segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Palavras leva o vento

A baixinha de lírio no cabelo que me convidou para um passeio perto do sossego cinco minutos depois de me pedir que lhe tirasse uma fotografia é demasiado parecida com a irmã mais velha de uma amiga da faculdade a quem um dia sugeri uma viagem de balão, percebi ou decidi há bocado, uma destas. À macaca com a memória depreendo que, sobre isto, sendo irmãs, uma não saiba da outra, até porque na faculdade a mais nova tinha namorado militar, coisa que a minha moça não era, militar, mas podia. O pudor da manhã seguinte, versão família.

A ser verdade o que de repente se me chega como tal.

Vinte e quatro horas em cima disso, nas proximidades, onde a violência menos ameaça a noite, percebi que conheço três morenas muito parecidas. Tenho por hábito confundir todas elas, especialmente quando escurece em redor das coisas. A mais velha foi minha professora na altura em que o marido era meu treinador de futebol. Lamentavelmente já se separaram e nos últimos tempos o meu ex-treinador passou a companheiro ocasional de copos. Nos desencontros da noite, receio que a minha ex-professora, cada vez menos obediente à curta rédea da dúvida, possa vir a torná-lo num problema de tamanho, digamos, familiar.

Prometi-me juízo.

A mais nova voltou a apanhar-me na idade esta semana. Ontem caminhava na minha direcção. Aos S. Anda cá. Recebo-a nos braços. Toma lá disto, chuack, dois beijos e parabéns com atraso. Como de costume nas noites em que já vê pouco e só se ouve a si própria, fez por ter a atenção de quem por ali estava, sobretudo das amigas: agarrando nas mamas à segunda tentativa, abanou-as e exclamou com orgulho, “27, 13 e meio cada uma!”. Nunca lhe faltou esperteza. Já a morena do meio, em cujo ombro ontem julgava ter tocado – era o da mais velha -, mostra as sardas mais bonitas e aquela serenidade boa de mãe. Evoca-me o último tango em paris. Não faço ideia porquê. Mas agora que penso nisso ela é mais ruiva do que outra coisa. E a morena dos 13,5 + 13,5 também pintou o cabelo há pouco tempo, ficou igualmente ruiva por opção. E se confundi o ombro da morena mais velha com o ombro da morena do meio, se já escurecera em redor das coisas quando isso aconteceu, quem me garante que não lhe tenha confundido a cor do cabelo?

Arrastado para os sonhos, tento manipulá-los, dar-lhes a volta, esquecer que o recomeço cansa.

Perco.

Ahahaha.

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