Pequenito e escondido, o Bar do T. passa despercebido em Portimão, mas, uma vez encontrado, faz por merecer estar associado à terra do tudo ou nada. À falta de oferta nocturna na cidade para um público mais exigente, o bar do T. é uma alternativa que não desilude dentro dos padrões do típico bar de "bifes". Tem karaoke e uma sala com internet e snooker. Nas paredes há plasmas onde geralmente passam DVDs de música que variam entre o interessante (Live Aid'85) e o azeite suportável do Robbie-tenham-pena-de-mim-Williams em Knebworth, 2003. Os clientes são maioritariamente estrangeiros, de férias, acomodados nos hotéis das redondezas, ou gente da terra como o Vidaul, que é agricultor e não sei ao certo se o nome dele se escreve assim, Vidaul, como o estou a fazer. À chegada ao bar, o meu irmão e eu vimo-lo rodeado de estrangeiras de meia idade, muito rosadas, muito gordas (fish and chips, fish and chips, fish and chips), na maioria casadas mas sem os maridos por perto - estes começam a beber mal acordam e à noite já não se aguentam de pé, deixando as mulheres ao abandono. Durante uma partida de snooker o meu irmão dirigiu-se ao Vidaul e perguntou-lhe se teria albicoques (damascos) no carro para vender. Prevenido, o agricultor sorriu, foi e veio em menos de pouco e o negócio fechou-se: quatro euros para ele e um saco a pingar albicoques para nós. Na verdade, por muito boa vontade que tenha, o Vidaul não se safa com as estrangeiras, não como o T., pelo menos. O T. é um bom anfitrião para um bar pequeno como aquele. De vez em quando enfeita-se com chapéus, está quase sempre bem disposto e nunca deixa de ficar bêbado. A barriga generosa não chega a enganar: o homem parece ter (e tem) a força de dois cavalos. É também fanático-religioso pelo Sporting Clube de Portugal, o que só lhe fica bem.
Numa noite recente havia duas intermináveis estrangeiras, irmãs, que lhe queriam fazer a folha, mas como uma queria mais do que a outra ficou decidido por aí quem teria a primazia. Aos ouvidos do T., bem como à restante clientela, chegou o número do quarto em voz alta, "Five O'Eight!", ao que o T. respondia, expondo os dentes desalinhados, em jeito de promessa, "Knock-knock, room service!", e a estrangeira logo se derreteu num combinado de risinhos histéricos e soluços sem que eu percebesse se o marido dela, já num hipotético sétimo sono, presumivelmente no 508, também faria parte da equação.
Se há coisa que se pode dizer dos estrangeiros que andam pelo Algarve de férias é que bebem muito, e uma das intermináveis irmãs, a mais motivada, bebeu tanto que, já sem conseguir abrir os olhos, subiu ao 508 antes do fecho do bar. O T. prometeu-lhe que iria ter com ela assim que pudesse, mas de repente todos os ventos o empurravam para a irmã, que tinha ficado por ali. Todos os ventos, menos o de uma rapariga portuguesa com um corte de cabelo punk, camisa branca aberta até ao terceiro botão e, diz-se, uma boa fama de aviar tudo o que é estrangeiras. No meio daquela confusão, o T. fazia rir uma irmã mas não esquecia a outra, e de tanto querer as duas acabou sozinho.
2 comentários:
estava a ouvir uns podcasts e lembrei-me de passar por aqui. tanta coisa que há para ler :O
gosto da frase do kerouac :)
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