Está na hora de lamber os The Dø tipo Lassie pelo segundo álbum deles, um tesouro que tem de ser descoberto pelo máximo número de pessoas e outros. Há dois anos servi-me deles aquando do primeiro disco para fazer de engraçadinho ao mesmo tempo que os metia no mapa do Castelo, mas fiquei a dever-lhes uma. Sem favores: beleza destas tem de ser comentada a preceito e partilhada.
Both Ways Open Jaws é o melhor disco escondido de 2011. Nunca é previsível. Está sempre a crescer a cada audição, fruto de uma produção doentia de tão genial. Há por aqui detalhes que só mesmo de headphones para os descortinar e que acrescentam sempre qualquer coisa à atmosfera dos temas. Estes podem começar melosos e acabar ásperos. Podem ser sons de orquestra, coros a evocar filmes da Disney ou batidas electrónicas que fariam o João Botelho saltar à corda sem corda na cave do Lux. Podem ser tribais. Jazzísticos. Ameninados. São, seguramente, únicos: milagrosamente, na era das gavetas, raras são as publicações especializadas que associam o som da banda a determinado estilo ou influência. Os The Dø vivem da descoberta e, à medida que afastam as sebes, afirmam-se por tentativa-acerto.
O grande responsável deste pedaço de magia é o francês Dan Levy, multi-instrumentalista e compositor de bandas sonoras para filmes. Foi num deles, Império dos Lobos, que conheceu Olivia Merilahti, compatriota de mãe finlandesa. Conheceram-se, a coisa valeu a pena e formaram a banda. Ela, dona de uma beleza perturbadora, escreve as letras e empresta a voz aguda e doce às construções riquíssimas de Levy. A sensação de preenchimento sensorial é total, de uma grandeza, lá está, cinéfila. 'Smash them All', medalha de prata em 2011 para o júri déspota do Castelo, resume com alta fidelidade o que atrás foi descrito. A primeira parte da música, que vai até ao fim do primeiro refrão, é espirituosa. Aquelas teclas no fim do refrão são uma delícia. O sentido de humor está à flor da pele. Mas a dada altura o tema desencarrilha e assume-se dramático. Claro está que nunca deixa de ser brilhante. Pelo contrário: se muda é para melhor.
No seu segundo disco os The Dø atingem um estádio tal de maturidade que, das duas uma: ou fazem um terceiro disco neste registo, ficando provavelmente abaixo das expectativas, tão alta está a fasquia, ou investem por outros caminhos, talvez electrónicos, para nos voltarem a deixar de queixo caído. Eu cá apostaria na segunda hipótese. Both Ways Open Jaws é para ouvir sem distracções. Aqui. Em baixo deixo uma versão ao vivo e a cores da faixa 'The Wicked & the Blind', em que o par Dan/Olivia é ajudado, pelo menos, por um guitarrista, um baterista, uma saxofonista e mais povo para coros.
1 comentário:
este both ways open jaws é mesmo um dos segredos de 2011.
e ela é uma fofinha.
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