Já a frio, e porque massa crítica é coisa que nunca me faltará, a primeira coisa que tenho a fazer é criticar aquele que sempre defendi enquanto treinador e de quem sempre me ri enquanto figura do futebol, um barrasco que anima um universo de falsas modéstias, que faz falta. Não sei se o Jesus quer concretizar no Sporting o sonho de ganhar a Liga dos Campeões, mas sei que actualmente a melhor equipa que ele tem foi a que jogou bem e perdeu mal no Santiago Bernabéu, não a que jogou mal e perdeu bem em Vila do Conde.
Alguma coisa mudou naquela cabecinha pensadora, e, se assim foi, estamos mal. O homem tem é de meter no campeonato os melhores, porra. Acho que isto não tem discussão possível.
Este parece-me o primeiro erro do Jesus, virar o bico ao prego e dar prioridade à prova secundária. O segundo está nas opções tomadas no domingo, e entronca no discurso fanfarrão da véspera.
A ideia que passa é que o Jesus pensou que qualquer combinação de jogadores servia para ganhar, uma vez que o treinador era ele. Fosse em Vila do Conde ou em Sarilhos Pequenos. O que nos meteu em sarilhos grandes.
Mesmo mudando quatro peças, era possível ter uma equipa mais bem preparada para ganhar ao Rio Ave. Tem de haver equilíbrio. Não houve.
Ao lançar em conjunto os dois laterais mais ofensivos (Schelotto e Bruno César), os dois extremos mais avançados (Joel Campbell e Gelson Martins) e dois avançados que não defendem (Alan Ruiz e André), o Jesus boicotou o próprio modelo de jogo, que vive da capacidade de pressionar colectivamente e roubar a bola logo no meio campo adversário. Não vi o jogo, mas entretanto já espreitei o resumo e é fácil de notar que nos três golos do Rio Ave há jogadores deles que vão por ali fora sem que alguém lhes faça frente. Neste ponto, miserável a postura do Campbell, que não me parece capaz de jogar neste modelo como o médio ala inteligente e solidário que o mesmo pede.
Só Adrien e William para correr atrás dos outros não chega, ainda por cima depois do esforço da dupla em Madrid. Tinha tudo para dar errado. O Rio Ave soube tirar partido do adormecimento do Sporting quando saía para o ataque e tem a capacidade que falta a outras equipas de aproveitar os espaços da melhor maneira. Depois, primou por um índice de eficácia que, por exemplo, teria dado ao Braga a liderança do campeonato, tal a quantidade de golos cantados que falhou na Luz, um cenário idêntico ao da Supertaça.
A segunda casca de banana está já ali
De maneira que demos o primeiro tiro no pé à quinta jornada, o que ficou ainda mais exposto devido à vitória do Benfica. Perdemos o primeiro lugar, cuja relevância em Setembro passou a ser indiscutível, do dia para a noite. E agora? Agora é despachar o Estoril e abordar com juízo o próximo jogo da Champions, a meio da semana, com os polacos, de maneira a que na visita que se segue, a Guimarães, tenhamos a melhor equipa, na melhor das formas. Tudo com equilíbrio, se não for pedir muito.
Ainda sobre o Jesus, insisto: gosto muito dele enquanto treinador de futebol, acho-o o melhor treinador que poderíamos aspirar a ter. Mas gosto interminavelmente mais do Sporting. Por isso, menos conversa, menos bazófia, mais e melhor trabalho, que aqui não se dá carta branca a ninguém. Vá.
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