Os Amantes, René Margritte (1928) |
Percebeu que iria ficar sozinho no dia em que descobriu que ela não sabia rir, e sentiu um alivio de morte. Chegou-lhe na surpresa de uma porta na cara: viciara-se na ideia de estar só. Por ela, a ideia, deixou-se consumir. Quando deu conta já era tarde de mais. Há muito que procurava uma saída de emergência, e, enfim, encontrara-a. Deixaria de a contactar, de responder a convites, de frequentar os mesmos locais. Agora sabia-o. Apagaria todos os vestígios daquela hora diária de cama, daquela furiosa e desonrada hora diária de cama, miserável excitação irrepetível, prazer e mentiras e despudor e culpa. Num verbo: partir. Nisto, regressou a si próprio. Era, a partir dali, novamente só.
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