sábado, 3 de outubro de 2009

Fuck Buttons: vísceras, beleza e isto de dizer palavrões

A experiência de assistir pela primeira vez a um concerto dos Fuck Buttons, que estiveram em Lisboa na quinta-feira para apresentar o novíssimo disco Tarot Sport, assemelha-se a essa fase dos namoros a que chamarei de ‘paraíso’. Este atravessa o conhecimento mútuo de duas pessoas, passa pelo jogo da sedução e estende-se para lá do laço criado entre ambas - na maioria dos casos, o ‘paraíso’ dura algumas semanas na vida real, aqui e ali prolonga-se por meses e nos filmes é para sempre.

Além do talento que têm para produzir música electrónica experimental, o duo formado pelos ingleses Andrew Hung e Benjamin Power navega na crista da onda sónica actual. As vénias das mais prestigiadas publicações especializadas sucedem-se um pouco por todo o mundo. Até à data faltava que a tinta das portuguesas tivesse a oportunidade de, sem apanhar um avião, tentar explicar porquê.

O encanto peculiar que os distingue, e que lotou a diminuta Galeria Zé dos Bois, explica-se de seguida: para uma banda que faz do ruído o seu ritmo cardíaco, na senda do legado deixado por outras como Mogway (a melancolia pop), My Bloody Valentine (distorção, para que te quero) ou The Field (a circularidade do techno minimal), os Fuck Buttons têm uma noção melódica que desarma o mais desprevenido.

Temas como ‘A Bright Tomorrow’ e ‘Sweet Love for Planet Earth’, do álbum de estreia Street Horrrsing (2008), ou ‘Surf Solar’ e ‘Space Mountain’, de Tarot Sport, são, sobretudo, belas. A conclusão retira-se pela ressonância admirável que o frente-a-frente de Hung e Power teve nos suados aventureiros que cozeram no forno da ZDB. O programa arrancara com os portugueses Ninjas!.

Hora e meia depois do início do concerto, quando o silêncio se impôs, a energia que pairava no ar dizia-nos que se tinha escrito história ali mesmo, ao vivo, à frente de todos nós. Portugal já sabe: os Fuck Buttons, que ainda hoje reclamam divertir-se à brava com o nome que escolheram para o seu projecto, desfizeram em cacos o epíteto de ‘hype’ que inevitavelmente é associado a uma banda que salta para a ribalta no seu álbum de estreia. Street Horrrsing já pode reclamar o estatuto que bem entender depois de o duo noise de Bristol ter elevado a fasquia com Tarot Sport.