sábado, 7 de fevereiro de 2009

A galinha dos ovos de ouro


Temos uma máquina de jogos Megatouch numa cópia baratinha de cabaret que abriu não muito longe do nosso bar. Num Inverno rigoroso, sem turistas, é a nossa galinha dos ovos de ouro. De regresso à terra para o fim-de-semana, fui lá ontem à noite, pela primeira vez, atrás do meu irmão. Fim: picar o ponto – ver a galinha, leia-se.

Grande parte da comunidade de ciganos da zona podia ser encontrada junto ao palco, onde zurravam de forma entusiasta às vazas de três a quatro brasileiras sem frio que ali se substituíam de três em três minutos depois de cada uma se abanar ao som da Christina Aguilera. Muito atento, de pé, encostado a um sófá, um rapaz que conheci pouco depois de se ter casado observava o espectáculo.

O momento pedia algum tipo de discrição. Talvez por isso, numa decisão não inteiramente consensual, escolhemos um sofá longe da zurraria para nos sentarmos a beber o copo que já pediramos no bar.

A virar whisky desde o meio dia, um amigo do meu irmão, profundo conhecedor da casa, perguntou-me se eu queria um broche. Virei o pescoço de chicotada e olhei a nossa máquina de relance. Depois reencontrei-lhe os olhos, sorri, e respondi "não". O amigo do meu irmão que bebia whisky desde o meio dia insistiu, dizendo qualquer coisa, que à quarta ou quinta vez percebi ser: "Um bróchezinho, dé. É bém vi como marcáste aquèla lá ao fundo vestida de leoparde, na te faças de esquesite".

Fiz-lhe ver que tudo correra bem até àquele momento, pelo que não havia necessidade de mudar as coisas. Por essa altura, num sofá ao lado do nosso, já se tinha acomodado com uma funcionária da casa o amigo que conheci pouco depois de se ter casado. Por lá ficaram um par de minutos, logo desaparecendo para dentro de uma sala contígua ao espaço.

Nisto, já baralhado de tanto zurro feito eco, o meu irmão verbalizou uma ideia. "Bem, vamos embora daqui”, disse - iniciativa que agradou a quase todos.

Antes de nos encaminharmos para a porta de saída, o amigo do meu irmão que bebia whisky desde o meio dia agarrou-me pelo braço e dirigiu-nos à rapariga vestida de leopardo, para logo lhe fazer notar que eu não a queria. Ela sorriu, eu também. Era muito bonita. Disse-lhe qualquer coisa tão conveniente como "não tem nada a ver contigo", e, já fora do estabelecimento, despedi-me do amigo do meu irmão de uma forma - "consegues ser tão desagradável" - que o chocou profundamente, pelo que me deu as costas e regressou em passo precipitado ao cabaret onde mora a nossa actual galinha dos ovos de ouro.

4 comentários:

Anónimo disse...

Grande foto!Ali, fui feliz. eh eh E essa história, claro, é fantástica.

Anónimo disse...

Excelente moce. O Lobo Antunes da Praia da Rocha, mas mais crú.

M. disse...

logo uma raariga vestida de leopardo..

Ricardo Tomé disse...

uma moça vestida de leopardo numa historia contada por ti é verdadeiramente sublime

forte abraçao querido amigo