sábado, 2 de junho de 2012

The Dø, tesouro


Está na hora de lamber os The Dø tipo Lassie pelo segundo álbum deles, um tesouro que tem de ser descoberto pelo máximo número de pessoas e outros. Há dois anos servi-me deles aquando do primeiro disco para fazer de engraçadinho ao mesmo tempo que os metia no mapa do Castelo, mas fiquei a dever-lhes uma. Sem favores: beleza destas tem de ser comentada a preceito e partilhada. 

Both Ways Open Jaws é o melhor disco escondido de 2011. Nunca é previsível. Está sempre a crescer a cada audição, fruto de uma produção doentia de tão genial. Há por aqui detalhes que só mesmo de headphones para os descortinar e que acrescentam sempre qualquer coisa à atmosfera dos temas. Estes podem começar melosos e acabar ásperos. Podem ser sons de orquestra, coros a evocar filmes da Disney ou batidas electrónicas que fariam o João Botelho saltar à corda sem corda na cave do Lux. Podem ser tribais. Jazzísticos. Ameninados. São, seguramente, únicos: milagrosamente, na era das gavetas, raras são as publicações especializadas que associam o som da banda a determinado estilo ou influência. Os The Dø vivem da descoberta e, à medida que afastam as sebes, afirmam-se por tentativa-acerto.

O grande responsável deste pedaço de magia é o francês Dan Levy, multi-instrumentalista e compositor de bandas sonoras para filmes. Foi num deles, Império dos Lobos, que conheceu Olivia Merilahti, compatriota de mãe finlandesa. Conheceram-se, a coisa valeu a pena e formaram a banda. Ela, dona de uma beleza perturbadora, escreve as letras e empresta a voz aguda e doce às construções riquíssimas de Levy. A sensação de preenchimento sensorial é total, de uma grandeza, lá está, cinéfila. 'Smash them All', medalha de prata  em 2011 para o júri déspota do Castelo, resume com alta fidelidade o que atrás foi descrito. A primeira parte da música, que vai até ao fim do primeiro refrão, é espirituosa. Aquelas teclas no fim do refrão são uma delícia. O sentido de humor está à flor da pele. Mas a dada altura o tema desencarrilha e assume-se dramático. Claro está que nunca deixa de ser brilhante. Pelo contrário: se muda é para melhor.

No seu segundo disco os The Dø atingem um estádio tal de maturidade que, das duas uma: ou fazem um terceiro disco neste registo, ficando provavelmente abaixo das expectativas, tão alta está a fasquia, ou investem por outros caminhos, talvez electrónicos, para nos voltarem a deixar de queixo caído. Eu cá apostaria na segunda hipótese. Both Ways Open Jaws é para ouvir sem distracções. Aqui. Em baixo deixo uma versão ao vivo e a cores da faixa 'The Wicked & the Blind', em que o par Dan/Olivia é ajudado, pelo menos, por um guitarrista, um baterista, uma saxofonista e mais povo para coros.

1 comentário:

Anónimo disse...

este both ways open jaws é mesmo um dos segredos de 2011.
e ela é uma fofinha.