terça-feira, 2 de agosto de 2011

Enjoy the Silence

Não me lembro bem quando comecei a ouvir aquilo que interessava, talvez uns oito anos, mas sei onde. Foi na casa dos meus pais, na garagem do país. Eles dormiam no andar de cima, enrolados à esquerda, havia o quarto do meio, onde dormiam as visitas e hoje durmo eu, quando lá vou, every now and then, e por fim o quarto do lado direito, onde dormia com o meu irmão. Entre as nossas camas de corpo e meio com colcha de fundo branco e desenhos às bolinhas coloridas repousava na mesa de cabeceira, frequentemente por mim cabeceada, um pequeno rádio leitor de cassetes. Entre outras qualidades que o meu irmão tinha, faço bold a esta: ouvia e continua a ouvir boa música. Nunca foi “indie”, aquilo que chamam a quem vai atrás da coisa nova, mas dentro do que a público acontecia, do que passava na rádio, as escolhas dele pareciam-me ter emoção de ser.

Faziamos programas de rádio. Ele, quase oito anos mais velho e o motivo pelo qual estou a escrever isto, na medida em que a dada altura, bloody bored, pediu “um mano para brincar”, era o locutor/DJ; eu, o ouvinte e comentador que nem idade tinha para saber o que era uma mulher. Inseríamos as devidas cassetes dentro do devido leitor sempre à devida hora, quando o meu pai já roncava e a minha mãe acordava-o só para ter a hipótese de adormecer primeiro – ele nunca a acordaria, está quieto -, embora raramente conseguisse. No limite o truque dela era não lavar os pés antes de se deitar, virando a almofada para o fundo da cama e coiso. “Agora vá, ressona que eu quero ouvir”.

Amo os meus pais.

Nos nossos programas de rádio clandestinos, sempre sussurrados madrugada dentro, os protagonistas deviam ser muitos, mas só me lembro dos R.E.M., The Cure e, last but not least, Depeche Mode, sobretudo com a Enjoy the Silence - cujo teledisco, vim a saber anos mais tarde, foi parcialmente rodado na Praia da Rocha, onde pontifica o 'tudo ou nada' desde que me conheço (?).

Miguel, talvez 16 anos: “Caros ouvintes, convosco, Enjoy the Silence”.


Miguel, talvez 16 anos: “Caro Rui, o que tem a dizer sobre a música?”

Rui, talvez oito anos e voz de gás hélio: “É fixe!”

5 comentários:

Di Almeida disse...

Derreti-me quando li este texto. (E é giro saber que vieste ao mundo para animar o teu irmão!Toda a gente sabe que o cãozinho a pilhas cansa :x (L) )
Fecho os olhos e dou-lhe a mão depois desta escolha musical! *

Cat disse...

Eu tinha para aí uns 14 anos quando (ou)vi isto pela 1a vez. Fiquei fã. E ainda hoje é uma das minhas preferidas, acho-a simplesmente extraordinária. **

Ísis disse...

Amei. Como é bom teres estas lembranças de infância :)

M.J. disse...

Vim cá parar através de um blog amigo:

Recordar a infância é sempre bom, tenho a sorte de ter mais 2 irmãs e 1 irmão, 2 deles apenas com diferença de 1 ano, sou o 3ª e lembro-me que quando éramos mais novos todos queriam brincar connosco porque eram logo os 4 que vinham!

Vou acompanhar,

boa escrita!

Rui Coelho disse...

Di: é bom saber que ando por aqui com algum motivo (L)

Cat: coração a abrir com isto, sempre, camião de boas recordações.

Isis: percebe-se o zoom ao detalhe, foi antes de começar a beber a memória!

MJ: amigo de blogue amigo, amigo é. Bem vindo ao barraco escocês ()