"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars." J. Kerouac
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Sobre diamantes e loucura
Capicua: foi há 33 anos que o David Gilmour lançou a grande dúvida do nosso tempo ao Syd Barrett, a partir de um rabisco do Roger Waters:
“... did you exchange
a walk on part in the war
for a lead role in a cage?”
Eu já. (ferida fechada).
sábado, 25 de outubro de 2008
GêPê fez de Chico
Assumo: pode ser uma fixação. Aquilo de ser aluado - atitude, fala e gestos sem ponta de ligação num ébrio reformado, mas ainda afiadíssimo na reflexão; talvez não me importasse de ser assim aos 38 anos. Se calhar já tenho 38, ou tive, ontem. Percebi a tempo de mudar de ideias, uma vez que já pensava em desertar para casa logo após o turno da noite, que uma amiga altamente versada nas artes teóricas da cozinha lusitana fazia anos na noite em que o JP Simões acampava no Music Box, a pedir emprestados os 64 do Chico Buarque. Lema do espectáculo denominado "carioca express" (concerto-homenagem ao músico brasileiro que JP já apresentara na sua Coimbra-natal, em 2001): “Não preciso de ter as cuecas do Chico para me sentir mais próximo da sua obra".
O disfarce assumido, enfim!, o alívio de poder encarnar o mestre por cuja música o GêPê um dia se apaixonou perdidamente, num encantamento que o ultrapassa e frustra – é público -, ali, diante de todos, exposto, é qualquer coisa de baixar braços. Houve os convidados Vitorino e Luanda Cozetti de tinto na mão a cantarolar em dueto “a rita”, houve duas araras sentadas na frente da plateia que se permitiram dançar uma mistura de cha-cha-chá e sevilhanas em temas como "bom conselho" e "com açucar, com afeto", e houve muitas canções bem feitas, “estupidamente bem feitas”, entoadas pelo fumador mais rápido do Oeste, o GêPê de sempre - aquele sacana que procuramos para nos entreter fora de horas com o seu fogo simultaneamente cerrado e descomprometido sob as mentalidades de penico. É a segunda vez que o persigo por Lisboa em menos de três meses. Achei-o mais magro.
Alinhamento aldrabado na omissão e na ordem:
Bem Querer
Eu te Amo
A Rita (Vitorino e Luanda, com JP a chocalhar uma caixa de tridente)
Samba e Amor
Com açúcar, Com afeto
Bom Conselho
Morena dos olhos d’Água
Gota d’Água
Você não entende nada/Cotidi
Vai Levando
Cotidiano
Doze Anos
Essa Moça Tá Diferente.
(texto publicado na manhã seguinte ao concerto, tendo dormido duas horas na medida em que combinei às 10h na minha rua, com um amigo, para ir jogar à bola, e apareci às 09h).
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Sonny Rollins: O génio que também deverá ter fornicado numa jaula de leões congoleses
De prodígios auto-destrutivos está o paraíso cheio. Bud Powell, Chet Baker, Charlie Parker, Dexter Gordon, Sonny Stitt: todos lendas do jazz, de alguma forma capazes de manter uma certa aura sagrada em seu redor, nascidos nos loucos anos 20 e maiores do que o seu tempo num - vá - banho celestial de substâncias psicotrópicas.
Fazemos o elogio deles nas publicações especializadas, nas conversas de café, entre copos, nos bares, nos blogues, desde e para sempre; como se génio e junkie andassem de mão dada como causa e respectivo efeito. Nada contra: a maioria dos músicos que citei até são meus amigos, oiço-os diariamente e isso faz-me bem à saúde. Mas há mais para contar: muitos deverão ser os talentos do jazz não erguidos a um estatuto talvez merecido (o Miles Davis não conta); nomes que, ao contrário de outros, deixaram de merecer novos significados devido à sua viagem pessoal pouco publicável.
O saxofonista na imagem, naturalmente absorto numa jam que envergonha a pauta diante de si, não é um desses génios lamentavelmente esquecidos que nunca fornicou com a mãe da namorada numa jaula de leões congoleses (e foi fotografado). Prometo não baixar a guarda. Não será, posto isto, pela candura de hábitos que Sonny Rollins é aqui lembrado, e muito menos por se tratar de um talento esquecido no meio, mas antes porque esta lenda de ares distraídos, que nasceu em 1930, sendo contemporânea de todos os músicos citados no primeiro parágrafo e tocado com o Thelonious Monk, Miles Davis e John Coltrane, está viva e recomenda-se.
Exemplo? Sobe ao palco esta terça-feira, 21, e no próximo dia 25 de Outubro, em São Paulo, no brasileiro TIM Festival onde constam igualmente nomes como os Klaxons, The Gossip ou os nossos melhores amigos, Gogol Bordello, e na quinta, 23, no Rio de Janeiro. Chamam-lhe a última lenda viva do jazz (que os 87 sábios anos do Dave Brubeck perdoem, algures, alguém), o que se percebe face ao seu já-mais-de-meio-século de carreira, onde se destaca “Saxophone Colossus” – disco que Rollins inventou em 1956 e que é consensualmente tido com uma das pérolas na história do complexo hard bop. Nunca veio a Portugal. Ainda vamos a tempo.
