quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sonny Rollins: O génio que também deverá ter fornicado numa jaula de leões congoleses


De prodígios auto-destrutivos está o paraíso cheio. Bud Powell, Chet Baker, Charlie Parker, Dexter Gordon, Sonny Stitt: todos lendas do jazz, de alguma forma capazes de manter uma certa aura sagrada em seu redor, nascidos nos loucos anos 20 e maiores do que o seu tempo num - vá - banho celestial de substâncias psicotrópicas.

Fazemos o elogio deles nas publicações especializadas, nas conversas de café, entre copos, nos bares, nos blogues, desde e para sempre; como se génio e junkie andassem de mão dada como causa e respectivo efeito. Nada contra: a maioria dos músicos que citei até são meus amigos, oiço-os diariamente e isso faz-me bem à saúde. Mas há mais para contar: muitos deverão ser os talentos do jazz não erguidos a um estatuto talvez merecido (o Miles Davis não conta); nomes que, ao contrário de outros, deixaram de merecer novos significados devido à sua viagem pessoal pouco publicável.

O saxofonista na imagem, naturalmente absorto numa jam que envergonha a pauta diante de si, não é um desses génios lamentavelmente esquecidos que nunca fornicou com a mãe da namorada numa jaula de leões congoleses (e foi fotografado). Prometo não baixar a guarda. Não será, posto isto, pela candura de hábitos que Sonny Rollins é aqui lembrado, e muito menos por se tratar de um talento esquecido no meio, mas antes porque esta lenda de ares distraídos, que nasceu em 1930, sendo contemporânea de todos os músicos citados no primeiro parágrafo e tocado com o Thelonious Monk, Miles Davis e John Coltrane, está viva e recomenda-se.

Exemplo? Sobe ao palco esta terça-feira, 21, e no próximo dia 25 de Outubro, em São Paulo, no brasileiro TIM Festival onde constam igualmente nomes como os Klaxons, The Gossip ou os nossos melhores amigos, Gogol Bordello, e na quinta, 23, no Rio de Janeiro. Chamam-lhe a última lenda viva do jazz (que os 87 sábios anos do Dave Brubeck perdoem, algures, alguém), o que se percebe face ao seu já-mais-de-meio-século de carreira, onde se destaca “Saxophone Colossus” – disco que Rollins inventou em 1956 e que é consensualmente tido com uma das pérolas na história do complexo hard bop. Nunca veio a Portugal. Ainda vamos a tempo.

Curtam o bicho: mestre no género do grande improviso, que ao longo da sua longa carreira teve o respeito suficiente pelos seus fãs para investir em dois períodos sabáticos, após os quais voltou para se reinventar (Ave, Zach Condon!).

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