Ao grito de comando (portas do comboio a abrirem), do outro lado da linha, uma massa humana avançava, muda, para a rua. Ouvia-se o som incoerente de passos arrastados, trabalhadores com o desconsolo de um exército em retirada. Era vê-los, curvados, acompanhando o movimento dos próprios pés, talvez não quisessem fitar o horizonte, onde o futuro fica mais nítido - a recompensa pelo trabalho tornou-se incerta e frequentemente insuficiente. Depois deles, outros. Mudos. Muitos. De onde os via pareciam-me os mesmos, mas não tinha como provar a coincidência. Cheguei a casa a compreender que nunca tinha visto junta tanta gente desencantada.
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