Bruce Springsteen & The E Street Band, por Laura Haanpää |
O Boss é tão Boss que, acabado o Rock in Rio-Lisboa 2012, onde me estreei ao fim de cinco edições, faz sinal aos irmãos de vida da E Street Band e ei-los de volta ao palco para tocar 'Twist and Shout' dos Beatles Top Notes por cima do fogo de artifício que marca o fim de festa. Se não sabia, a pessoa que deu ordem para premir o botão do fogo de artifício ficou a saber que a festa acaba quando o Boss quiser.
O Boss é tão Boss que, 19 intermináveis anos depois da última actuação em Portugal, no velhinho Alvalade (L), regressa num festival em que o cartaz musical só representa, na melhor das estimativas, 50% das actividades, carrega na apresentação do novo álbum (Wrecking Ball), que mereceu três das quatro primeiras músicas, e espera pelo fim para oferecer ao povão um mini best-off com as big 4, 'Born in the USA', 'Born To Run', 'Glory Days' e 'Dancing in the Dark'.
O Boss é tão Boss que não convidou uma, mas duas mulheres para fazer de Courtney Cox na 'Dancing in the Dark'.
O Boss é tão Boss que quase me esqueço como é bom ouvir 81 mil pessoas a cantar em português, mesmo que seja cada vez mais urgente para o Tim (não o Booth, o dos Xutos) estar rodeado de vozes amigas que tornem possível levar certos temas até ao fim.
O Boss é tão Boss que quase me esqueço do maluco dos Kaiser Chiefs a desaparecer colina acima para desespero dos seguranças, aparecendo depois a descer em slide, sobre a multidão, sem nunca parar de cantar a música que fisicamente abandonara.
O Boss é tão Boss que não convidou uma, mas duas mulheres para fazer de Courtney Cox na 'Dancing in the Dark'.
O Boss é tão Boss que aos 62 anos passou o concerto a correr entre público e palco quando na véspera tinha tocado durante três horas em San Sebastian.
O Boss é tão Boss que fala melhor português à meia noite do que eu depois das quatro da manhã.
O Boss é tão Boss que nunca se cansou de elogiar o talento da lendária E Street Band, composta por quase 20 músicos que produzem, de longe, o som mais arrebatador que já ouvi ao vivo.
O Boss é tão Boss que quase me esqueço como é bom ouvir 81 mil pessoas a cantar em português, mesmo que seja cada vez mais urgente para o Tim (não o Booth, o dos Xutos) estar rodeado de vozes amigas que tornem possível levar certos temas até ao fim.
O Boss é tão Boss que quase me esqueço do maluco dos Kaiser Chiefs a desaparecer colina acima para desespero dos seguranças, aparecendo depois a descer em slide, sobre a multidão, sem nunca parar de cantar a música que fisicamente abandonara.
O Boss é tão Boss que quase me esqueço do quanto gosto dos James e da maravilha que é vê-los ao vivo, da rara comunhão que conseguem ter com o público, e somos sempre poucos para cantar hinos de uma vida como a 'Laid', 'Sit Down' ou 'Sometimes'.
O Boss é tão Boss que, pela primeira vez em muitos anos de festivais, com a bexiga em suplício, deixei-me ficar nas grades durante quatro horas e meia para conservar o meu spot privilegiado - ou seja, do fim do concerto dos James ao fim do concerto do Bruce Springsteen. E sim, bebi cerveja das 16h às 22h.
O Boss é tão Boss que convidou um puto certamente com menos de dez anos para cantar o refrão da 'Waiting on a Sunny Day' perante 81 mil pessoas e depois pô-lo aos ombros e disse-lhe que a partir daquele momento passava a fazer parte da E Street Band.
O Boss é tão Boss que falou sobre a sua 'maria' - "está em casa com as crianças e manda cumprimentos" - e dos tempos difíceis que se vivem na América "e aqui", em Portugal, "onde muitas pessoas perderam os seus empregos", especificou. Ao fim destes anos todos o Boss, filho pródigo e portador do imaginário popular dos Estados Unidos, o país que ganhou o óscar vitalício para Maior Umbigo, nunca perdeu de vista o poder (e responsabilidade) que um microfone nas mãos lhe confere, e continua a tentar salvar o mundo.
O Boss é tão Boss que tomou conta de nós quando brincou, quando falou a sério, quando cantou, quando tocou e até quando, a dada altura, uivou. Tomou conta de nós. Não nos sobrava um pingo de ego. Acredito que naquela noite também ele desse conta do Chuck Norris.
O Boss é tão Boss que, na 'Spirit in the Night' espalhou a mensagem da força interior em versão pastor evangélico, fazendo uma missa a céu aberto no Parque da Bela Vista com o intuito de, disse, estimular os nossos órgãos sexuais com o poder do rock n'roll.
O Boss é tão Boss que foi três vezes às grades buscar cartazes com nomes de músicas empunhados pela malta das primeiras filas, regressava ao palco, mostrava-os à família e de seguida tocava-as. "Aqui há discos pedidos", estampava-se no sorrisão do Boss, enquanto os jornalistas atiravam o rascunho do alinhamento oficial para o cesto do lixo.
O Boss é tão Boss que chamar-lhe 'Chefe' é eufemismo. O homem é uma besta. A melhor de todas.
6 comentários:
Ah o Boss... :)
Com uma descrição destas, fico com pena de não ter ido ver o Boss. Certamente, já não se fazem muitos Boss's destes.
Um post que é tão bom, que até está à altura do boss ;)
Gostava de ter ido. Faltar a este concerto não é de boss, mas tu não perdes uma nos últimos anos!I envy you! (a Twist and Shout não é dos Beatles...)
Não é mesmo de boss, pensei que não perdias isto pá. Mas olha que isso de não falhar um acontecimento destes é letra, ando mais discreto do que imaginas.
E a correcção nos direitos de autor está feita, thanks ;)
cat: presumo que tenhas perdido o concerto da tua vida?
aidan: único, irrepetível. Mas só lá no meio para perceber o impacto que o concerto teve nas pessoas, sobretudo para quem, como eu, nunca tinha visto o bicho e seus amigos da e street.
she knows: um elogio ao fim de quatro anos <3
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