"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars." J. Kerouac
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Vou contar-vos uma história de amor
Para quem desconhece, a melosa é uma das melhores coisas que o Algarve algarvio tem para oferecer, naturalmente a seguir ao convívio com a minha avó, a Vivi. Juntar as duas entre dois dedos de conversa na digestão de uma refeição foi, até ao último dia 10, um dos meus objectivos mais dignos de vida por realizar. Concretizei-o, entretanto, por ocasião do jantar de aniversário do meu irmão. Como a conheço, a melosa nasceu na serra de Monchique, sabe bem que se farta, bate que é bonito e, last but not least, deita por terra a mais teimosa das constipações. A preparação é simples: meio litro de água no fogo azul com 500/600 gramas de mel, uma casca de limão e um pau de canela. Quando a mistura ferver contem até mil, sem grandes pressas. Arrefecido o combinado, juntem-lhe meio litro de aguardente de medronho e depressa perceberão o que é bom - estupidamente bom! - para a tosse. Um cálice é óptimo. Dois soa e sabe melhor. Mas a minha avó, que, sabe-se lá como, nasceu ali para os lados de Olhão há mais de 82 anos e não fazia a mais pequena ideia do que vinha a ser isso da melosa, virou três depois de se ter encantado com o primeiro - este a pedido da família Coelho. Só pela excitação que lhe causou a primeira investida, a Vivi derrubou pela mesa, ao segundo trago, o que dele sobrava. 'Ai que pena que tive, isto soube-me tão bem', deixou escapar, desolada, ao ver o líquido espalhado na toalha. Refeita do percalço, que o mundo não acabava ali, só parou de virar copinhos quando o dono do restaurante fugiu com a (já levezinha) garrafa para dentro da copa, assustado com a sede dos Coelhos, a quem vinha oferecendo cálices de quando em quando, o que, pareceu-nos, só lhe ficou bem. Até se deitar, pela primeira vez em muito tempo, a minha avó esqueceu-se das dores na coluna que todos os dias a curvam um bocadinho mais. Dormiu bem, acordou melhor e prometemos-lhe a garrafa 'com aquela coisa muito boa' que pediu com o sorriso bobo que tinha quando a coluna não a chateava. O prometido é devido.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário