Ao ritmo de dez posts por dia, B.D entristeceu às três de uma manhã. B.D “em baixo”, lia-se. Ao que parece alimentava - e queria que nós, amigos virtuais, o soubessemos - a vontade de desaparecer completamente à boleia dos Radiohead. Esse foi o último post do dia – já o penúltimo, a fonte da posterior solidão, dizia, “Bem... Eu já cá venho.” Pouco faltava para as duas da manhã. É possível que B.D tenha papado episódios daquelas séries que toda a gente saca e chega a ver temporadas inteiras num dia, que entusiasmo do caralho. Depois apercebeu-se de que era tempo de voltar a sentir-se alguém. Uma hora e onze minutos chegava mais do que o suficiente para que se lembrassem dele. Quantas novidades teria? Fez login no facebook. Please wait.. Nada. Ninguém gostou ou sequer se importou o suficiente para frisar que não gostava do regresso dele à actividade online. F5 F5 F5 F5 F5 F5 F5 F5 F5 F5 F5. Zero. Sinais nenhuns do avisozinho vermelho com a chegada da novidade. Um comentário e dois ou três likes seriam o mínimo da decência. Mas não: nenhum interesse no B.D. Cruel. Ofensivo. B.D sentiu-se exposto. Só. Num bom dia B.D conseguiria ter eco de quase todos os seus posts, inclusive de meninas. Sentia ser algo que lhe validava a condição. Mas assim não. Naquela noite B.D ficou sozinho na mesa – foi o único a quem ninguém puxou para dançar. F5 F5 F5 F5 F5. Tudo parado, igual. “Não estou aqui, isto não está a acontecer”, pensou, lembrando-se do Thom Yorke. “B.D em baixo”. Tenho pena dele.
5 comentários:
Não consegui ver este post sem comentários. ironias do catano.
BD tem poder online. O facebook também.
Adorei!ahahaha Rui, tu escreves muito bem!Nada de novo para ti mas para mim que ainda não conhecia a maioria dos teus textos foi uma boa surpresa. ;)
Keep up *
Welcome to the Castle, Di, we've got fun and games ;)
neste contexto, eu acho que o facebook é igual aos blogs ou ao twitter ou aos tlms ou a qualquer outra ferramenta de comunicação. eu noto que antes recebia muito mais chamadas que me acordavam às 4h da manhã para desabafos. agora ligam o computador, escrevem umas palavras para aliviar a pressão e no dia seguinte sou eu que ligo a perguntar o que se passou. funciona como escape.
eu acho que não me sentiria à vontade para publicar os meus problemas pessoais na internet ou mostrar que não estou bem. mas já vi pessoas a ultrapassarem depressões através de desabafos em blogs ou redes sociais. deram-lhes a atenção que precisavam.
o facebook é o unico site de entretenimento (possível de ser actualizado) desbloqueado no meu trabalho. utilizo-o por isso. e utilizo-o muito para partilhar os episódios caricatos que vão acontecendo comigo, coisa que me levava muito dinheiro quando era partilhado por sms para a lista do pessoal mais chegado. isto não era porque a lista de amigos chegados era longa, mas porque a minha vida dava um filme indiano :)
o facebook tem ainda a vantagem de conseguirmos selecionar as pessoas que têm acesso aos nossos posts, que aceitamos como "amigos"...
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