quinta-feira, 18 de junho de 2009

A foice


O dono do café onde costumo almoçar é brasileiro e muito simpático, mas tem umas unhas perigosíssimas. Parecer-se-iam com a foice do Panoramix se esta fosse, digamos, imunda. Mas enquanto o druida do Asterix precisa da sua foice de ouro para colher os ingredientes com que depois vai elaborar poções mágicas, conferindo a força de mil cavalos a quem as beber, era menos urgente que o dono do café onde costumo almoçar tratasse da sopa e torrada que quase sempre lhe peço com aquelas barbatanas amarelo-negras. Revolve-se-me o estômago quando o imagino na copa a despachar o assunto.

O primo hoje veio mais tarde, já deve estar atrasado para o trabalho, tenho de ser rápido, scratch, scratch.

Sofro. Mas ele chama-me primo desde que me conheceu. Julgava-me brasileiro. Passei a fazer o mesmo. Sou bem educado. Não lhe posso faltar. Familia é familia. Em todo o caso ando a ganhar coragem para lhe falar de temas pertinentes que envolvam a ASAE ou o Castigo Final. Tenebrosos. Que se ergam em maiúsculas. Uma coisa poderia levar à outra. Sinto, porém, que ainda não chegou esse dia. E para já limito-me a imaginar a conversa que sem dúvida me conduziria ao El Dorado.

- Olá primo.
- Oi primo, tudo legal?
- Tá tudo. Que sopa tem hoje?
- Sopinha especial.
- Especial?
- Especial.
- Porquê especial?
- É especial.
- A cozinheira está bem disposta?
- Saiu.
- Está sozinho?
- Sozinho, primo.
- Quem é que atende no balcão?
- Eu.
- E quem cozinha na copa?
- Também eu, primo.
- Mas isso não se faz.
- Não faz mal, primo.
- Faz, faz.
- As minhas mãos já não estranham.
- Pois.
- Deito a mão a tudo, primo.
- Exacto!
- (tira cera dos ouvidos)
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh !!!!!!!!!!!!

(tentei..)

1 comentário:

i disse...

loool!!! se o primo lesse isto ficava destroçado