"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars." J. Kerouac
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Hum, e The Walkmen a noite inteira, não?
É difícil estar a dez metros de Hamilton Leithauser, e, de olhos fechados, deixar de pensar que Bob Dylan está de volta. Não que a música dos Walkmen tenha algo a ver com a que o cabecinha de “Blowin’ in the Wind” compunha nos tempos em que, sem querer, era o megafone de uma geração. O motivo é outro, tem a ver com a voz do rapaz, que é igual à do primeiro Dylan, nos anos 60, quase constipada; assustadoramente igual. A garganta bem aberta, os gritos ao vento – lá está -, em jeito de sermão, o timbre, o tom, igual. As semelhanças, porém, terminam aí.
Na primeira vez que aterram em Portugal para tocar em concerto, no segundo dia do festival de Inverno Super Bock em Stock (SBST), os Walkmen tinham como público um conjunto de pessoas que ia do mais devoto ao curioso que ainda nem os conhecia, mas que tinha ido parar ao Tivoli porque o trânsito entre salas - São Jorge, Variedades e Maxime incluídas - assim o proporcionava. Um sentimento algo desconfortável unia esta gente toda: saber onde cada um ficar, perante o dilema etiqueta/paixão colocado por aquele espaço numa noite em que se escrevia história.
Explicando: o Tivoli, casa de outros andanças, condicionava na medida do diminuto espaço entre cadeiras reservado aos espectadores; está mesmo a pedir que a malta fique ali sentada, direitinha, muito atenta, sem dar corda aos ossos. Por outro lado, o momento era de euforia: recebíamos pela primeira vez o quinteto The Walkmen – banda empacotada no chamado indie-rock que trazia na mala alguns temas do recente disco “You & Me”, mas também se preparava para recuperar outros clássicos que fazem as delícias de uma certa fauna que os ama. E queria mostrá-lo. A solução chegaria entre o segundo e terceiro temas do alinhamento, muito naturalmente, sem dramas.
De lata super bock na mão – a dada altura imaginei como seria maravilhoso que um dos cinco músicos da banda tirasse da cartola uma carlsberg -, Leithauser, vocalista, ocasionalmente guitarrista e líder a tempo inteiro dos Walkmen, cumprimentou a malta e abriu o concerto com “New Country”, um prefácio lento, mas espirituoso, do que viria a seguir. Tivoli atento, e sentado, de acordo com a etiqueta. Segundo tema do alinhamento: “In the New Year”; Tivoli em êxtase colectivo, há criançada a chegar-se junto ao que poderiam ser grades de protecção ao palco – não existem -, e entoa-se a uma só voz uma tirada de esperança: “It’s gonna be a good year”. À terceira, com “The Rat”, está a sala conquistada – meio Tivoli de pé tem de significar algum tipo de conquista -, e do jeitinho intimista de Marcelo Camelo (ex-vocalista de Los Hermanos) já pouco resta.
Agora é tempo de sentir o ressoar de canções populares melodramáticas – forma como estes rapazes nascidos em Washington explicam na sua página myspace o que fazem -, que se percebem saídas da era pós-Sex Pistols, confortáveis no terreno dos Joy Division, e que hoje ecoam com as dos National. De não pouco espanto é a estrepitosa voz de Leithauser: regada a duas cervejas e meia garrafa de água durante a hora de concerto, consegue, de alguma forma, fazer-se ouvir quase sempre acima dos instrumentos, naquela forma de soar própria de quem partiu alguma coisa por dentro, ou pretende que se parta noutro lado qualquer.
Erro de casting
À medida que a curta hora de concerto se esgotava, já depois da aconchegante “Canadian Girl” e do inesquecível riff de sete degraus a subir de “All Hands and the Cook”, começou a deserção: era meia noite, e a festa da Liberdade continuava do outro lado da Avenida, com X-Wife no Variedades e, assim se podia ler no programa de bolso, Frankmusic no Maxime - dali até à 01h. Mas nem tudo é como se lê, o que foi possível constatar após algumas indefinições sobre o vindouro e final destino da noite – a propósito, pelo Tivoli andava David Fonseca com óculos cool de psicopata imberbe -, já no antro do senhor Manuel João.
Lá nos esperava a dupla de DJ’S Stereo Addiction, e a verdade é que até nem tinhamos nada contra; a sociedade parecia coerente, um baixava e o outro levantava – depois trocavam -, mas o que nós queríamos mesmo era perceber porque razão não havia sinal de Frankmusic, sendo 00h45, e os da batucada electrónica já ali acampados, com início previsto para a 01h15. Foi depois de me esclarecerem – “ah, esse (Frankmusic) já tocou, acabou mais cedo” – que surgiu a grande dúvida que dali a pouco me perseguiria até casa, e teima em ficar: “Será que os Walkmen foram beber um copo ao Maxime?”
Créditos: A Rita Carmo é a maior, e a malta da reportagem do IOL também; sobretudo o Luis Silva - olho de lince na edição de imagens.
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3 comentários:
Canções populares melodramáticas capazes de deixar os ouvintes mais desprevenidos num perfeito estado de arrepio. Literalmente a bater o dente.
Depois do rufia em desintoxicação (tem direitos de autor) a noite tinha de ser uma desilusão. Salvou-se, antes dele, o tipo com mais barba que Camelo.
abriu o concerto com "new country" e não com "on the water"...
tks pela correcção, ja devo ter bebido a memória, é bem possível.
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