Curtam o bicho: mestre no género do grande improviso, que ao longo da sua longa carreira teve o respeito suficiente pelos seus fãs para investir em dois períodos sabáticos, após os quais voltou para se reinventar (Ave, Zach Condon!).
sábado, 18 de outubro de 2008
Um ano deste Castelo na Escócia
Neste dia tão refrescante, em que pela primeira vez consigo festejar um aniversário de qualquer coisa em que me tenha razoavelmente envolvido, deixo um especial agradecimento ao gang de pombos que ontem despejou uma quantidade industrial de merda no meu casaco preferido, quando me dirigia para o trabalho. Coincidência ou não, o certinho é que tinha enfiado os braços nele porque combinara ir com pessoal da empresa ao Lux, quando saíssemos já fora de horas, e daí em diante tudo mudou de sítio. Da ideia de se abanar o esqueleto passou-se para o copo no bairro onde, aí sim, faríamos um grande festim, mas isso também perdeu força, resultando que marchei directo para casa. Só para que saibam o que para aí anda. Para festejar a preceito estes 12 meses de independência escocesa, nada como voltar à genial ideia que tive no primeiro post, publicado a 17 de Outubro de 2007, em que a sugestão de acompanhamento musical ao texto então publicado chegava depois deste ser lido - (L)
Sugestão de acompanhamento musical:
"I've got ham, but i'm not a hamster" - The Killers
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Este filme auto-destruir-se-á dentro de 5, 4..
"Osbourne Cox? I thought you might be worried. about the security. of your shit."
Já passou um dia, e ainda não percebi se o novo dos Coen, "Burn After Reading"...
a) é parvo, mas só aos solavancos;
b) faz do Wes Anderson o grande mestre das bolas de berlim sem açúcar;
c) explica por a+b aquilo da Mona Lisa;
d) é tudo o que vem nas hipóteses anteriores, selado numa caixa e aberto depois de chocalhado efusivamente.
- em todo o caso, sou o mais recente fã do Brad Pitt como personal trainer, qualquer coisa como um feliz cruzamento entre o Johnny Bravo, o Macaulay Culkin e o João Baião.
Já passou um dia, e ainda não percebi se o novo dos Coen, "Burn After Reading"...
a) é parvo, mas só aos solavancos;
b) faz do Wes Anderson o grande mestre das bolas de berlim sem açúcar;
c) explica por a+b aquilo da Mona Lisa;
d) é tudo o que vem nas hipóteses anteriores, selado numa caixa e aberto depois de chocalhado efusivamente.
- em todo o caso, sou o mais recente fã do Brad Pitt como personal trainer, qualquer coisa como um feliz cruzamento entre o Johnny Bravo, o Macaulay Culkin e o João Baião.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
40
"It annoys me how pretty my voice is... how polite it can sound when perhaps what i'm singing is deeply acidic." Thom Yorke
Faz hoje quarenta anos que a pálpebra esquerda do Thom Yorke abriu menos do que era suposto. Quarenta anos de uma voz naturalmente irritante, entre o tenor e o falsete, que nos arromba num jorro descontrolado de lamentos fantasmagóricos a vestir letras com mais dúvidas que certezas. Quarenta anos que pensaram discos à frente dos Radiohead - a carreira a solo produziu o solitário e moderadamente aclamado "The Eraser" (2006) - que são obras da vida de muito navegador de águas imprecisas, como "The Bends" (1995) ou "OK Computer" (1997); desarmante benção colectiva ao rock como expressão artística sem fronteiras, ou preconceitos de género.
Hoje, ao abrir o email, recebi o regresso dos Depeche Mode a Portugal, mais precisamente na varanda nortenha do SBSR. Agora é esconder-me ali nos lençóis e esperar que, amanhã ou depois, ao acordar, leve em cheio com o retorno de outro grupo de bifes: um que é liderado por alguém que hoje – fácil se torna imaginá-lo – terá bebido tanto que se arrastou oficial e directamente do sexto para o oitavo dia de Outubro.
Faz hoje quarenta anos que a pálpebra esquerda do Thom Yorke abriu menos do que era suposto. Quarenta anos de uma voz naturalmente irritante, entre o tenor e o falsete, que nos arromba num jorro descontrolado de lamentos fantasmagóricos a vestir letras com mais dúvidas que certezas. Quarenta anos que pensaram discos à frente dos Radiohead - a carreira a solo produziu o solitário e moderadamente aclamado "The Eraser" (2006) - que são obras da vida de muito navegador de águas imprecisas, como "The Bends" (1995) ou "OK Computer" (1997); desarmante benção colectiva ao rock como expressão artística sem fronteiras, ou preconceitos de género.
Hoje, ao abrir o email, recebi o regresso dos Depeche Mode a Portugal, mais precisamente na varanda nortenha do SBSR. Agora é esconder-me ali nos lençóis e esperar que, amanhã ou depois, ao acordar, leve em cheio com o retorno de outro grupo de bifes: um que é liderado por alguém que hoje – fácil se torna imaginá-lo – terá bebido tanto que se arrastou oficial e directamente do sexto para o oitavo dia de Outubro.
Subscrever:
Mensagens (Atom)