©Laura Haanpää |
Sendo estética e musicalmente brilhantes, os Radiohead nunca escolheram o caminho mais fácil desde que se tornaram numa banda à escala mundial. Quando conquistaram o mundo, tricotando a pop até à perfeição em "The Bends" (1995) e "Ok Computer" (1997), não demoraram a evaporar-se tal como então se davam a conhecer, partindo à descoberta de novas formas de expressão, sobretudo electrónicas. Tão à frente dos acontecimentos e, percebe-se hoje, com as coisas sob controlo, talvez os Radiohead o tenham então feito pela necessidade de sobreviverem enquanto banda criativa a essa grande e fedorenta bocarra com lábios de silicone que aparece encaixada no focinho da fama.
Quando deram à luz o gélido Kid A (2000), meio mundo exigiu autos de fé. Para quem tinha adoptado os dois anteriores trabalhos como álbuns de uma vida, e dando de barato que as angústias teenager do Thom Yorke no disco de estreia Pablo Honey (1993) não mudaram o mundo, o choque foi tremendo. Kid A praticamente não tinha guitarras, riffs ou refrões 'singalong'; era, antes, fértil em experimentalismos electrónicos de uma desolação mo-nu-men-tal, a banda sonora do fim de tudo à qual as rádios populares fecharam os microfones à primeira audição. No ano seguinte apareceu o irmão disforme, "Amnesiac", ainda assim mais melódico. Há quem diga - ainda ontem mo disseram - que nunca mais ouviu Radiohead pós-1997.
Mas para a banda deve ter sido um alívio poder deixar para trás o que lá atrás pertencia, deparando-se com um cenário win-win: ao mesmo que lançava o mito sobre The Bends e Ok Computer, literalmente irrepetíveis, libertava-se da pressão de ter de estar à altura do pedestal ao qual tinham subido. O virar do milénio implicaria um verdadeiro recomeço. Hoje, tanto tempo depois, dá para perceber que as respostas às nossas perguntas sobre a radical mudança de direcção do quinteto sempre estiveram ali mesmo, à nossa frente, a acenar-nos com a sua longa e bizarra cauda, tanto no título do último disco amigo da memória - Ok Computador... venceste... - como, por exemplo, no primeiro tema de Kid A, onde se avisava que tudo tinha o seu tempo e lugar devidos ("Everything in it's right place"). É mesmo assim. O passado foi lá atrás. Acompanhe-nos quem quiser.
É por isso que quem deles gosta, ama. É um combinado de admiração pelo talento e imenso respeito pela filosofia de trabalho. A cada álbum os Radiohead tentam inventar uma nova obra de culto, coisa que à descarada já conseguiram com "In Rainbows" (2007), monumental pacote de rock electrónico cujo sucessor "The King of Limbs" (2011) é ainda mais dançável, com especial incidência na percussão galopante do Phil Selway, embora talvez menos sofisticado. Isqueiros no bolso, pá.
Ontem, no primeiro concerto que assisto ao vivo da minha banda viva favorita, o alinhamento privilegiou o repertório destes dois últimos discos e os singles que recentemente foram lançados. O mesmo é dizer: foi uma festa dos diabos ao som de faixas electrizantes (ex: 'Morning Mr. Magpie' ou 'Staircase'), contrabalançadas por coisas a baloiçar entre slow e danceteria (ex: 'Reckoner)' e, claro, mimos de contemplação para-lá-de-religiosa de tempos que, em disco e na grande fatia dos concertos, já não voltam (ex: 'Exit Music - For a Film'', cujo vídeo pode ser visto em baixo). Fechar com a 'Street Spirit' foi um momento sublime, mas outros houve - todos, na verdade, desde o irrepreensível jogo de luzes e vídeo oferecido pelo quinteto inglês à figura enigmática do Thom Yorke, que, ao microfone, entre músicas, limitou-se durante mais de duas horas a balbuciar coisas imperceptíveis num estilo 'I really don't give a fuck' que cada vez me agrada mais, por oposição à tanga de nos repetirem que somos o melhor público do mundo a cada bruaá. Sejamos honestos nas coisas. E sim, o falsete do Thom é mesmo límpido, de criança, bonito que quase irrita. E sim, o estilo de dança autista do bichinho de rabo de cavalo é bestial. E sim, o alinhamento foi tremendo, mas podia facilmente ser outro, que tremendo seria. E sim, aqui à volta, onde estou, é só nuvens. Foi uma vida à espera disto.
É por isso que quem deles gosta, ama. É um combinado de admiração pelo talento e imenso respeito pela filosofia de trabalho. A cada álbum os Radiohead tentam inventar uma nova obra de culto, coisa que à descarada já conseguiram com "In Rainbows" (2007), monumental pacote de rock electrónico cujo sucessor "The King of Limbs" (2011) é ainda mais dançável, com especial incidência na percussão galopante do Phil Selway, embora talvez menos sofisticado. Isqueiros no bolso, pá.
Ontem, no primeiro concerto que assisto ao vivo da minha banda viva favorita, o alinhamento privilegiou o repertório destes dois últimos discos e os singles que recentemente foram lançados. O mesmo é dizer: foi uma festa dos diabos ao som de faixas electrizantes (ex: 'Morning Mr. Magpie' ou 'Staircase'), contrabalançadas por coisas a baloiçar entre slow e danceteria (ex: 'Reckoner)' e, claro, mimos de contemplação para-lá-de-religiosa de tempos que, em disco e na grande fatia dos concertos, já não voltam (ex: 'Exit Music - For a Film'', cujo vídeo pode ser visto em baixo). Fechar com a 'Street Spirit' foi um momento sublime, mas outros houve - todos, na verdade, desde o irrepreensível jogo de luzes e vídeo oferecido pelo quinteto inglês à figura enigmática do Thom Yorke, que, ao microfone, entre músicas, limitou-se durante mais de duas horas a balbuciar coisas imperceptíveis num estilo 'I really don't give a fuck' que cada vez me agrada mais, por oposição à tanga de nos repetirem que somos o melhor público do mundo a cada bruaá. Sejamos honestos nas coisas. E sim, o falsete do Thom é mesmo límpido, de criança, bonito que quase irrita. E sim, o estilo de dança autista do bichinho de rabo de cavalo é bestial. E sim, o alinhamento foi tremendo, mas podia facilmente ser outro, que tremendo seria. E sim, aqui à volta, onde estou, é só nuvens. Foi uma vida à espera disto.
1 comentário:
Valeu por um ano inteiro de concertos.
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