sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Volta ao Minho, dia um

Vai para cima de uma dezena de anos que Espinho é passagem. Longe - tão longe - vão os Verões passados no pátio de um apartamento mesmo em frente ao liceu, no topo da cidade, que é uma colina grande e urbanizada, e as idas e vindas a pé com o meu primo Pedro até à praia e ao gélido mar de Espinho, eu e o meu primo Pedro a fazer disparates a caminho da praia de Espinho com o Guilherme, que jogava hóquei em patins, e nunca com a Joana, que me deu 100 escudos em troca de um beijo. A minha primeira experiência como prostituto gerou trauma cá dentro: a Joana não tinha culpa, mas era muito feia. Fins mais altos, porém, se levantaram - a vitrina de uma pastelaria ali perto da casa do meu primo. Com o estômago a sofrer e a hora de jantar distante, fiz o sacrifício. Teria uns dez anos. Nunca mais fui o mesmo. Agora Espinho é só passagem. E de comboio, como mais gosto. Foi uma das últimas cidades por onde passei no meu sortudo roteiro de quinta-feira 13, quando varri o país num dia. Às 12:00 no Algarve; às 20:00 no Minho. De carro, primeiro, entre Portimão e Lisboa. De comboio, depois, entre a capital e o Porto, onde me esperava o Ricardo, que depois me levou até à casa onde cresceu, em Esposende. Um ano depois voltei à casa da mãe do Ricardo, aos cozinhados da mãe do Ricardo, à simpatia da mãe do Ricardo. E à família da irmã da mãe do Ricardo, que, nem de propósito, vive na casa ao lado. Localizada em S. Paio de Antas, concelho de Esposende, a casa da mãe do Ricardo era uma coisa antes de ser construída a auto-estrada que lhe passa por cima. Vá, um bocadinho ao lado. Agora é outra. Jantando no terraço ouvíamos de vez em quando o chiar das guias sonoras, aquelas linhas brancas sem fim que nos dizem, Abre a pestana, quando esta teima em fechar. Estará tudo maluco?, pensei. Tanta chiadeira junta, tudo no mesmo local? Explicação: os amigos da família passam ali para se meterem com eles, que é o mesmo que dizer Olá na linguagem muito própria dos carros. Niiioounnnn. Nioun para ti também. Depois de metermos a conversa em dia sobre um arroz de peixe empurrado a vinho verde fresco, fresquíssimo - só melhora - e de ter conhecido o Quique, uma caturra que canta e encanta, segundo me tentou convencer o clã Saleiro, não tendo eu porém ouvido mais do que o esganiçar de cria de gaivota, perto do que um amigo meu entoou há dias ao arriscar o Stayin' Alive dos Bee Gees no karaoke do Boogie Bar, esse trampolim para a fama reservado aos grandes talentos. Fomos a Esposende beber um copo. Espaço escolhido: Pé no Rio - ou Penúrio, como a proximidade entre letras sugeria, ou Penúrias, como depressa lhe baptizei. O Penúrias tem todo o aparato de ser o bar mais bonitinho da zona, com música ao vivo no interior e uma esplanada muito moderna, com wireless e puffs. Mas era lá dentro que tudo se passava. Liderado por uma vocalista de nome Mónica Coelho, um quinteto revisitava projectos como Bryan Adams, Pink Floyd e até deu uma perna num fadinho. À segunda caipirinha - três euros, esperava outra multa, gostei - ouvi a cantora chamar um casal à pista de dança e dedicar-lhes uma espanholada qualquer. De não pouco espanto foi vê-los a dançar como verdadeiros profissionais. Provavelmente porque o são, pensámos, depois de os ver junto de outros casais que tais a ensaiar novíssimos passos de dança a cada música seguinte. Tudo sem falhas. Um longo bocejo. Era parte do staff. E aplaudiam em apoteose cada solo de um músico. E perfaziam entre si quase metade da lotação naquela noite. E dois terços da festa. E nós com uma dúvida: seremos os únicos a perceber isto? Não regressámos a casa sem que antes eu tivesse apanhado a grande desilusão da viagem. A árvore no meio da estrada. Fotografei-a em 2008 na certeza de que estava perante um monumento de rara beleza. A natureza a ser quem mais ordena. Agora, caput. Menos mau que deixaram as raízes, e a estrada já está lentamente a empinar. Entretanto, aviso do Ricardo: amanhã praia. É para levantar cedo. Cedo?, desesperei, Mas, mas, cedo até que ponto?

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