terça-feira, 9 de abril de 2013

Em perspectiva

Na calada da noite irrompe um harmonioso assobio. Daqueles que quase irritam: como se atreve aquela pessoa a assobiar assim, tão airosa, tão feliz? Cuspo um fio de vinagre e interrompo a respiração para que ruído algum abafe o assobio; depois retomo-a, senão este texto já não sai. É um assobio muito bonito, podia ser de um tordo apostado em colorir a paisagem urbano-depressiva, só que sai demasiado forte, é sem dúvida humano. Tem um jeito marialva, quer e faz-se ouvir - lembra o Bruma e o Carrillo a fazer pouco dos defesas do Gi Vicente, tal a lata.

Oiço-o com admiração, o assobio - toda a força criadora da primavera está ali. Vou à janela, espreito lá para baixo à procura do culpado. Encontro-o: é o homem do lixo.

1 comentário:

Ana disse...

o homem do lixo da minha rua gosta de assobiar marchas populares :)