Não ignoras quinhentas mil pessoas - números da organização da manif anti-escravidão ontem realizada em Lisboa -, ou duzentas mil, ou o raio que parta. Não ignoras a força da senhora já na idade da ternura, que permanecia à varanda de um prédio a cair de podre da avenida de Berna, ela que batia num tacho como se se batesse pela vida enquanto o povo passava, só interrompendo a luta dela para nos enviar beijinhos, emocionada pela adoração que de todos nós mereceu. Não ignoras, Passos, não ignoras uma manifestação impoluta, de cidadãos comuns, alheia ao intenso fedor a falsidade do jogo político, uma marcha pelas ruas de Lisboa e do restante país que a todos uniu, da esquerda à direita, na luta contra a miséria. Não ignoras, Passos. Vais levar connosco até que aberrações como transferências de riqueza do bolso de trabalhadores que ganham o salário mínimo para o dos patrões se torne num mero devaneio, nunca concretizado, que em tempos mereceu dos cidadãos o maior protesto nacional de que há memória. Estamos vivos.
3 comentários:
Apenas discordo com o nome que atribuíram a esta manif. Discordo com a persistência de algumas palavras de ordem em relação a entidade que veio apontar os erros deste país. Desejo, utopicamente, que a dívida seja colmatada por aqueles que têm enchido o bolso através do lobby político, mas de quem ninguém fala. Desejo que Passos Coelho tenha tomates para retirar a quem deve, e não roubar a mim e a ti. Let's see...
Eu também fui, convenci 3 irem comigo e gritamos! Regra geral não vejo as manifs como a melhor forma de protesto e já não ia a uma desde 2005. Tal como tu e eu, milhares de cidadãos perderam a paciência e por forma a que não sejam engolidos de uma vez pela desilusão e pela fatalidade que o futuro da social democracia lhes aponta, marcharam.
500 mil não acredito, mas que seriam uns uns 250-300 mil descontentes lá isso eram, num percurso demasiado curto para aquele mar de gente. Só quem ia na parte de trás da manif como eu é que imagina aquela moldura humana à sua frente. Nunca vi nada assim, uma adesão popular sem paralelo e recordo-me dessa velhota do 2º andar de um prédio da Av Berna e no quanto aquela imagem foi marcante.
O sucesso desta manif esteve no facto de ter unido todos os quadrantes da sociedade, todas as visões politicas, todos os extractos sociais, todos os que estão a ser roubados e a lhes verem ser cortados os seus sonhos e a sua esperança. Se tivessem sido só os da esquerda, os "indignados" e outros desordeiros certamente que não teria ficado na memória de ninguém, ou teria ficado, mas pelas piores razões.
Fora tudo o resto, ontem e tal como tu, fiquei bastante orgulhoso do nosso povo. Estamos vivos!
Aidan: Não faz lá muito sentido, não, mas o nome acaba por ser pouco importante face ao que pelas ruas de Lisboa e restante país se passou. Continuo com fé que vão recuar no roubo descarado da tsu. Se tal acontecerá já será uma grande vitória de quem saiu à rua.
Martini: quando tu estás orgulhoso do nosso povo, que direi eu? :D foi um dia bonito, espero que com peso no futuro imediato do país.
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