugal. Já tinha visitado o Algarve, por isso não se surpreendeu
quando lhe disse que a Fátima e eu vivíamos lá e estávamos a regressar só por
um fim de semana à cidade onde morávamos até há meio ano. Radiante com a partilha, o
Sebastián contou-nos que esteve em «Quarteira, Albufeira e, claro, Faro».
Não
percebi o «claro».
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