quarta-feira, 9 de maio de 2012

Irra, que gata



Quando a Norah Jones apareceu, há dez anos, andava eu a namoriscar a minha melhor amiga. O álbum de estreia dela (Come Away With Me, 2002) foi muitas vezes a nossa banda sonora no Golf azulão TDI do meu pai, que pedia para levar sempre que a ia buscar a casa, pois tinha um aparato diferente do Clio branquinho cof cof da minha avó - era esse que na altura conduzia. Ela gostava e eu também. (Da  Norah). Daí para cá a minha melhor amiga já se casou - não, não foi comigo - e a Norah Jones tem feito o que pode para apagar a estrita imagem de carinha laroca que faz jazz para burguês adormecer. Percebe-se que pretende ganhar a atenção dos melómanos, ela que já tem a do grande público e respectiva crítica (só em Grammys já vai em 12). Nesse sentido, o quinto disco Little Broken Hearts, nas lojas há poucos dias, é o maior passo rumo ao reconhecimento desse tal público mais exigente. Verdade seja dita que a garota de 33 anos a caminho dos 18 também colaborou com as pessoas certas: Brian "Danger Mouse" Burton é o responsável pela produção do novo álbum, por exemplo. No seu melhor, sem ser tremendo, Little Broken Hearts deixa água na boca. Há aqui um certo tipo de rock a dançar entre vulnerabilidade e mau feitio, dois lados de uma moeda chamada 'perda'. O jazz de restaurante de hotel, esse, ficou à porta. Podemos ouvir Norah Jones dizer à 'Miriam' que a vai matar por amor, o que no caso é dizer que não lida bem com a 'dor de corno'. É um dos melhores temas do disco e encerra com a simpática estrofe,

You know you done me wrong
I’m gonna smile when
I take your life
Mmm, mmm, mmm.

Gosto também muito da faixa cinco, 'Take it Back'. Pop fumarenta, exposta, com direito a reverb na voz da Norah Jones e um teclado emprestado aos Coldplay. Agrada-me que a voz da Norah Jones não esteja sempre presente. O remate do disco é muito forte, com a já mencionada 'Miriam' e, por fim, 'All a dream', sendo que esta foi a primeira música do novo disco que ouvi. Tem ali uns segundos arrasadores, cortesia de um violino. 


Claro que vamos sempre dar ao mesmo, à voz meiga, um pouco aborrecida, da Norah. Cante o que cantar parece que nunca se passa nada com ela. Mas as conquistas da filha do Ravi Shankar estão aí para serem aferidas, na certeza porém de que este post só existe porque não resisti à tentação de mostrar a soberba capa do disco, inspirada no poster do filme Mudhoney (1965), de Russ Meyer.

2 comentários:

peter disse...

Também curti à brava esta nova incursão por novos caminhos. Muito bom.

Rui Coelho disse...

fresh norah!