"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars." J. Kerouac
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Morocco, nice!
Acordei a pensar que o dia estaria uma merda. Brrr.. quando saí do banho. Coisa estranha. Troquei a habitual t-shirt por uma sweat. O verão morreu, pensei, ao dar com os meus braços cobertos. Viagem para Lisboa no horizonte.
Sem gasóleo que chegasse, passei pelo E. Leclerc para corrigir a coisa. Pensei: “A mangueira é ágil que chegue para sobrevoar o topo do carro e chegar ao lado contrário para entrar no buraquinho antes de começar a cuspir combustível". Enganei-me. A mangueira do E. Leclerc de Portimão está um pouco enferrujada, e tantas dificuldades tive em prosseguir os passos atrás descritos que em menos de nada ela já besuntava chão, chapa do carro, pés do rui, uma festa. Três horas depois sentiria o cheiro na pele tão intenso como naquele momento – assim nos interrogamos até que ponto a porta tem força suficiente para servir de bandeira em exemplos de teimosia.
De caminho para a capital percebi que os tempos são velozes, de modo que o tecto lá em cima ganha nuvens à mesma velocidade com que as perde. Lá a porra, hein!. T-shirt recuperada enquanto os quatro-piscas pediam desculpa pelo carro estacionado à berma da estrada.
Cheguei. Feriado é dia de trabalho porque, já se sabe, jornalista colhe no dia seguinte o que semeou na véspera. Bem, uma parte da fauna. (A minha avó podia ter dito isto para cinco segundos volvidos se esquecer completamente).
Projectei um dia calmo. Escrever sobre desporto e o destaque para o Benfica, que jogaria já sem sol. Chega a minha editora. “Olá P.!”; “Olá Rui,”. A virgula não é inocente. Atarefada, pediu-me um favor. Olha daqui a um bocado vai ligar alguém para entrevistares os Backstreet Boys. “Quê?”, perguntei, como se não tivesse ouvido.
Falei com o moço que se desorientou aí uns tempos com grandes mocas. Tossiu mais do que falou. Estavam todos com gripe. O mundo sabe ser cruel.
O dia foi longo e, como de costume aos domingos e feriados, tive de inventar um estacionamento quando cheguei a casa. Antes encostei o carro ali perto e tirei as malas. Olá Rui, olha está cá um chileno agora!, disse-me da varanda um colega de casa. Um chileno?, peguntei, como se não tivesse ouvido. Era tarde.
Subi as escadas e disseram-me que o chileno queria jantar. Quase meia noite. Tem a Portugália: digam-lhe que vou tentar estacionar o carro e posso levá-lo. Batem-lhe à porta. O chileno aparece. Saco do meu espanholês. Olá puedo levarte para cenar se quieres, ballet?
Nem uma, nem duas. Nada. Ali perto, o espanhol da casa explicou em inglês ao chileno o que eu lhe tinha dito. "Nice!, nice!", respondeu. Ocorreu-me perguntar que espécie de chileno era ele. Resposta: “Morocco, nice!”
Como chovia cats and dogs, expressão que utilizo para me fazer entender à I., resolvi acompanhar o Ahmed - Ahmed como o terrorista-marioneta que está mais ou menos morto - à Portugália e jantar com ele. Não come porco, naturalmente, é muçulmano. O melhor filme é o Casablanca, onde nasceu, e a melhor comida é a marroquina, explicou-me, sem demasiados detalhes. Depois anunciou que não renega álcool – “makes me happy and is good to dance” – e tem namorada – “everyone has a girlfriend” - e mostrou jogo de rins quando lhe dei a minha opinião sobre essas coisas da religião.
Cada um virou o seu bife de vaca e no fim enganei-me nas contas com o empregado, que veio atrás de nós exigir os 10 cêntimos que faltavam. Perdi a cabeça e dei-lhe uma moeda cheia, 50 cêntimos. Fique com o troco. De alguma forma o homem não quis a oferta. “Isto é seu”.
Chovia mesmo muito pelo que mudei de ideias: já não vou deixar o carro ali perto, onde estacionei. Vou tentar a minha sorte perto de casa. Encontrei um lugar com estacionamento permitido das 20h às 8h. Acordo às 07h50 e depois volto, que amanhã estou a fechar o jornal e, raios, estou cansado. Às 05h acordei porque tinha sonhado que me atrasara em vinte minutos e me tinham levado o carro. Quase não preguei olho desde aí. Cheguei ao carro depois de passar pelas pessoas penteado pela almofada e desloquei-o para o outro lado da estrada. Rodas em cima do passeio, todo torto. Mudei-o mais para a frente. Três tentativas e muita remela no canto do olho. Estacionado. Fujo. Cama. Sonhei que fui e voltei de Amesterdão.
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2 comentários:
Continua um cortelho multinacional. Porreiro era aquele espanhol de Esposende!
Giro este post. Por ser tão disperso. E confuso in a good kind of way. E não estaria aqui se não fossem os meus conhecimentos altamente teconológicos!
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