Saio
de casa mais cedo. Coisas a resolver nas finanças. Faço-me à calçada
portuguesa. Perigos no chão (aquela moda dos donos de cães a agachar-se com um
saco de plástico na mão já era) e no ar (raides aéreos de pombos). Temperatura
boa. Desço e subo colinas, um bom teste para o joelho que magoei na manhã de
Natal, o segundo teste depois de ter voltado a jogar à bola no sábado de manhã,
com os olhos bem vermelhos e quatro horas de descanso no corpo.
Tiro o casaco - já suo. Chego à repartição das finanças desejada. Demoro
cerca de um minuto a tentar compreender qual das senhas devo tirar. Tiro três –
antes prevenir. Nem me sento. A sala de espera
está cheia: há uma média de 20 pessoas à minha frente em cada uma das senhas.
Ocorre-me que, a enganar-me no balcão devido, terei de me enganar rapidamente
de modo a ainda apanhar a minha vez num dos outros dois para os quais tenho senhas. Dez, vinte, trinta minutos à espera. Torna-se curta
a hora que tenho para resolver as coisas.
Aproxima-se um senhor com uma boina perfeita. Sobrancelhas carregadas e
brancas. Mãos trémulas. Voz idem. Pede-me para lhe tirar uma senha ‘E’. Assim
faço.
“Ooo-bri-ga-do.”
“Ora
essa, chefe!”.
Quarenta minutos. Cinquenta. Observo um quadro com informações. Diz assim: “PODES ESTAR
AÍ À VONTADE COM CARA DE QUEM ACHA QUE SE VAI DESPACHAR AINDA HOJE, SEM CHEGAR
ATRASADO AO TRABALHO, PORQUE SE OLHARES BEM PARA A TUA CARTEIRA NÃO TENS LÁ O
CARTÃO DO CIDADÃO.”
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